Em tempos sobrecarregados, onde tudo parece ter sido meticulosamente programado para nos sufocar, o álbum Nothing to Lose da dupla australiana Hollow Coves, formada por Matt Carins e Ryan Henderson, surge como uma pílula para aliviar as ânsias da modernidade.
Parece que, com muita frequência, os compositores precisam escolher entre o intimismo e o otimismo, no entanto, em seu novo trabalho lançado no início de março, a dupla consegue tratar com leveza de sentimentos particulares ao adotar o tom de um conselho positivo e sincero, como bons amigos fariam.
A cada faixa, Hollow Coves ensina lições valiosas, que, apesar de simples, parecem cair no esquecimento coletivo enquanto a vida acontece. O olhar otimista de Matt e Ryan vem desde o seu último álbum — que também consagrou a estreia da dupla — Moments, de 2019. No entanto, seu primeiro disco parece ser mais atmosférico e imagético, constantemente citando rios, montanhas e paisagens. Desta vez, parece assumir um papel de “espelho”, convidando-nos a olhar para dentro de nossa alma e memória, e não mais para o mundo que nos cerca.
As melodias descontraídas combinadas a harmonias vocais impecáveis fazem com que o álbum lembre o icônico disco Sounds Of Silence, de Simon & Garfunkel — apenas musicalmente, visto que as letras do último são definitivamente pouco otimistas.
Da primeira à última música, Hollow Coves prova a sua capacidade de capturar a essência da jornada da vida por meio de suas letras, que abordam recomeços, liberdade, nostalgia e autodescobrimento. E, mesmo com apenas dois álbuns, a dupla já conseguiu criar aquilo que pode ser descrito como um “som característico”, o dedilhado delicado e vocais suaves marcam presença em quase todas as faixas do disco, porém, não de maneira cansativa ou previsível.
Em um mundo em que grande parte do consumo cultural é voltado para a apatia ou sentimentos negativos, Nothing to Lose é um sopro de ar fresco que nos faz lembrar onde a beleza da vida realmente mora: na simplicidade.
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