O vocalista da banda mais popular do post-hardcore, Dance Gavin Dance, Tilian Pearson, lançou seu quarto álbum solo no dia 23 de abril. Factory Reset chega aproximadamente um ano depois do lançamento mais recente do DGD, Afterburner. Em seu novo projeto, Tilian mostra ao que veio: uma extensão vocal mais rica, uma mistura de estilos que dão cor e vida ao álbum.

Se o Tilian fosse do K-pop, facilmente diriam que ele trabalha demais e é sobrecarregado. Desde o início de sua carreira, em 2007, quando formou a banda de progressive rock, Tides of Man, há um disco lançado todo ano. No total, Tilian gravou 10 álbuns e EPs com bandas diferentes, além de diversas demos com as bandas Saosin e Emarosa

Pode não parecer muito para alguns, mas quando falamos de post hardcore e metalcore, é muito difícil ter uma produção intensa com alta qualidade. E é sempre possível esperar qualidade quando se trata do artista.

Factory Reset contém 11 faixas, quatro delas que saíram inicialmente como singles. A abertura do álbum é de “Holy Water”, que é exatamente o que um fã do cantor espera e não espera, ao mesmo tempo. O vocal se mistura com a guitarra nos primeiros momentos da canção, antes que a bateria venha à tona. Conforme a música continua, é fácil perceber a capacidade vocal de Tilian. “Holy Water” poderia entrar num álbum do DGD por conta das influências de math rock, mas seria considerada “pop demais”.

A segunda faixa e primeiro single, “Dose”, é essencialmente uma metáfora para um relacionamento tóxico, levando em conta o lado literal da escrita de Tilian. Há um pouco de caos, um pouco de hipnotismo dentro da estrutura instrumental, que dá ao imaginário do ouvinte a sensação de estar correndo em círculos. E isso é, justamente, algo que pode ser visto na letra da canção.

“Caught In The Carousel” é um single clássico pop upbeat com letras tristes. Há falas sobre não se sentir suficiente e comparação que leva ao desespero. O eu lírico, nesse caso, acredita que só com o abuso de substâncias pode trazer a sensação de autossuficiência. 

A canção seguinte, “Anthem” é o pico da produção do álbum, que foi desenvolvido por Kris Crummett. Com centenas de pequenos detalhinhos, é fácil perceber o trabalho do produtor com o artista. Assim como outras da carreira solo de Tilian, é mais uma faixa de pop chiclete, mas apontando seus diferenciais.

Agindo como uma interlude, o synth pesado de “Breathe” aponta uma mudança rápida na dinâmica do álbum, como se realmente fosse uma pausa para respirar. Já em “All I Crave Is Peace”, encontra-se um pouco mais de math rock novamente, com guitarras altas e repetições angulares e alongadas.

“Is Anarchy A Good Hobby?” define as canções do meio do álbum, como se finalizasse um discurso. Ela é mais arrastada, com um começo calmo e devagar. Até certo ponto, o ouvinte espera algo, mas logo percebe que não será entregue de acordo com a expectativa. O múltiplo uso do eco no álbum, mas especialmente nessa faixa, ajudam a estabelecer a extensão vocal de Tilian para os que estão acostumados com os agudos dele em Dance Gavin Dance.

“Factory Reset” muda tudo. Assim como “Breathe”, a música age como um propósito de realmente reiniciar a dinâmica e expectativas do álbum. Com influências de trap e hip hop, a faixa fica extremamente fora do lugar em relação às outras. Não é ruim, pois dessa forma, reitera o caos que já existia no álbum.

“Imagination” é a próxima tendência estilística de Tilian. A canção “Caliamento Global”, do último álbum do DGD, é praticamente um prelúdio da nona faixa de Factory Reset. Tilian não pediu para nascer latino. E ele quer que o ouvinte saiba disso.

“Act Out” é mais um pop upbeat, só que com letras realmente animadas. A música é um pequeno filler, que não necessariamente precisava estar no álbum, já que existe outra do mesmo estilo que tem mais impacto. 

Factory Reset fecha com “Hands Around My Throat”, mais orientada para um pop rock, que enquanto demonstra os vocais de Tilian em sua capacidade e qualidade, a parte melódica peca um pouco para uma canção de fechamento. 

Ainda assim, Tilian supera as expectativas com Factory Reset, trazendo ainda mais de si mesmo em suas letras e co-produzindo o álbum. Ele escolhe diversificar, não apenas de seus trabalhos com outras bandas, mas também com os álbuns anteriores. Qualquer coisa que esse homem toca pode se tornar vivo, seja de um tom pesado ou uma pegada leve e é por isso que ele encontra sucesso em qualquer projeto que decide se dedicar.