No fim de janeiro, o primeiro álbum da cantora Mitski completou 10 anos. Lush, lançado em 2012, foi lançado como o projeto do primeiro ano da artista no Purchase College, onde ela estudava composição de estúdio e foi o início de um caminho totalmente novo para centenas de fãs de música indie cantada por mulheres, anos e anos mais tarde.

É extremamente difícil mensurar o impacto que a música de Mitsuki Laycock teve nos últimos anos. Claro que, ao observar a página da artista no Spotify, dá para ver um aumento expressivo de plays por música próximo a 2018, com o álbum Be the Cowboy. Mas emocionalmente? Não. Não há método qualitativo para isso, mas obviamente houve um aumento orgânico de fãs.

Talvez, numa análise mais profunda, seja possível entender todos os motivos para o sucesso de Mitski, mas um deles é muito claro: as letras extremamente poéticas, intrinsecamente femininas (de seu lado bom e do ruim) e altamente relacionáveis no dia a dia de qualquer um.

Cada uma de suas músicas são distintas e únicas. Se a melodia é otimista e avassaladora ou lenta e silenciosa, sua voz incrivelmente expressiva sempre ocupa o centro do palco.

Apesar de Lush ser o primeiro trabalho oficial de Mitski, é impressionante como há um equilíbrio perfeito entre algo mais “cru” e refinado, acompanhando a temática de beleza, auto estima e relacionamentos. A parte lírica usa exemplos simples, com poucas comparações que detalham o ambiente. Em Lush, é o suficiente saber se o sol vai nascer em breve ou se é o horário do crepúsculo.

Essa pontuação é importante, pois nos álbuns seguintes, Mitski cobre suas letras de paisagens, ângulos de luz e cores, de forma que o ambiente é facilmente pintado e preso no imaginário do ouvinte. Mas aqui, no primeiro álbum, em 2012, é suficiente ouvi-la falar do quarto bagunçado, do barulho dos saltos na rua. É íntimo, é próximo da realidade, é fácil de se conectar.

No fim, esse é um dos pontos mais fortes dela: a beleza na simplicidade. Não precisa de letras extremamente floreadas ou melodias excêntricas.

Mitski afirmou que Lush foi o álbum mais diversificado em termos de estilo, tanto porque foi seu primeiro e as músicas foram escritas em momentos diferentes. “Bag of Bones” é considerada sua primeira canção e foi escrita quando ela tinha 18 anos. 

O tema da auto estima é pego várias vezes no álbum. Em “Liquid Smooth”, Mitski retrata a luta pela validação em uma sociedade superficial que os valoriza apenas por sua beleza. Da mesma forma, “Brand New City” fala sobre se sentir morto e vazio por dentro, mas incapaz de deixar de lado a aparência. A cantora mostra uma luta comum entre escolher validação ou bem-estar pessoal. 

Além disso, há também questões de gênero, com as músicas “Real Men” e “Wife”. Tirando dos títulos, é fácil adivinhar sobre o que é cada música. “Real Men” é sobre o desgosto com a masculinidade tóxica. Ela lida com sua própria necessidade de validação desses homens enquanto comenta a visão problemática da sociedade de comportamentos tradicionalmente masculinos. Ela contrasta isso com “Wife”, com a história de uma dona de casa infértil que sente que não tem propósito porque não pode dar um filho ao marido. Ela não é uma mãe, mas uma esposa sem nome com filhos sem nome que nunca existirão.

Mitski continua explorando relacionamentos tóxicos em “Eric” e “Bag of Bones”. A primeira fala sobre querer controlar demais, pelo medo do abandono. Há uma questão de permitir ser machucada, colocar suas necessidades de lado em prol de não ter que lidar com rejeição. A voz dela fica cada vez mais frenética a partir de seu estado inicial de calma, levando o ouvinte à mesma montanha-russa emocional do narrador. 

“Bag of Bones” aborda um relacionamento sexual que é emocionalmente vazio. As letras de Mitski mostram alguém implorando para ser dispensado, mas no final das contas sendo incapaz de escapar do relacionamento.

Um tema final de “Lush” é o anseio. Em “Abbey”, “Door” e “Pearl Diver”, Mitski comenta sobre nosso comportamento constante de perseguir coisas inatingíveis. “Abbey” e “Door” são semelhantes em ambas as canções, o eu lírico está perseguindo algo desconhecido. Não sabe o que quer, mas continuam procurando. Em “Pearl Diver”, um mergulhador de pérolas que vai para o oceano mergulhar e fica infinitamente em busca de mais e abandona tudo o que tem.

Mitski percorreu um longo caminho desde o lançamento de seu álbum de estreia, e sua música também evoluiu tremendamente. Lush não é seu trabalho mais conhecido, mas é o precedente necessário para entender tudo que ela fez depois. Mitski lançou seu novo álbum, Laurel Hell, no início de fevereiro, poucos dias depois do aniversário de Lush. Confira a resenha de Laurel Hell em breve. 

Tags: