Após quase um ano de seu primeiro álbum solo, Hayley Williams retorna com Flowers for Vases/descansos, lançado dia 5 de fevereiro. A vocalista de Paramore abençoa os fãs, mais uma vez, com uma porção de músicas tristes com metáforas e simbolismos. 

Ao contrário de Petals for Armor, Williams gravou Flowers for Vases/descansos totalmente sozinha, em isolamento, na cidade de Nashville, no Tennessee. Com a ajuda do produtor Daniel James, o resultado final foi inesperado por fãs e críticos, que estão acostumados com uma Hayley Williams que grita, tem músicas de tempo acelerado e guitarras altas. 

Essa é a primeira vez que a cantora cumpre todos os papéis sozinha. Ela tocou todos os instrumentos, fez todas as harmonias vocais, compôs todas as canções. De certa forma, há uma liberação dentro de Flowers for Vases/descansos, não apenas por seu simbolismo dolorido nas músicas, mas pois Williams descobriu ainda mais sobre si mesma como artista, aos poucos encontrando verdadeiramente seu estilo e sua própria cor.

Hayley Williams afirmou em redes sociais que o álbum não é uma continuação do seu primeiro solo, mas sim um momento antes, algo que se assemelha estar fora do espaço-tempo da cura pós-divórcio. Em entrevista ao American Songwriter, ela diz que não é só escrever uma música sobre as dores que ela passa. Existe um processo de recuperação claro dentro de Petals for Armor, o ouvinte consegue senti-la crescendo novamente, de maneira sentimental.

Flowers for Vases/descansos é um álbum extremamente delicado, com melodias leves, letras que apontam sem dó a intensa fragilidade em que Williams se encontrava, em algum ponto dos últimos cinco anos.  

A palavra “descansos” utilizada no título do disco se refere ao costume de deixarem cruzes de madeira nas laterais das estradas onde houveram acidentes fatais. Aqui, Williams também usa a referência de Mulheres Que Correm Com Os Lobos, da autora Clarissa Pinkola Estés, que afirma que todas as mulheres morrem milhões de vezes dentro de suas vidas, especialmente de formas violentas, onde se acabam oportunidades. 

Em canções como “Good Grief”, com uma linha contínua de violão e piano em conjunto, Williams menciona uma parte complicada do pós-término, “There’s no such thing as good grief/Took two months to pack up your things/But I left a box at your parents’ house/Don’t know whether to feel sad or proud”. Essencialmente, ela se vê colocando um fim em uma parte extensa da sua vida, criando o “descanso”.

O single “My Limb” utiliza uma imagem violenta: com o relacionamento finalizado, ela se vê em um dos membros do corpo e ainda se questiona “If your part of me is gone now, do I wanna survive?”. A metáfora de se sentir incompleta e não querer sobreviver ao acontecimento repercute em todo o álbum.

Em outros momentos do disco, como em “Inordinary”, Hayley fala sobre sua infância depois do divórcio dos pais. Ela descreve sua ida com a mãe para outro estado, com uma nova casa e ainda, sobre como ela começou cedo com Paramore e o que desencadeou na forma em que ela via a si mesma.

“Find Me Here” foi lançada anteriormente, numa versão acústica menor. Nesta canção, novamente, Hayley Williams mostra que o caminho da cura é tortuoso, escuro e que a qualquer momento você pode voltar ao início. A cura não tem uma linha do tempo restrita, controlada. “No one can hold your hand/Now through the delicate darkness you go/If I trespass even one step/It all just disappears, clock starts over”.

A última do disco, “Just A Lover”, a vocalista decide tomar um rumo diferente. Ao dar de cara com o desconhecido, ela escolhe acelerar um pouco o passo. Ouvimos a guitarra chegando, um clímax subindo devagar e a explosão do vocal distorcido ao fundo chega estremecendo o que até então era uma enorme sequência de canções calmas, gentis e vulneráveis. 

Flowers for Vases/descansos apresenta uma nova cor à paleta de Hayley, complexa, mas simples. O álbum destaca a autenticidade da cantora, descolada agora também da imagem que nos passou anteriormente. Não dá para imaginar quais serão as próximas escolhas musicais e artísticas da cantora, mas é seguro dizer que não haverá para onde fugir: Hayley Williams obriga o ouvinte a enfrentar emoções que estavam guardadas até que elas realmente se encerrem. 

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