Ciclos podem ter, ao mesmo, conotações negativas ou positivas para as pessoas. Pensar que o que está destinado para ser nosso, irá voltar em uma espécie de círculo perfeito, mas também saber que existem ciclos viciosos perigosos que surgem durente a vida.

Para Luiz Libardo, líder da banda catarinense Stall The Orange, o círculo parece ter tido definições e momentos contrastantes. Tal processo circular está evidente no EP It’s a Chromatic Circle, But, projeto lançado via Nuzzy Records e eleito como um dos melhores do ano pelos asssinantes da Revista Balaclava, que levou anos para ser concebido por completo devido à intensos períodos de síndrome de pânico que Luiz enfrentou. A experiência fez sua visão do mundo ser transformada e questionada, resultando nas faixas do EP, mas sendo impedidas de serem lançadas pela autosabotagem, que com a ajuda de amigos, colaboradores, inspirações no mundo musical e, é claro, ajuda profissional, ajudaram o artista a lançar recentemente seu EP de estreia para a felicidade dele e certamente, também da nossa – confira abaixo a conversa que o Mad Sound teve com o Stall The Orange.

Mad Sound: Como foi embarcar no processo criativo do EP e do álbum depois de ter o síndrome de pânico tão presente em sua vida? 

Luiz Libardo: Na verdade, as músicas que compõem esse EP e praticamente todas as demais que estarão no álbum, foram escritas durante esse período. O que evidentemente fez com que um bom tempo se passasse até eu desistir de sabotar elas e conseguir de fato começar a lançar esse projeto. Mas esse sentimento é uma coisa que parece que nunca passa de verdade, sabe? Foram anos bem difíceis, mas ao mesmo tempo em que as músicas são um reflexo disso, elas acabaram sendo importantíssimas no processo, deixando o tempo ficar cada vez menos difícil. Não que agora eu considere muito fácil, mas é disso que esses sons falam, são os meios.

MS: Achei muito interessante um certo “quebra-cabeça” com o nome do EP que irá se ligar com o disco. Como foi o processo e qual foi a intenção da organização para o que entraria no projeto e para o álbum? 

LL: Bom, essa é outra ideia que surgiu a um bom tempo atrás, quando eu sequer tinha terminado de compor todas as músicas, e que eu acabei desistindo nem sei porque. It’s a Chromatic Circle, But Eventually Colours are Distorted que é a junção de todos os nomes dos lançamentos até o lançamento do álbum, é uma metáfora para a auto sabotagem e ansiedade. Onde por mais que tudo esteja tudo bem, por mais que o círculo cromático esteja lá, conseguimos enxergar as cores distorcidas, a realidade como ela não é, o ego. E sofremos por isso, pois o sofrimento é real.

Foi quando algum tempo depois o The Neighbourhood lançou seu terceiro álbum, chamado Hard To Imagine The Neighbourhood Ever Changing, em alguns EPs que carregavam pedaços desta frase, exatamente como eu tinha idealizado fazer, que eu me peguei pensando “porque não resgatar aquela ideia? Ela nunca deixou de fazer sentido”. Me dei conta que a sabotagem já tinha me atingido em cheio. O processo de organizar e pensar esse lançamento me fez muito bem, tanto como introspecção e um resgate de ideais, quanto o próprio trabalho em si. Quando foi decidido que faríamos desta forma, a escolha das canções pra mim era óbvia. “Don Drp” tinha que ser a primeira faixa desse EP, por tudo que ela significa pra mim, por ter sido a primeira música que compus, não que eu não tenha aprimorado ela depois, até porque música pronta é música lançada, antes disso tudo pode (risos). O restante das músicas e a disposição delas no álbum foi algo que quase sempre esteve definido na minha cabeça. Espero que quando lançarmos esse material, isso faça tanto sentido pra quem for ouvir quanto faz pra mim.

MS: Como foi gravar o clipe de “Don Drp” e quais as ideias por trás da criação do vídeo? 

LL: Quando eu compus esse álbum, jamais pensei que teríamos um material visual tão bonito. Tudo isso graças ao Victor Michelato, alguém que eu tenho muito apreço. Ele quem me puxou pelo braço em uma recaída e fez acontecer. Foram dias incríveis, cansativos, nunca tinha tido uma experiência assim, até pelo fato de eu não ter um apreço muito grande por estar em frente das câmeras. A ideia do clipe começou por eu estar maravilhado pela simplicidade do apelo visual do álbum Punisher da Phoebe Bridgers, sabe? – Ótimo álbum, inclusive! Junto de referências como Tyler The Creator, The Cure e fotos aleatórias de um instagram, começamos a conversar e montar um esboço do que iríamos fazer.

Eu sabia que queria imagens com uma câmera mais old school e cenas com fundo laranja, mas ele quem apareceu com toda a ideia da transmissão da câmera para a TV, ele têm a visão, sabe? Não posso deixar de mencionar a Laura Marchi (ou carinhosamente, Laurinha), que é uma gênia e teve um papel importantíssimo em toda a estética e design, tanto do clipe, quanto das artes e do lançamento como um todo. Toda a criação e esse resultado lindo é crédito dessa cooperação entre nós três, e pode ter certeza que voltaremos a trabalhar juntos nos próximos projetos.

MS: O som do EP percorre de uma maneira muito cativante referências desde os anos 80 até os 00’s. Quais foram os nomes que certamente mais influenciaram o processo criativo do projeto, e quais novos nomes estão marcando presença nos seus mais ouvidos?

LL: Foi um processo muito divertido, muito demorado também – cerca de dois anos até o álbum ficar pronto. Apesar de chegar ao estúdio com as faixas pré produzidas, tive muita liberdade para experimentar e pensar na sonoridade de cada instrumento. É evidente que as bandas de post-punk e new-wave dos anos 80 foram e são a maior influência, aquele som que apesar de irmos longe, sempre voltamos, sabe? The Queen is Dead do The Smiths e o Disintegration do The Cure são sem dúvidas as maiores influências desse disco. Mas estão longe de serem as únicas, já que o Indie 10’s e até mesmo o trap são peças bastante importantes da sonoridade da Stö, em nomes como Peach Pit, Bon Iver, The 1975, Marrakesh e Post Malone.

Agora, sobre o que eu mais ando ouvindo nos últimos dias? Sou obrigado a voltar lá para o começo da conversa, eu estou viciadíssimo no Punisher da Phoebe Bridgers, tipo MESMO. Que álbum bonito, do começo ao fim. Não posso negar que o recém lançado Plastic Hearts da Miley [Cyrus] veio forte na minha playlist também. Além do Live vol. 1 do Parcels, uma experiência audiovisual bem interessante, vale a pena conferir e dançar junto.

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