Nada representa o tamanho da influência do NX Zero melhor do que um estádio lotado. A banda que se tornou uma das maiores representantes do rock emo nacional faz nesse fim de semana os históricos shows de encerramento da turnê de reunião, Cedo ou Tarde.
Fenômeno absoluto nos anos 2000, essa é a primeira vez que o NX Zero consegue lotar um estádio do tamanho do Allianz Parque, com capacidade para cerca de 43 mil pessoas. Em entrevista à Glamour, o guitarrista Gee Rocha admitiu que os integrantes acharam que precisariam “batalhar muito” para tentar vender pelo menos a metade dos ingressos, mas o cenário foi outro; em poucos minutos de vendas abertas, as entradas para o show do dia 16 de dezembro se esgotaram rapidamente. A banda abriu uma data extra para o dia anterior, 15 de dezembro.
Apesar da lineup recheada de outros artistas, a lotação acelerada do Allianz foi de mérito total do NX. Os nomes das outras 4 bandas que se apresentariam no show especial só foram revelados meses depois do anúncio oficial. Compuseram a lineup completa: Day Limns, Gloria, Supercombo e You Me At Six. A decisão de transformar os últimos shows em praticamente um grande festival tornou as apresentações ainda mais marcantes e grandiosas.
Ao longo do primeiro dia de shows, na sexta-feira, o Allianz Parque se encontrou parcialmente vazio pela maior parte do dia (fenômeno comum devido ao dia útil). Day Limns foi o primeiro nome a subir no palco, às 15h30, e fez questão de ressaltar que faria um show para poucas pessoas com a mesma empolgação que faria para uma casa lotada. Ela e sua banda cumpriram com o prometido, apresentando faixas do novo álbum, VÊNUS≠netuno (2023), com bastante energia e carisma.
Day é uma atração de destaque na lineup por ser a artista mais nova e com a carreira mais recente entre as outras bandas do dia. Seu primeiro álbum de estúdio, Bem-vindo ao clube (2021), traz referências óbvias a seus heróis do pop punk e homenageia suas raízes na música emo, mas o disco mais recente tem um som mais interessante e melhor desenvolvido, mesclando elementos eletrônicos a um pop rock mais dark, trazendo referências também do post-hardcore. A setlist foi marcada pela participação especial de Arthur Mutanen, vocalista do Bullet Bane, que colaborou com Day Limns na faixa “Castelo de Areia”.
Gloria e Supercombo também marcaram presença na lineup fazendo shows para uma plateia gradativamente crescente que já estava familiarizada com suas músicas. Os caras do Gloria, que surgiram na cena nacional ao mesmo tempo que o NX Zero nos anos 2000, fizeram um show de peso com suas letras emocionantes sobre vivências do cotidiano, mesclando os vocais guturais de Mi Vieira aos melódicos de Vini Rodrigues. O peso foi contrabalanceado algumas horas depois com a pegada um pouco mais leve do Supercombo e suas letras poéticas e reflexivas. A banda enfrentou alguns problemas técnicos com o som da guitarra de Leonardo Ramos, mas encarou os imprevistos com bom humor, encaixando música após música em setlist que variava entre momentos de tranquilidade e outros de peso e agito.
Para além dos headliners, o show de destaque do dia com certeza ficou com os britânicos do You Me At Six – a única atração internacional da lineup. O grupo recebeu uma plateia mais cheia, mas precisou encarar um público que não estava totalmente familiarizado com suas músicas. No início da setlist, a banda sofreu com o desânimo da plateia, que ignorou os pedidos do vocalista Josh Franceschi para abrir um mosh pit e também para acompanhá-lo em alguns coros. Sem se deixar abalar, Josh manteve o bom humor e seguiu tentando convencê-los. Aos poucos, a estratégia foi dando certo. Até o final da setlist, o público já se encontrava pulando, fazendo mais barulho e obedecendo com mais energia aos comandos do vocalista. Além de entregar vocais excelentes, Josh se mostrou um ótimo hipnotizador da multidões, esquentando gradualmente a plateia até que todos estivessem animados ao fim do show.
Com 30 minutos de atraso e um estádio completamente cheio, o NX Zero finalmente subiu ao palco do Allianz Parque às 20h30 para um público em polvorosa. A banda apresentou uma setlist de 2 horas recheada de sucessos e músicas de todos os álbuns da carreira, emocionando especialmente com “Marcas de Expressão”, do álbum Norte (2015).
Ficou claro que a banda pensou nos shows de encerramento com muito cuidado e de maneira especial. Além do palco decorado e dos sofisticados jogos de luzes e sincronia com o telão, o NX surpreendeu também ao montar um palco menor no final da pista, pertinho dos fãs, para onde se dirigiram e apresentaram algumas faixas mais lentas, em formato mais acústico.
Ao longo da noite, o NX Zero comandou um verdadeiro mar de gente com fãs empolgados que cantaram a plenos pulmões sem cansar. A grande maioria do público levantou a mão ao ser perguntada se aquele era seu primeiro show da banda, o que ressalta o fenômeno que tem se tornado as turnês de reencontro ou de retorno que recentemente arrastaram multidões para shows como RBD, Titãs e, em breve, Jonas Brothers.
Na noite de sexta-feira, o NX Zero se consolidou inegavelmente como uma das maiores bandas do Brasil, capaz de atrair duas décadas depois de sua formação um público de tamanho majestoso, sedento por prestigiar o grupo que foi trilha sonora dos mais variados momentos de sua vida. O espetáculo uniu pessoas de todas as idades – desde os mais velhos que acompanharam a banda em idade quanto aqueles que se tornaram fãs ainda na infância e agora são adultos que vão aos shows acompanhados de amigos e familiares. Não faltaram também as crianças que sem dúvida receberam essa herança musical dos pais que curtiram muito a banda nos anos 2000.
Em 2023, o NX Zero prova sua relevância mostrando que continua sendo uma banda para todas as idades, cativando dos mais novos aos mais velhos do mesmo jeito que fez tantos anos atrás, escrevendo músicas que vão acompanhar as pessoas durante uma vida inteira.