Em 2021, muitas bandas de post-hardcore e pop punk alcançaram a marca de uma década de alguns dos álbuns mais conhecidos da cena, como Wildlife, do La Dispute, Let’s Cheers To This, do Sleeping With Sirens e também Separation, do Balance and Composure. No dia 8 de novembro de 2011, o primeiro full álbum da banda de pop punk/emo Seahaven, Winter Forever, foi lançado. 

Em outro texto, falo sobre a relação do tempo e o emo revival, e que o álbum mencionado de Balance and Composure se tornou um ponto de referência para mim (assim como para milhares de outras pessoas também) como adolescente que viveu a banda. Winter Forever também faz parte dessa leva, mas além disso, muito se falou da participação deles no pop punk. Anos mais tarde, num período em que o gênero está passando por transformações culturais, bandas como Seahaven fazem falta.

Dez anos atrás, era um pouco difícil quebrar o molde do gênero, quando o modelo de negócios para as bandas era apenas uma linha a ser seguida. Na época, com Winter Forever, Seahaven realizou a tarefa de misturar o ritmo rápido e pesado do pop punk com vocais com toques de blues, e até, em uma música ou outra, referências de latin music

O álbum começa com “Goodnight”, que dá o tom para o ouvinte para as canções que vem a seguir. Kyle Soto, frontman e vocalista, utiliza os recursos de outros gêneros suavemente. Estes podem passar batido aos que não estão prestando atenção o suficiente, mas hoje já é uma técnica usada abertamente por diversas bandas. Outro ponto é a mixagem, mais crua, pouco convencional, diferente do que estava sendo apresentado até então. 

Seahaven também mostra sua versatilidade, com faixas mais pesadas como “Thank You”. Na canção, há um punk mais rápido e a entrega de Soto impressiona. Seu arranjo intrincado aqui causa impacto, pois difere um pouco do tom mais baixo, mais reprimido que definido no álbum, de forma que a faixa oferece referências passadas, do primeiro EP da banda, Ghost.

Um dos problemas com Winter Forever é a diferença de expressão vocal ao longo das faixas. Em algumas, o cantor parece estar se segurando, e em outras, há uma certa liberdade, demonstrada pela agressão das guitarras. Anos mais tarde, na divulgação do segundo álbum da banda (Reverie Lagoon: Music For Escapism Only), Solo revelou em entrevista que “algumas músicas são pessoais demais para serem lançadas”. Ele menciona que algumas canções de Winter Forever se encaixam na situação.

Apesar disso, Soto é notável ao longo do álbum, especialmente durante “Black & White”, quando há mais passagens altamente emocionais no refrão. As letras das faixas da banda, em geral, são poéticas mas não excessivamente enfeitadas ou difíceis, como se fossem apenas realistas. Dito isso, a natureza do lirismo funciona bem para fazer a banda se destacar. Entretanto, como estilo pessoal, o vocalista escolhe por vezes cantar de forma “arrastada” e não pronunciando corretamente todas as palavras, facilmente vendo esse exemplo na única faixa acústica do álbum, “Honey Bee”. De novo, essa decisão é emocional, com letras que parecem um diálogo ou uma carta.

Outro destaque é “The End of the World”, que brilha além do reino do disco, já que não emula o que as outras faixas fizeram. Em termos de som, é um bom tapa na cara como parte do esquema melancólico e taciturno que Soto adora, mas o som final regride na indiferença que eles às vezes oferecem. 

No geral, Winter Forever é um bom álbum com as raízes do pop punk sendo demonstradas particularmente bem por “PV” e “Understanding”. Na época de estreia, a mistura descompensada entre ritmos e vocais não parecia uma boa escolha para atrair mais ouvintes, mas no fim, poucos anos mais tarde, muitos entusiastas do gênero tratam o álbum com carinho. 

Por fim, o que Winter Forever tem de especial? A resposta é muito simples: nada. Há 10 anos, Seahaven tinha um imenso potencial para se tornar um dos carros chefe do pop punk. A banda não escolheu seguir o caminho, e após o segundo full album, entrou num hiato de 6 anos, voltando recentemente com um som emo bem desenvolvido, violento e de certa forma, autodestrutivo. O fluxo natural que a banda seguiria nunca existiu, como existiu para bandas como Citizen, Turnover e até mesmo The Story So Far

Winter Forever é como uma criança perdida, presa num espaço de tempo, preenchendo uma imagem nostálgica do que poderia ter acontecido, especialmente com o Seahaven em nova fase, longe das raízes do pop punk.

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