Os fãs de 5 Seconds Of Summer tiveram muito com o que se ocupar nos últimos dois anos e meio. Com a suspensão dos shows ao vivo em 2020 devido ao início da pandemia, os quatro músicos australianos se viram separados um do outro pela primeira vez em quase 10 anos. O resultado foi um período de muita autoreflexão, terapia e conversas de peito aberto que renderam não só um, mas 3 álbuns produzidos durante o período de isolamento, divididos entre dois trabalhos solo e um conjunto.

O distanciamento social fortaleceu a 5SOS de maneira admirável. A separação forçada dos colegas que não se desgrudavam desde a adolescência fez com que cada integrante crescesse individualmente – o que, a longo prazo, acabou beneficiando a banda por inteiro. Durante os últimos anos, o guitarrista Michael Clifford se casou, enquanto o vocalista Luke Hemmings e o baterista Ashton Irwin investiram em seus próprios álbuns solo, cada um com uma sonoridade bastante pessoal e única. Apenas o baixista Calum Hood decidiu manter seus afazeres em privado.

Com a chegada dos álbuns de Luke e Ashton, os fãs se preocuparam que o futuro da banda pudesse estar pendendo por um fio. Os integrantes, porém, tranquilizaram sua fã-base prontamente e garantiram que criar um espaço seguro entre eles para que cada um tivesse a liberdade de perseguir suas paixões individuais também era um modo de fortalecer a própria 5 Seconds of Summer. Em 2021, eles se reuniram no deserto, no Parque Nacional Joshua Tree, na Califórnia, e levaram suas ideias e bagagens pessoais para construir um novo projeto. O resultado foi melhor do que o esperado: um álbum de nada menos que 19 faixas lançado no dia 23 de setembro de 2022 e intitulado 5SOS5.

O processo de amadurecimento da 5SOS é mais do que evidente no novo disco. Como seu quinto álbum de estúdio, o trabalho funciona como uma expansão das ideias testadas no antológico e confuso CALM (2020), que foi entregue aos fãs poucos dias depois do início da quarentena. Na época, o grupo se aventurou mais no uso de elementos eletrônicos e se afastou de seu amado pop rock, entregando faixas que tinham uma proposta interessante, porém ainda muito crua e sem a assinatura da banda. A experiência, porém, funcionou como um claro ponto de partida para o que viria a ser desenvolvido no 5SOS5.

Lançado e produzido de forma independente, o novo álbum abraça totalmente o pop alternativo e o indie pop, deixando para trás a rebeldia juvenil do punk. Com menos solos de guitarra e bateria muito mais proeminente, a 5 Seconds Of Summer experimenta com harmonias vocais, sintetizadores aerados, violinos, teclados e uma riqueza admirável de arranjos que se reinventam a cada música. 

O álbum marca a primeira experiência de Michael Clifford como produtor. O guitarrista assinou a produção de boa parte das músicas de maneira louvável, moldando algumas das faixas mais notáveis da história da 5SOS e imprimindo a marca do grupo de modo como só alguém de dentro poderia fazer. São produzidos por ele os singles grandiosos “COMPLETE MESS” e “Take My Hand”, assim como a notável “CAROUSEL” e a reflexiva e sonhadora “Red Line”, que remete ao trabalho solo de Luke Hemmings em seu álbum When Facing The Things We Turn Away From.

Em 5SOS5 a 5 Seconds of Summer demonstra um aperfeiçoamento não só de sua habilidade enquanto músicos, mas também enquanto compositores. Algumas de suas letras mais cortantes estão escondidas nas músicas que refletem com maturidade os dias da juventude, a vida na estrada e o passar do tempo, além de suas próprias batalhas com relacionamentos sem futuro, como é o caso das frenéticas “Bad Omens” e “BLENDER” – dois grandes destaques do disco. A primeira ganhou um videoclipe dirigido pelos diretores ucranianos Alyona Shchasnaia e Danny Mitri  e foi o primeiro trabalho internacional a ser filmado na Ucrânia desde o início da guerra.

Eles também acenam para os relacionamentos que apontam para um futuro promissor. Na romântica e doce “Older”, os vocais de Luke Hemmings se misturam ao de sua noiva, Sierra Deaton, que também é cantora e compositora e tem seu nome assinado em diversas colaborações com a 5SOS. A faixa resgata um ar dos anos 50 enquanto reflete sobre a dor de eventualmente perder a pessoa amada para a mortalidade e é a primeira colaboração que a banda insere em um álbum.

É surpreendente constatar que entre as 19 faixas, é difícil encontrar alguma que passe despercebida ou não tenha uma característica que a faça única. Entre outros destaques se encontram a deliciosa “Caramel”, a dançante “Bloodhound” e a eletrizante “TEARS!”, que encerra o álbum com vocais de Ashton Irwin e uma sonoridade que se conecta diretamente com seu álbum solo, Superbloom (2020).

Depois dos experimentos em CALM (2020), é fácil constatar que a força da 5SOS em seu quinto álbum de estúdio foi a unidade. Em 5SOS5 a banda retoma a alternância nos vocais, abrindo mais espaço para Michael Clifford e Ashton Irwin, que não cantaram no último projeto. Além disso, todos os integrantes emprestaram suas habilidades de composição para o disco e despejaram suas próprias experiências individuais e coletivas nas histórias que são contadas.

Sem linearidade ou conceitos, o 5SOS5 cumpre com louvor a difícil missão de prender a atenção do ouvinte durante um álbum longo, onde cada faixa se conecta por uma sonoridade base, mas ainda guardando suas próprias surpresas e sustentando suas diferenças. Ao final de 10 anos na estrada, a 5 Seconds of Summer se encontra em sua fase mais saudável, criativa e expansiva, e, o mais importante, em família.