Apesar da rotina desgastante do dia-a-dia, certas coisas nos lembram que há um mundo inteiro a ser descoberto. Basta dar uma olhada rápida no canal do YouTube do Hollow Coves para ser maravilhado com imagens de belas florestas, oceanos encantadores e paisagens de tirar o fôlego. Acompanhar os videoclipes da dupla australiana é como ser chamado para participar de uma aventura.
Quando Ryan Henderson e Matt Carins decidiram fazer música, nenhum dos dois esperava fazer disso uma carreira. Matt trabalhava como carpinteiro e Ryan era um engenheiro civil qualificado, e ambos encontraram na música um ponto em comum a ser compartilhado como um hobby. Atualmente, a dupla soma mais de 2 milhões de ouvintes mensais e quase 100 mil seguidores nas plataformas digitais, conquistados através do minimalismo de suas canções e suas composições aconchegantes.
“A história inicial do Hollow Coves é meio engraçada porque quando lançamos nosso primeiro EP, nós não tínhamos expectativa nenhuma,” conta Ryan em entrevista ao Mad Sound. “Matt era um carpinteiro e eu era engenheiro civil e nós só pensamos que continuaríamos com nossos empregos normais. Nossas primeiras músicas foram postadas no SoundCloud porque nós as gravamos na garagem de um amigo e por alguma razão pensamos que elas talvez não fossem boas o suficiente para o Spotify ou a Apple Music. Naquele momento eu e o Matt não nos víamos há provavelmente um ano porque eu estava no Canadá e ele estava viajando, então só colocamos as músicas na internet e não achamos que muitas pessoas fossem ouvir. Não tínhamos expectativa nenhuma e de repente elas ganharam impulso online, então pensamos ‘Bom, talvez a gente consiga realmente fazer algo com isso’.
Apertar o play na discografia do Hollow Coves é como convidar uma salgada brisa de verão a invadir a opressão sufocante do cotidiano. Seu primeiro EP, Wanderlust, traz seis faixas apaixonantes sobre os prazeres e as maravilhas de poder viajar, estar entre a natureza e criar novas histórias. Com seu calmo som indie folk, guiado majoritariamente pelas cordas do violão e vocais suaves, a dupla de Brisbane atinge o local mais íntimo e adormecido do coração de seus ouvintes, mostrando que a vida vale a pena ser vivida.
O álbum de estreia, Moments, chega como um lembrete da finitude da vida e da importância e grandiosidade dos momentos, como é descrito na faixa-título: “Eu percebi que o tempo passa como o flash de uma câmera diante dos meus olhos / Então, cego, eu me virei e o momento passou por mim / Porque o tempo não espera por nós / Ele desaparece rápido demais.” A dupla então incentiva o ouvinte a perseguir os pequenos momentos da vida ou buscar grandes desafios, como escalar montanhas ou apenas encontrar o ângulo mais dourado da luz solar. Fazendo o uso simples de palavras para construir imagens e cenários, o Hollow Coves se torna uma fonte positivamente persuasiva, inspirando uma vontade arrebatadora de viver as aventuras que são cantadas.
Comentando sobre como é possível manter a positividade e escrever sobre o lado bonito da vida em meio às dificuldades, Matt fala: “Nós dois temos fé e eu sinto que quando existe um elemento espiritual, algumas coisas inspiram sua escrita nesse quesito. Também acho que nossa comunidade é muito positiva e nós gostamos de animar as pessoas. Não existem tantas músicas hoje em dia que são muito positivas. É difícil de escrever porque músicas felizes podem acabar soando meio brega. Não escrevemos sobre isso intencionalmente. Nosso primeiro EP foi sobre viagens e não achamos que teria esse impacto nas pessoas, mas elas começaram a comentar que se sentiam em paz e nós pensamos que valia a pena expandir isso. Recebemos muitas mensagens de pessoas dizendo que os ajudamos em tempos difíceis e até mesmo quando elas pensaram em cometer suicídio e nossa música as ajudou a não fazer isso.”
A chegada da pandemia originou um segundo EP, Blessings, mais introspectivo que os trabalhos anteriores e também feito com mais desafios. Afetados pelo isolamento social, Matt e Ryan construíram um estúdio caseiro e se voltaram para dentro e para histórias vividas no passado em busca de novos temas para compor. A experiência marcou a primeira vez em que a banda se arriscou a produzir as próprias músicas.
“Gravar foi algo completamente novo porque nunca tínhamos produzido nossas músicas antes,” conta Matt. “Tivemos que aprender coisas básicas no YouTube e tínhamos um amigo produtor que mora a uma hora de distância e ele veio nos ajudar um pouco algumas vezes. Para ser sincero, não tínhamos ideia do que estávamos fazendo. O processo foi bem longo. Fico feliz por termos feito isso porque são novas experiências e novas habilidades, mas foi difícil.”
Blessings é uma coletânea de faixas com um tom ligeiramente diferente das anteriores, mas que ainda mantém o som e a identidade do Hollow Coves. As músicas passam por temas que vão desde as pequenas bênçãos da vida, como é descrito na faixa título, até uma singela declaração de amor em “Evermore”. O peso do isolamento social também é mencionado em “Hello” e a solidão é tema para a doce “Lonely Nights”, complementada pela voz refrescante de Priscilla Ahn.
A faixa mais sombria e enigmática do EP é a inquietante “From The Second Floor”, inspirada por uma viagem de Ryan ao Canadá. Em entrevista, ele descreve a experiência como “uma das piores noites da minha vida” e conta que estava dividindo o apartamento com alguns caras que gostavam de experimentar com drogas, até que um deles teve uma reação inesperada a uma das substâncias e se jogou da sacada. Felizmente, o acidente não foi fatal, mas a experiência gerou a canção que soa quase como um conto de terror onde é possível absorver todos os sentimentos de Ryan ao presenciar a cena. “Queria escrever sobre o que aconteceu, mas também que existe muito mais pelo o que viver. Sinto que muitos jovens vão atrás de [drogas] e me parece algo tão vazio,” conta.
Com o agravamento da pandemia, o Hollow Coves precisou cancelar os shows que estavam marcados para acontecer no Brasil em julho de 2020. Durante a conversa, a dupla se mostrou empolgada com os fãs brasileiros e garantiu uma visita ao país assim que possível. “Parece que 80% dos comentários no nosso YouTube são dos fãs brasileiros,” comenta Matt. “Amamos a energia de vocês, vocês sempre parecem estar animados e positivos. Vamos chegar até aí eventualmente, mas foi muito decepcionante não ter acontecido.”
“Ouvimos coisas boas sobre o público brasileiro, então estamos animados,” complementa Ryan. “É sempre interessante viajar para diferentes partes do mundo e ver como as pessoas interagem. Quando você sai em turnê e conhece todos esses lugares você consegue ver como a plateia reage. Por exemplo, Montreal, no Canadá, até agora foi nossa melhor plateia. Talvez o Brasil supere isso, mas sempre que vamos a Montreal as pessoas ficam em silêncio durante as músicas mais introspectivas e depois cantam e batem muitas palmas durante as músicas mais altas.”
Enquanto o estado atual da pandemia não permite que o Hollow Coves retome suas viagens ao redor do mundo, a dupla continua entregando videoclipes que buscam incentivar as pequenas aventuras, como é o exemplo do delicado vídeo de “Blessings”, onde Matt aparece com seu sobrinho, Elvis. Em 2021, mais do que nunca, a música feita pela dupla australiana se mostra um respiro em meio ao caos e nos traz a esperança de que dias melhores virão e a certeza de que a vida ainda tem muita beleza a nos oferecer.
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