Texto por Murilo Henrique

Em 2020 tivemos grandes lançamentos na indústria fonográfica com projetos sólidos e muito consistentes, principalmente oriundos de uma demanda considerável de artistas independentes de diversos estilos. Mesmo com a atual situação que o mundo se encontra, ainda existem formas bem otimizadas de se evitar o tédio e a tristeza, e uma delas é incrivelmente perfeita música.

No último mês de maio saiu o disco I Grow Tired But Dare Not Fall Asleep do inglês Obaro Ejmire – a.k.a Ghostpoet – trazendo a marca registrada peculiar do artista nas linhas de composições instrumentais e poéticas oriundas de outros trabalhos como Dark Days +  Canapés (2017) e o aclamado Shedding Skin (2015), este último que levou uma indicação ao prêmio Mercury Music Prize. O novo álbum apresenta um cuidado extremamente minucioso na mixagem com ótimas nuances sonoras assim quanto nas construções das progressões harmônicas com as fortíssimas influências de diversos estilos como indie rock, industrial, eletrônico e hip hop, consolidando a imensa gama de ideias, estes que já são notáveis nos outros trabalhos do artista.

Começando com a belíssima e extremamente poética “Breaking Cover”, Ejmire desenha uma viagem espiritual e experimental por meio de instrumentais e efeitos eletrônicos adicionando a maravilhosa poesia como carro chefe. Com uma dissonância e a beleza de um Massive Attack e a poesia sobre o viver cheia de metáforas de um Leonard Cohen, o álbum transmite um aspecto extremamente sólido e belo com tonalidades sensacionais da banda de acompanhamento. Quase sem nenhum tipo de refrão repetitivo, as linhas remetem a catarses e sonhos justamente por essa imensa preocupação com o ambiente que sustenta a base entre composições e instrumentais, marcas essas facilmente encontradas na intocável “Rat In a Sack”.

Após o lançamento do disco, o Mad Sound conversou com o artista a respeito de suas influências musicais e arte. Leia a entrevista na íntegra abaixo.

Mad Sound: Quais foram as suas principais influências para escrever as letras do novo disco?

Ghostpoet: Sempre no mundo ao meu redor. Eu encontro vasta inspiração no mundo e nas pessoas que habitam esse planeta. 

MS: Em algumas faixas nós conseguimos notar diversas influências como a música erudita, hip hop e música eletrônica. Como você consegue lidar com esses universos distintos para conseguir expressar as suas ideias?

G: Eu não faço hip hop e não ligo muito para gêneros. Eu só faço o que eu realmente sinto, então não tenho o costume de lidar com esse tipo de coisa, eu basicamente sigo os meus próprios instintos.

MS: Qual o seu ponto de partida quando você decide criar um álbum e qual sua atual principal motivação para fazer música atualmente?

G: As composições são sempre o começo. As ideias mais cruas são geralmente retiradas de gravações de voz e de pedaços de papéis espalhados no meu apartamento. E a minha principal motivação é um instinto interno que me chama. É algo que nasci para fazer e que preciso fazer para me manter são. 

MS: Uma das coisas mais impressionantes do disco além do som, mixagem e letras é o uso de uma linda foto de capa. Essa ideia foi sua para criar algum tipo de atmosfera específica ou um compilado entre conceitos ou algum tipo de vibe específica?

G: Eu definitivamente tinha um universo artístico e visual prévio que eu gostaria de fazer.

É muito importante que eu já tenha a ideia da atmosfera  que eu quero criar muito antes de pisar no estúdio para finalizar o disco.

MS: Suas letras nos trazem um senso mágico de um abrangente conhecimento sobre poesia. Você tem algum tipo de autor preferido como referência quando você começa a escrever ou as ideias surgem na sua cabeça como uma espécies de iluminação ou insight? Se podemos falar dessa maneira.

G: Eu não tenho nenhuma referência poética de compositores ou de escritores. Eu basicamente escrevo e mediante o andar da música, as letras irão acompanhar.

MS: Falando como um fã, você tem algum disco que consideraria como uma obra prima? Se sim, você poderia falar e contar o porquê? Tem algum brasileiro nessa lista dos seus artistas favoritos de todos os tempos?

G: O Laughing Stock do Talk Talk é uma obra prima. Ao meu ver, é a perfeita junção entre o profundo, o minimalismo, simplicidade e bravura. A capa do disco do Clube da Esquina  do Milton Nascimento simplesmente diz muito sobre vocês. Esse também é um dos meus discos favoritos. 

MS: O que você tem lido ultimamente?

G: Phil Brown, Roots Alex Hayley, Save Derek Osu e School of Life introduzindo Alain De Botton.

MS: Alguma mensagem para seus fãs aqui do Brasil? Podemos esperar um show por aqui qualquer dia desses? Quando as coisas atualmente estiverem melhores, claro. 

G: Gostaria de agradecer todos que andam ouvindo a minha música e também a quem está tendo contato com ela pela primeira vez. É o meu sonho ir ao Brasil em um dia desses para mostrar os meus sons e entregar uma ótima experiência nesse país. Até lá, se mantenham bem e seguros.

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