Texto por Joana Söt

Com altas expectativas após dois anos adiando o festival devido a pandemia de covid-19, a edição portuguesa do festival espanhol Primavera Sound mesclou e ganhou uma potência e visibilidade inéditas para a edição do Porto. Com novos palcos e uma área maior que as últimas edições, o festival deixou evidente que o formato “Destinations” veio para ficar.

Já não é notícia nova que em 2022 os festivais de música voltaram com força total. Entretanto, parece haver também uma preocupação em abranger todos os gêneros musicais para o maior número de pessoas possível. Com os três dias de festival esgotados, o NOS Primavera Sound, que tomou lugar no Parque da Cidade, ao lado do mar, surpreendeu quem atendeu às edições passadas pelas plateias completamente lotadas nos shows e muita animação (que quase chegou perto de uma plateia brasileira).

No primeiro dia, 09, os headliners foram os que marcaram a noite: Nick Cave surpreendeu com um show animado, tocando hits de seus álbuns mais antigos até os mais recentes, como Ghosteen e Skeleton Tree. O público, mesclado em diferentes idades, ferveu na intensidade punk-melancólica durante todo o concerto nas mãos de Nick e sua banda, que não deixaram de prestar atenção ao público por um segundo sequer. 

Já no show do Tame Impala, ficou evidente o quanto Kevin Parker chegou ao topo e está a procura de cada vez mais: com um show de luzes e efeitos psicodélicos nos telões, Kevin trouxe a atmosfera “Rushium” para um público eufórico na noite de quinta-feira. Foi um show para se lembrar (em todos os sentidos): tocaram hits e B-sides de Innerspeaker, Lonerism, Currents, e seu último álbum, claro, The Slow Rush.

No mesmo dia apresentaram-se também grandes nomes do indie e shoegaze da nova cena com shows nostálgicos mas eletrizantes: DIIV entregou uma performance que prova o amadurecimento da banda na música com a pegada shoegaze do álbum mais recente da banda, Deceiver, além de comemorarem os 10 anos do álbum Oshin. Sky Ferreira e Kim Gordon foram outros nomes que marcaram o primeiro dia de festival.

Na sexta-feira, 10, o clima do festival já era mais confortável: quem passou perrengues com os ventos vindos do mar na quinta-feira, casacos e cangas eram percebidos em peso no gramado do festival. O som seguiu eclético: Rina Sawayama apresentou-se no palco CUPRA para um público LGBTQIA+ em peso, eletrizado com os visuais e performances de Rina e suas dançarinas ao som de “Dynasty”.

Em seguida, no palco principal NOS, uma multidão se reuniu com um único propósito: Ouvir um shoegaze clássico da banda Slowdive, que depois de se reuniu em 2017, faz shows atuais e transforma as canções uma vez melancólicas em grandes hits dreampop num pôr do sol de milhões no Parque da Cidade. King Krule, Beck e Pavement – a banda mais esperada da noite, colocaram multidões a dançar e relembrar o verdadeiro sentido da música em nossas vidas: diversão e ligação com o mundo e o outro, não importa a origem.

E para quem já não acreditava que podia ficar melhor que isso, foi no domingo, 11), que a coisa realmente pegou fogo no Parquinho: os shows de Gorillaz (recheado de hits e com uma plateia gigantesca), Dinosaur Jr. (que mesmo usando guitarras emprestadas por uma confusão nas bagagens entre voos, entregaram um show eletrizante aos fãs do rock skater anos 90), Pabllo Vittar, e o set eletrônico inusitado e cheio de carisma, ainda que com os pequenos erros de mixagem já vistos em shows passados – facilmente perdoados devido ao humor da canadense Grimes -, marcaram a última noite de festival numa onda só: sorrisos, abraços e muita cantaria rolaram soltos no parque da cidade no último sábado.

Com o fim da temporada de 2022 do festival na Europa, a expectativa para a primeira edição do Primavera Sound em São Paulo é latente: o agora consolidado com um dos maiores festivais de música do mundo não deixa a desejar em absolutamente nada. A curadoria de milhões (que por grandes nomes no line-up como Björk e Arca, já se faz lendária), a produção do evento, e a preocupação em entregar o melhor da experiência musical aos amantes de música e festivais, são completamente garantidos para a edição que acontecerá no segundo semestre de 2022 em São Paulo. Por aqui, mal saímos dessa edição em Porto e já queremos mais.