Texto por Stephanie Souza

Com mais de 20 anos de estrada, o quarteto Forfun, formado por Danilo Cutrim (vocal e guitarra), Rodrigo Costa (baixo e vocal), Vitor Isensee (teclado e vocal) e Nicolas Christ (bateria), voltou à São Paulo em noite que, assim como em sua despedida no longínquo ano de 2015, deixou um gostinho de quero mais. A turnê, de nome NÓS, não tem intenção de fomentar um retorno da banda, apenas festeja sua passagem terrestre, tendo como objetivo encerrar sua história de forma celebrativa. Ao todo, foram 44 músicas na setlist, que percorreu (quase) toda a carreira da banda.

Esse foi o maior show da trajetória do grupo: com ingressos esgotados, cerca de 45 mil pessoas foram ao Allianz Parque para presenciar a história sendo feita. A abertura ficou por conta das bandas Menores Atos e Rancore, já conhecidas entre os fãs de Forfun.

Menores Atos, conterrâneos de Forfun, entraram no palco pontualmente, recepcionados por um Allianz ainda vazio mas repleto de fãs da banda, que, além de chegarem cedo para curtir o evento todo, não decepcionaram e cantaram todas as músicas com muito carinho. Logo depois, também pontual, o Rancore subiu ao palco debaixo de chuva fina. Uma enorme roda se abriu aos gritos do cântico “LIBERTA, RANCORE”, bem conhecido entre os fãs. A banda tocou seu novo single “Pelejar”, que já estava na ponta da língua de seus fiéis seguidores. Rancore colocou gás no início do que seria uma noite inesquecível. 

20h30. As luzes se apagaram e o telão se acendeu. Nele, um vídeo emocionante perpassou toda a trajetória do Forfun, com fotos e gravações pessoais de momentos importantes do grupo (coisa que aconteceria em mais alguns momentos da noite, reacendendo o sentimento de nostalgia). Ao redor do estádio, os gritos eram ensurdecedores e muitos olhos brilhavam de alegria. Uma grande roda já estava aberta e, nos primeiros riffs de “Hidropônica”, o frenesi começava: 45 mil pessoas pulavam e cantavam em uma explosão de euforia. “Good Trip” veio em seguida, mantendo a energia em pico e fazendo os corpos se esquentarem, aliviando o frio que fazia por conta da chuva (que ainda iria piorar muito). Os gritos, já conhecidos, de serem a melhor banda do Brasil estavam apenas começando e não pararam até o fim da noite. 

“Feliz acho que não é nem a palavra. A gente espera que vocês dancem muito hoje, que vocês se emocionem, chorem, cantem muito alto, saiam daqui sem voz. Mas a gente só vai administrar, só vai conduzir. Vocês é quem vão fazer esse show hoje.” disse Danilo, ao fim da música. O público pareceu entender bem o recado. 

“Dia do Alívio”, “Suave” e “O Viajante” se seguiram, marcando a abertura de músicas escolhidas do Polisenso (2008), álbum que iniciou o processo da mudança sonora do Forfun. Em “Suave”, Cutrim ainda brincou cantando um trecho de “Chove, Chuva” de Jorge Ben Jor. Aliás, a chuva só piorava, o que ainda assim não impediu os presentes de se empurrarem animosamente em grandes rodas. Afinal, esperaram 9 anos por esse momento. 

O saxofonista Lelei Gracindo brilhou em um solo perfeitamente executado, seguido dos versos incansáveis de Isensee, que cita desde Mandela a Milton Nascimento e Lévi-Strauss em “Quando a Alma Transborda”. Em seguida tivemos ”Largo dos Leões”, que homenageia o Carnaval de rua do Rio de Janeiro, e “Sol ou Chuva”, que foi gritada a plenos pulmões por todo o estádio que, ironicamente, cantava “faça sol ou chuva um lindo dia vai nascer” embaixo de uma chuva já torrencial. 

“Cigarras” e “Minha Jóia” acalmavam o clima e o que se via não eram mais grandes rodas, mas amigos e casais se abraçando em um momento bastante sensível e singular. “Aí Sim”, “Dissolver e Recompor” e “Cósmica” vieram a seguir.

Em “Morada” o estádio tomou outra forma: flashes de celulares se acenderam por todo o espaço, criando um clima inigualável para um dos maiores sucessos do Forfun, que propõe uma viagem introspectiva e reflexiva sobre a importância do autoconhecimento e crescimento pessoal ao cantar “faço de mim casa de sentimentos bons, onde a má fé não faz morada e a maldade não se cria”. Danilo Cutrim disse anteriormente que esse show seria do público e aqui todos fizeram questão de expor que entenderam o recado ao cantar em uníssono. No telão, imagens psicodélicas acompanhavam as canções como numa dança. 

As próximas músicas foram apresentadas com participações pra lá de especiais. Mateus Asato, guitarrista de Bruno Mars e Jessie J, subiu ao palco em “Valer a Pena”, não tocada até o momento nessa turnê. O público e a banda aplaudiram Asato, que mostrou habilidades solando duas vezes, parecendo se divertir muito no palco. Os próximos convidados foram ovacionados: Thiago Castanho e André Pinguim, músicos do Charlie Brown Jr. “O Universo a Nosso Favor”, de 2007, feat do CBJR com o Forfun, viu a luz do palco depois de muitos anos e o público foi à loucura em altos níveis de insanidade coletiva. “Só os Loucos Sabem” foi tocada em seguida, em homenagem a Chorão

E aí chegamos na parte mais intimista do show. Numa espécie de roda de violão, Forfun fez um medley de músicas nostálgicas, algumas que, inclusive, nunca foram regulares em suas setlists. “4 A.M”, “Mentalmorfose”, “Melhor Bodyboarder da sua Rua”, “Eremita Moderno”, “Vou em Frente” e  “Minha Formatura” foram algumas das escolhidas para a sessão acústica. Também sobrou espaço para homenagear a música paulista: a banda tocou trechos de Fat Family, Sampa Crew, Rita Lee e até Racionais

Os violões foram retirados e Cutrim disse que era a hora de voltar para a porradaria. Dito e feito: foi a vez de “Sigo o Som”, onde grandes rodas se abriram novamente enquanto homens e mulheres se empurravam de forma apoteótica. “Gruvi Quântico” deu continuidade a loucura enquanto “Tropicália Digital”, “Cosmic Jesus”, “Alegria Compartilhada” e “Pra Sempre” acalmavam o show para a catarse que viria no encore. 

As últimas cinco canções do show foram de extrema precisão: “Constelação Karina”, “Seu Namorado é um Cuzão”, Cara Esperto”, “Costa Verde” e “História de Verão” encerraram o show com um público totalmente grato por vivenciarem esse reencontro. Ao fim, os sorrisos iam de orelha a orelha e as quase 3 horas de show pareciam ter passado num minuto.

Aos cânticos de “puta que pariu, é a melhor banda do Brasil” o Forfun se despediu do palco. 9 anos após seu fim, a banda mostra como sua mensagem ainda é ouvida e repassada e como a música é importante para construção de quem somos. Muita coisa mudou nesse tempo, mas o público deixou claro que sempre haverá espaço para o Forfun em suas vidas. Não apenas a performance atual fez jus ao passado como ela também mostrou uma banda experiente com controle dinâmico e a mesma energia de anos atrás. 
A euforia passava, mas os sorrisos permaneciam, amigos se abraçavam, faziam fotos e choravam em um misto de sentimentos que apenas um bom reencontro poderia proporcionar. Afinal, alegria compartilhada é alegria redobrada

Confira a galeria de fotos tiradas pelo nosso colaborador Thiago Vidal:

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