Em um calderão mágico da música pop, a obscuridade cativante de Kim Petras, com a atmosfera misteriosa dos primeiros projetos de The Weeknd, e a sensibilidade na narrativa de BANKS, encontram a personalidade genuína e nascida para a música da ex-campeã do programa France’s Got Talent Marina Kaye em seu terceiro álbum de estúdio, Twisted, seu mais pessoal e celebrado projeto até agora. Disco este que foi o centro da conversa do Mad Sound com a estrela, leia abaixo a entrevista.

Mad Sound: Twisted foi lançado recentemente, no começo de novembro. Como você está se sentindo sobre o disco?

Marina Kaye: Na verdade, muito feliz e orgulhosa. É a melhor coisa que eu fiz até agora. Sabe, eu gosto muito dos outros [discos], mas este é especial para mim. Em termos de composição, visuais, tudo, eu acho que é sem dúvidas a melhor coisa que eu já fiz até agora. Eu estou muito feliz sobre e quero deixá-lo vivo pelo tempo que eu puder.

MS: O disco é tão intenso e pessoal, mas também muito grandioso sonoramente. Como foi o processo de criação dele, de quais cenários e sentimentos as músicas nasceram?

MK: Sendo sincera, foram algumas das sessões mais engraçadas que eu já estive minha vida inteira. Nós estávamos rindo o dia inteiro, a noite inteira. E quando eu estava colocando meus vocais eu acho que era o único momento do dia que eu estava séria, nós nunca estávamos sérios, estávamos sempre trabalhando e rindo ao mesmo tempo. Foi sem dúvidas as melhores sessões que eu já tive.

Então, é, tiveram muitos sentimentos envolvidos, e nós estávamos compartilhando pensamentos sobre a vida em geral, e compartilhando coisas que estávamos passando como seres humanos, em relacionamentos e tal, e foi assim que construímos toda a história desse disco, não baseado apenas em minha história, mas na história de todos que trabalharam comigo, o que foi tão legal. Sempre começava com algo que eu tinha passado em algum momento, e eu estava escrevendo alguma letra da música, e alguém lia e falava tipo, “Nossa, eu já pensei por isso, eu sei como você se sente, mas foi assim que eu me senti quando isso aconteceu comigo”, e ela iria escrever um trecho sobre a experiência dela, então foi assim que construímos toda essa história. Então eu acho que não é apenas o meu álbum, é deles também, o que é demais!

MS: “Double Life” talvez seja minha faixa favorita do disco, ela tem uma das sonoridades mais sombrias da tracklist e um tom meio cinematográfico presente. Gostaria de saber mais sobre a música!

MK: Bem, nós estávamos escrevendo essa música perto de um museu do Jack, O Estripador [Londres, Reino Unido], e começamos a falar sobre esse cara que vivia normalmente durante o dia, e matava mulheres de noite, e ninguém nunca iria suspeitar. Então era sobre isso que estávamos falando a sessão inteira, então a gente começou a pensar que isso era igual para todo mundo, nós todos estamos fazendo esse papel em nosso cotidiano e então nós chegamos em casa e somos diferentes porque você não precisa ser alguém. Então foi assim que a ideia de “Double Life” surgiu, é meio engraçado, mas é real para todo mundo.

MS: Engraçado você falar isso, porque o disco é descrito muito como um gênero dark pop, e na faixa você escolheu uma história sombria para te inspirar. Isso já aconteceu outras vezes, ou foi algo de uma única música?

MK: Foi especificamente para “Double Life”, mas existem outras coisas que me inspiram. Por exemplo, em “Scream”, eu cheguei e perguntei “Gente, e se a gente fizesse uma música para a trilha sonora de 50 Tons de Cinza?”. Então nós pegamos inspiração de todos os filmes que eu havia assistido, músicas que eu havia escutado, e todos os video games que eu joguei, e foi assim que eu elaborei a história, e a produção e tudo mais. (…) Trilhas sonoras de filmes, eu sou uma grande fã de trilhas, música clássica… eu também estava ouvindo muito The Weeknd quando eu estava trabalhando no disco, a música dele é bem sombria também e ele não tem medo de tentar coisas novas, o que é algo que eu amo sobre ele (…) Não é apenas a música, é todo um conceito, sabe? E a partir disso você faz uma música.

MS: Eu estava observando as capas de seus trabalhos anteriores, e era algo mais minimalista. Já em Twisted, a atmosfera obscura da sonoridade está lá com a máscara e esse acessório na cabeça. Então eu gostaria de saber mais sobre a capa, e eu estava me perguntando se a máscara e esse ornamento talvez simbolizem uma mudança em você como artista, se escondendo mas ao mesmo passo tendo coragem de se mostrar mais ainda.

MK: É exatamente isso, eu nem sei o que adicionar porque você realmente entendeu tudo! (risos) Eu estou usando essa máscara, mas você consegue ver através dela, você consegue ver tudo se você olhar direito, e é essa contradição que eu amo falar, cantar sobre.

MS: E todo esse conceito, você teve a ideia antes ou depois da gravação do disco?

MK: Depois! Eu terminei de gravar em setembro de 2018, e eu fotografei a capa em… 2020! Em janeiro de 2020, e minhas ideias estavam tão claras, eu sabia exatamente o que eu queria, principalmente eu sabia que eu não queria ter medo de tentar nada novo.

MS: Eu notei na tracklist do disco que não há nenhuma colaboração, featuring, o que é algo meio raro para um álbum pop nos dias de hoje. Isso aconteceu naturalmente, ou foi proposital?

MK: Eu fiz de propósito, porque era pessoal demais, as músicas eram muito pessoais para serem divididas com outra pessoa. Eu não conseguia me ver cantando sobre algo que está acontecendo dentro da minha cabeça com outra pessoa, só não fazia sentido pra mim.

MS: A última música do disco… é “Questions”...

MK: Vulnerável… (risos)

MS: Muito vulnerável! Eu te digo com sinceridade que eu fiquei chocada quando ouvi e muito mais chocada quando percebi que era a última música do disco.

MK: Eu fiz de propósito! (risos)

MS: Essa faixa, foi a primeira, a última a ser escrita? Quando você a criou, você sabia que ela estava destinada a fechar o álbum, como foi isso?

MK: Foi uma das primeiras a serem escritas, eu estava em Los Angeles em uma das minhas primeiras sessões, e eu estava muito frustrada, porque naquela época, eu não estava encontrando as pessoas certas e todas as minhas sessões não estavam funcionando do jeito que eu esperava, então eu não tinha nenhuma música para meu disco! E eu não conseguia achar o time certo para escrever comigo, então eu entrei em uma sessão extremamente frustrada e mal, e comecei a me questionar o que eu estava fazendo lá, até se eu era uma cantora, e o cara que estava trabalhando comigo ficou tipo, “Todas essas questões podem virar uma música”, e foi isso, eu estava muito deprimida quando eu escrevi essa faixa. E eu não sabia desde o começo que seria a última do disco, mas quando eu terminei de escrever todas as músicas, eu só soube.

MS: Ficou demais, quer dizer, eu tive um momento díficil ouvindo mas no conjunto da obra ficou demais (risos).

MK: Se você não está se sentindo 100% não é a melhor música para se ouvir (risos).

MS: O álbum ainda está bem fresco, mas eu gostaria de saber os próximos passos, novos singles, até turnês em um cenário pós-apocalíptico?

MK: (risos) Acho que esse é o termo certo para isso. Nós vamos tocar um show em Paris em março de 2021, eu vou lançar o clipe para “7 Billion”, meu single, nos próximos dias, e talvez um novo single em algumas semanas, eu não sei, vamos ver.

MS: Marina, muito obrigada por conversar comigo. Te desejo tudo de melhor neste projeto e em tudo que vier.

MK: Obrigada você, foi ótimo conversar com você!