O jovem Nicolás Muñoz chegou ao Brasil em circunstâncias pouco favoráveis na última quarta-feira, 20. A companhia aérea não entregou a bagagem de roupas a tempo e boy pablo, como é conhecido por três milhões de ouvintes mensais no Spotify, precisou recorrer às redes sociais para encontrar boas lojas em São Paulo a tempo do show no Fabrique Club naquela noite. 

O contratempo, porém, não influenciaria em nada no humor da revelação do bedroom pop ao subir no palco mais tarde, recebido por fãs entusiasmados. Os instrumentos musicais foram entregues (ainda bem!) e o músico por trás de Wachito Rico, álbum de estreia, lançado em 2020, tinha seus amigos ao seu lado para proporcionar uma noite inesquecível. 

Antes de boy pablo, quatro brasileiros se apresentaram. A fila ainda estava grande do lado de fora durante boa parte do show do Jambu, banda independente de indie rock de Manaus, mas a plateia dentro da casa já estava mais do que aquecida diante da escolha inteligente da Balaclava Records, responsável pelo evento. 

Com acordes gostosos e muita intensidade, o quarteto formado por Gabriel Mar (vocalista e guitarrista), Roberto Freire (guitarrista), Yasmin Costa (vocalista e baterista) e Gustavo Pessoa (baixista) não escondeu a empolgação diante da recepção calorosa. “Estou sem palavras, cara. Tá faltando português para mim aqui”, disse o vocalista com sinceridade. 

Com direito a coro de “Jambu! Jambu!”, palmas sincronizadas e corpos balançando o tempo todo na luz difusa, fosse no palco ou na pequena multidão reunida, a banda se mostrou confortável e capaz de hipnotizar a plateia, a despeito do pouco tempo de existência – dois anos, com o primeiro EP, NADA A TEMER, lançado em 2021.

A energia da Jambu bateu tanto com a plateia que a despedida, apesar de significar a aproximação do momento mais esperado da noite, foi motivo de lamentação. A performance terminou com gostinho de quero mais ao som de “qual é o nome?”, um hino da banda cantado de última hora para ficar grudado na mente. 

Depois das últimas fotos e aplausos para a banda de abertura, o Fabrique já se aproximava da lotação total, sem espaço para se locomover livremente como tinha no começo da noite. Por volta das 22h15, o lugar zunia em antecipação, com gente se espremendo para conseguir uma visão melhor.

Sob o brilho da placa da Balaclava e das luzes em cores quentes do palco, o público convocava o jovem artista, que surgiria cinco minutos mais tarde diante de uma recepção de gritos ensurdecedores. Daí em diante, o show manteve a energia de cumplicidade do começo ao fim, fosse no palco ou entre os fãs dedicados, que reconheciam cada faixa nos primeiros acordes e bradava as letras.

Com simplicidade genuína e de sorrisos fáceis, boy pablo lidou com leveza com eventuais problemas técnicos, mas não era para menos: no fim das contas, ele estava rodeado de amigos na banda de apoio, mas também se apresentava para amigos no primeiro show solo da carreira em terras brasileiras, por onde já tinha passado no festival Popload há alguns anos. Nascido no Chile e criado na Noruega, o artista transitava entre inglês e espanhol nas falas, mas não sem antes questionar se o público entenderia. 

Os sons pastéis, misturando ritmos dançantes e introspecção com letras sobre amores da juventude e dias especialmente ruins, criaram uma atmosfera única de um sonho difuso, em uma direção de arte noventista ao som de “Feeling Lonely”, “Everytime” e “Dance, baby!”, para citar alguns pontos altos do show do artista, um fenômeno dos tempos da internet e da música feita em casa.

Por mais que boy pablo seja autossuficiente na hora de fazer as próprias músicas, o show em São Paulo mostra que as melhores coisas da vida são feitas para se compartilhar. Dos casais abraçados aos fãs que foram sozinhos, curtindo o show com as mãos para o alto, a energia geral era a mesma: aquela era uma festa de afins e um encontro de amigos, que deve ser aproveitado em sua beleza única enquanto é tempo, antes que todo mundo descubra o que estava perdendo e venha também. 

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