Texto por: Joana Söt

O que a música e a natureza têm de igual? A resposta é tudo. Na calma e na vida, música e natureza estão juntos desde sempre – seja pelo canto dos pássaros ou pelos maiores festivais já realizados no planeta, a combinação destes dois fatores resulta sempre no equilíbrio perfeito entre a paz e o estímulo da vida.

Essa é a proposta do Vodafone Paredes de Coura, festival que este ano completa 30 anos de existência e que já trouxe nomes gigantes ao meio da floresta no norte de Portugal (entre eles Radiohead, The Cramps, Bauhaus, Morrissey, entre outros).

Sem o glamour ou os influencers que agora já estamos acostumados a ver em festivais de música, o festival que “respira música” conta mesmo com o aspecto mais humano dos amantes da experiência dos festivais de música tradicionais, que se propõe a acampar durante 10 dias (ou mais) logo ao lado do recinto dos shows, formando mesmo uma comunidade de apaixonados pela experiência de realmente viver aquele ambiente. 

Apesar dos grandes nomes que o festival sempre traz em suas edições (que neste ano contou com Lorde, Yo La Tengo, Wilco, Fever Ray, e muitos outros), grande parte da experiência está nos dias de acampamento – oferecido gratuitamente para o público que adquiriu o passe geral do festival. A área verde conta com um espaço para mais de 15 mil pessoas acamparem e aproveitarem o rio, além da praia fluvial do Taboão.

3º dia | 18 Agosto _FESTIVAL VODAFONE PAREDES DE COURA 2023 _ © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

Além disso, o festival conta com a programação de 4 dias de festa na própria vila de Paredes de Coura com o “Sobe à Vila”, para além dos 4 dias de festival em si: nestes dias, os campistas literalmente sobem até a vila da cidade para noitadas com bandas portuguesas se apresentando. Neste ano, quem chamou a atenção logo na primeira noite foram os Máquina, banda punk portuguesa que se apresentou também no palco secundário do festival dias depois.

E as diferenças deste incrível festival não param por aí: as portas do evento em si abrem somente às 17h, com apresentações se estendendo até as 8h do dia seguinte, ao lado do rio, para os fãs de ‘after parties’. É esse o movimento de Paredes de Coura, o verdadeiro habitat natural da música, que durante 8 dias sacode tendas e campistas numa área verde que nos faz perder literalmente a noção de tempo e espaço.

Os artistas presentes no lineup não ignoram o cenário: até bandas mais hardcore com sons mais densos (como Turnstile na edição de 2022, e neste ano Dry Cleaning, Black Midi, Les Savy Flav, Crack Cloud, e Squid) em algum momento tiraram a máscara “séria” para elogiar o local e o público sempre animado.

Apesar de todos os concertos sem exceção terem sido arrebatadores em termos de energia e entrega, sinto a necessidade de destacar shows que conquistaram mais ainda meu respeito pelos artistas: Fever Ray é definitivamente um deles. Karin Dreijer se aproveitou do ar místico das árvores e da noite no meio da floresta para realizar uma das performances mais grotescas e intensas que vi nos meus mais de 10 anos acompanhando festivais. Por entre hits e novos singles, o concerto não deixou a peteca cair durante um segundo, entregando 1 hora e meia de um sonho pitorescamente delicioso.

Fever Ray no VODAFONE PAREDES DE COURA 2023 _ 16 a 19 de Agosto _ © Hugo Lima | fb.me/hugolimaphotography | hugolima.com

Outro grande nome deste ano foi Little Simz. A britânica abençoou os campistas já desde cedo durante o sound check, cantando músicas na íntegra e fazendo todo o pessoal já sair da barraca dançando logo de manhã, para depois só às quase 3 da madrugada realizar o tão esperado show (que não se enganem: estava completamente lotado apesar da hora). Loyle Carner, também da Inglaterra, encantou o público com suas rimas dedicadas ao filho na noite anterior.

Para além da presença do punk, pop, eletrônica (agradecimentos especiais à BICEP e Kenny Beats), e rap, o festival trouxe este ano também uma seleção extraordinária para os fãs de instrumental: Domi & JD Beck, Kokoroko, e Explosions in The Sky não precisaram de uma voz que dissesse ao público o quão talentosos estes músicos são.

O nome que marcou a edição, entretanto, foi o da mundialmente querida Lorde. A neozelandesa entrou no palco entregando absolutamente tudo com remixes do Flume e Disclosure, e, além de um set que passeava lindamente por toda sua discografia, a artista claramente comovida com o público gigantesco parava de tempos em tempos o show para falar aos portugueses sobre a felicidade de voltar ao país, dizendo que sua primeira apresentação em terras lusitanas aos 16 anos a mudou completamente.

O festival Vodafone Paredes de Coura dá um verdadeiro show em termos do que festivais de música nasceram para ser: palco de grandes amizades e lembrete das coisas que verdadeiramente importam nessa vida – e mais do que isso, a celebração da vida em si. Gostaria de aproveitar essa quase carta de amor a essa experiência para agradecer às pessoas que me acolheram durante esses dias (Marianas, Diogos, Inês, Nuno, Francis, Marques, Afonso, Hugo, Bia, e muitos mais) que me mostraram como é importante ter companhias incríveis em momentos especiais.

Meu último convite é para os que leram até aqui: A próxima edição do festival acontece de 14 à 17 de agosto de 2024, e já estamos mega animados para o próximo cartaz e memórias que somente um lugar tão mágico como Paredes de Coura pode oferecer.

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