Com três décadas de estrada e se mostrando mais ativo do que nunca, o Wry traz um raio de esperança em seu oitavo álbum de estúdio, Aurora (2022). A banda de Sorocaba completa 30 anos de formação em 2024 e é um dos nomes que ajudam a contar a história do underground e indie rock brasileiro.

Aurora é o terceiro álbum lançado pelo Wry nos últimos 3 anos. Em 2021, o grupo lançou a coletânea Reviver, que trazia um compilado de faixas inéditas que foram descartadas de sua discografia ao longo dos anos. Antes deste, veio o excelente Noites Infinitas (2020), que chegou a tempo de refletir as angústias advindas da pandemia e do isolamento, e entrou em várias listas de melhores discos do ano.

Se em 2020 tudo era escuridão e noite sem fim, em 2022 o Wry conseguiu vislumbrar o raiar de um novo dia – daí o significado do nome Aurora. Se aventurando a renovar sua sonoridade, a banda mergulha em características do post-punk, dub e até reggae, trazendo mais uma vez letras reflexivas e questionadoras, mas dessa vez tentando acreditar que o pior ficou para trás.

Durante as 11 faixas do álbum, o Wry faz um inventário vulnerável das marcas deixadas pela pandemia e o isolamento – as noites não dormidas, a presença excessiva do digital no cotidiano, a dificuldade de voltar a se relacionar socialmente e a sensação de que nossa sociedade está todos os dias à beira de um novo colapso. 

“Sem Medo de Mudar” é a música que nos apresenta ao álbum em um cenário de dor e solidão enquanto o eu-lírico tenta se reerguer e buscar forças no apoio que recebe de outras pessoas. A canção abre o disco com um tom otimista de alguém que está buscando acertar seus erros e começar de novo sem medo da mudança. ”Lembre-se, meu amor, sou tão humano quanto você,” canta Mario Bross

Ao longo de todo o Aurora, o Wry passa por momentos de despedida, pontos finais e recomeços. Coincidentemente, o disco foi lançado em meio à eleição presidencial brasileira, que resultou na escolha de um novo governante para o ano de 2023, representando o raiar de algo diferente no futuro, mesmo que ainda incerto.

“Quando estávamos pensando no título, a gente analisou as letras, uma a uma, e vimos que tinha um fio de esperança reacendendo no que a gente estava propondo com cada faixa,” conta Mario Bross em comunicado. “Juntando isso com a época que o disco seria lançado, que seria em plena eleição presidencial brasileira, não poderíamos pensar em outro, senão ‘Aurora’. O que pra gente soou perfeito. O primeiro clarão da aurora indica um novo dia, traz o sentimento de esperança, talvez até o otimismo, mas não nos diz exatamente como o dia será. Isso a gente vai descobrir conforme o tempo vai passando. Acho que o álbum é isso, uma meia esperança, um otimismo com cautela.”

Em Aurora, o Wry também exerce o pensamento crítico ao analisar aspectos da sociedade brasileira dos últimos anos. Em “Temos Um Inimigo”, eles cantam “Não há mentiras poucas por aí / Estou do lado honesto da história” e apontam no refrão: “Temos um inimigo / Com nome e sobrenome”. Já em “Coração Sem Educação”, a banda reflete: “Embora seja fácil lidar com a vida / O sangue jorra no noticiário.” A esperança em encontrar uma saída, porém, surge em “Labirinto Mental” de forma sutil no verso: “Eu sinto a calma chegando / Eu vejo a luz no final / Brilhar pra qualquer pessoa”.

Tentando acreditar em um futuro melhor que o presente, o Wry despeja em Aurora seus medos, falhas, críticas e esperanças, buscando manter uma pontada de otimismo em dias melhores, mesmo que esse sentimento venha com cautela e incerteza. Seja em um panorama individual ou coletivo, o despontar da luz na escuridão é o que nos move em direção ao que queremos para nós mesmos e nos dá forças para encarar um novo dia.