A pandemia tem sido, há quase um ano, sinônimo de solidão e incerteza para tantos ao redor do mundo. O cenário horripilantemente vazio faz com que inseguranças e medos se tornem cada vez mais fortes, transformando nossos demônios nos únicos companheiros que estão determinados a não nos deixar.

Quem explora essa jornada com maestria é RØKR, trabalho solo de Roberto Kramer, produtor musical de Recife que atualmente reside em São Paulo, e que trouxe a cidade, antes pulsante, e agora vazia, como protagonista dos cenários apresentados nas faixas de seu próximo EP Uz, que chega no dia 9 de março, via Balaclava Records, e que conversa com o Mad Sound sobre o lançamento.

Para isso, com o primeiro single do projeto, “Noir”, o instrumental eletrônico convida o ouvinte a refletir sobre seus demônios junto com Roberto, em um trajeto reforçado pelo fantástico clipe dirigido por Gabriel N. Andreolli e Dani San, que mostra o artista percorrendo pela cidade, agora sem vida, pensando em deixá-la. O que ele não percebe é a constante presença de um fantasma que representa sua história na capital.

Na segunda prévia, “JAMZ“, o lo-fi toma conta da faixa, que apesar de calma, se trata de uma tempestade perfeita, uma fuga de algo. Os visuais, novamente, elevam a canção para outro patamar, fazendo com que a mente confusa e na beira da sanidade da protagonista, interpretada por Julia Cortez, envolva o telespectador.

“Acredito que a música tenha a simplicidade de um dia em que você passa assistindo TV ou lendo, sem obrigações, porém na companhia de seus demônios muitas vezes”, ele compartilha. “Nicolas Camargo, diretor do vídeo, conseguiu sumarizar muito bem essa intenção.”

Ambas produções visuais possuem, além das temáticas de fuga de nossos próprios demônios, um final que se assemelha: diante o caos, a esperança parece ainda ser a última que morre. “Sou a favor de ciclos que se fecham. Ao meu ver, um fim contemplativo ou esperançoso traz a sensação de um ciclo realizado. Por sorte ou destino, o final dos clipes segue essa tendência”, conta Roberto. “Já o EP Uz é um ciclo de 4 músicas que talvez não necessariamente se conectem tanto entre si – a ideia nunca foi produzir um disco conceitual – porém ouvindo atentamente, consigo sentir a satisfação de um ciclo completo.”

No EP, o ouvinte pode esperar uma fusão de eletrônica, downtempo e lo-fi, tudo produzido pelo próprio artista em seu home studio em São Paulo, e que compartilha com o mundo o antídoto mais poderoso diante um horizonte sem fim em um mundo que cada vez mais está de cabeça para baixo, “O maior desafio é levantar da cama todos os dias e se sentir útil nesse mundo cão, e a única coisa que posso garantir é que a música é meu melhor remédio.”

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