O dia de sábado não foi um começo animador para a segunda edição da GPWeek. O festival que acontece em São Paulo no mesmo fim de semana que o Grande Prêmio de Fórmula 1 fez uma primeira edição de sucesso em público em 2022, com Twenty One Pilots e The Killers, mesmo com ingressos a preços altos.

Otimista, o evento anunciou dois dias de show na edição de 2023, com Swedish House Mafia e Kendrick Lamar como headliners do sábado e domingo, respectivamente. Insistindo no formato apesar das críticas no ano passado, a organização manteve a divisão de pistas entre Pista, Pista VIP Box e Paddock, com o setor mais próximo do palco custando R$1990 (inteira).

Com ingressos caros e artistas internacionais de porte pequeno (Jaden Hossler) e médio (Machine Gun Kelly e Halsey), o sábado de GPWeek não vendeu ingressos o suficiente. Poucos dias antes do evento, ações envolvendo influencers e universidades privadas distribuíram gratuitamente pares de ingressos para os setores cadeira inferior e superior, mas a quantidade de espaços vazios no Allianz Parque foi gritante ao longo do dia. Apesar da carreira de sucesso no exterior, o Swedish House Mafia não é atração de grande popularidade no Brasil e não conseguiu cumprir com a missão de chamar grandes públicos, como fizeram as atrações principais do ano passado.

Hodari e Jaden Hossler sofreram o maior baque do dia, apresentando-se para uma plateia de proporções pequenas em relação ao tamanho do Allianz Parque. Hossler, até pouco tempo conhecido pelo nome artístico de jxdn, passou a maior parte do show mencionando o quanto gosta do Brasil e elogiando o público brasileiro, mas o cenário era desanimador. A divisão da pista formava uma paisagem injusta ao separar as pessoas do palco em três setores diferentes e passar a impressão de que o vazio na plateia era muito maior. Na grade do Paddock, perto ao palco, poucos fãs (porém entusiasmados) se juntaram para curtir o show de Jaden de perto. Já na Pista VIP Box o público estava animado, porém muito distante do artista e parecendo isolado.

Machine Gun Kelly também não ficou com o melhor dos cenários. O cantor se apresentou para um público de fãs fiéis que cantava energicamente as letras tanto de suas músicas de rap quanto de pop punk, mas o número de pessoas ainda parecia bastante escasso. O artista se mostrou levemente irritado ao iniciar uma versão em português de “Dança Kuduro” e não receber uma reação calorosa do público, pausando a performance para perguntar “Me desculpem, será que eu estou nos Estados Unidos?”, fazendo referência ao pouco entusiasmo das plateias estadunidenses. Depois do puxão de orelha, o Allianz Parque pareceu se esforçar um pouco mais para apreciar a pequena homenagem ao retomar da música.

Antes dos headliners, o grande destaque do dia ficou por conta de Halsey. Ao cair da noite, as pistas Paddock e VIP Box foram ficando mais cheias e o público mais participativo. Com show de luzes, pirotecnia e fogos de artifício, Halsey entregou um show completo e visualmente deslumbrante, mesclando sucessos de seus dois primeiros álbuns com faixas dos mais recentes, Manic (2020) e If I Can’t Have Love, I Want Power (2023), além de uma versão dark eletrônica de “Eastside” e outra mais rock do hit “Closer”, com os Chainsmokers. Com carisma e presença de palco eufórica, a artista elogiou o público de São Paulo como um de seus favoritos no mundo inteiro, se emocionou ao som de “Halsey, eu te amo” e adicionou na setlist a queridinha do novo álbum, “Lilith”, deixando de fora um de seus maiores sucessos, “Colors”. Halsey também deixou claro sua força como potencial rockstar em faixas mais pesadas como “Easier Than Lying” e “Experiment On Me”. 

Para a hora do Swedish House Mafia, o público mais próximo do palco já não era tão pequeno. Até o fim do dia, o fundo da pista comum se encontrava quase completamente vazio, assim como o setor de Cadeira Superior (aqueles que chegaram cedo receberam um upgrade do ingresso para Cadeira Inferior).

A divisão de pistas, os preços exorbitantes dos ingressos e a line-up destoante prejudicaram tanto o público quanto os artistas, que pareciam deslocados ocupando um espaço com capacidade para cerca de 45 mil pessoas. Tanto Jaden quanto Halsey e Machine Gun Kelly já se apresentaram no Brasil como parte do festival Lollapalooza e chamaram públicos proporcionais ao seu tamanho, mas dentro do Allianz Parque essas atrações pareciam injustamente isoladas, separadas de seus fãs calorosos pela divisão naturalmente restritiva de um estádio.

Para um festival com ingressos a preços tão caros, a GPWeek também falha ao não oferecer ao público uma experiência que vá além dos shows. Para manter o valor alto das entradas e proporcionar um espaço melhor para fãs e artistas, o festival se beneficiaria de uma mudança de local, onde fosse possível acrescentar ativações e atividades, ou pelo menos de uma repaginação de formato, com ingressos a preços mais justos, line-up mais homogênea e divisão de setores melhor organizada. No dia de sábado, quem pagou o maior preço foram as atrações e o público.

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