Alguns lugares possuem a habilidade de nos levar para longe e, ao mesmo tempo, nos trazer mais perto de nós mesmos do que nunca. Lugares estes que podem ser físicos, mentais, e até sonoros, e é através dessa teletransportação tripla que o artista Rodrigo Novo se apresenta com seu primeiro disco, Sítio.
Sítio
Apesar do que alguns já possam imaginar, o título do projeto, que surgiu, segundo Novo em entrevista ao Mad Sound, em um momento de descontração noturno ao lado de companheiros que o ajudariam a transformar o álbum em realidade no primeiro final de semana da gravação do álbum em um sítio no interior do Espírito Santo, não só se relaciona com o sentido rural da palavra, e sim com o sítio “em termos de lugar, aonde se encontra alguma coisa, ou alguém,” ele revela.
A narrativa
A constante transformação de um sítio também faz parte da narrativa do projeto, e apesar do fator da natureza não ser o principal ao batizar o disco dessa forma, as diferentes estações do campo que reinventam o sítio de meses em meses, faz o mesmo com Rodrigo.
“Desde o começo a gente percebeu que as músicas meio que falam sobre temas parecidos, têm um ar meio reflexivo, meio misterioso, que acabam sendo congruentes”, conta o artista, que considera em diversos álbuns, a narrativa como uma das características mais importantes da obra. “Era legal ter uma ordem mesmo para contar uma história em termos de composição principalmente, mas também pensando nos arranjos mais do que algo tipo, “Ah esse single tem que estar no Lado B!’.”
Ao nos levar por essa mudança de estações que a composição e os arranjos embalam o leitor, Novo conta que a atmosfera do álbum começa reflexiva, densa, segue para um momento ainda reflexivo, mas com um viés romântico, encontra os desafios da mudança que acabam proporcionando momentos sombrios, e termina em um tom solar, com alguns raios de esperança.
Tal solidão e delicadeza presentes na primeira parte do álbum foram traduzidas perfeitamente no clipe, dirigido por Bárbara Bragato, de “Sozinho em Vão”, canção de abertura de Sítio, que introduz com maestria o ouvinte com cuidado ao mundo que Novo proporciona.
O som
Um dos toques mais notáveis e que definem o tom do projeto é a participação de um instrumento não muito frequente no indie e folk brasileiro: o banjo. Nas palavras de Novo, o instrumento se torna um personagem do disco, e sua incorporação em algumas faixas é fruto da sua apreciação do folk norte-americano, da onde o banjo utilizado em Sítio veio, através de um conhecido.
Apesar do viés intimista ser praticamente palpável no álbum, a produção do projeto teve uma participação coletiva, contando com o produtor Henrique Paoli, o engenheiro de som Ricardo Ton, e o músico Felipe Duriez, trio o qual Rodrigo dividiu os segredos de seu Sítio, e até de instrumentos emprestados incorporados para se tornarem seus.
A estrada pós Sítio
Apesar do lançamento do álbum ser recente, novidades estão surgindo com a participação de uma figura chave em Sítio: o campo, que parece ter se tornado seu co-compositor favorito desde que o artista passou a ter o endereço do sítio como sua residência desde o começo da pandemia.
Tendo em vista que a promoção do álbum estava planejada para envolver shows ao vivo, a possibilidade de novos lançamentos poderá ter que casar com os próximos capítulos da pandemia do COVID-19. Por enquanto, novas músicas ainda são sementes que estão sendo germinadas lentamente, mas se depender da dedicação e incorporação da arte de Rodrigo por ele, podemos esperar o que for para continuar o vendo desabrochar.