Nos dias 05 e 06 de novembro, a cidade de São Paulo recebeu pela primeira vez o festival de música indie e alternativa Primavera Sound. Importado de Barcelona, o festival chega ao Brasil em sua primeira edição, escolhendo o Distrito Anhembi como local para ambientar grandes nomes da música indie e alternativa como Arctic Monkeys, Björk, Phoebe Bridgers, Lorde e Mitski. 

Como toda primeira edição, o Primavera Sound teve seus erros e acertos, mas acabou fechando a conta com pontos positivos que contaram mais. Com melhorias a serem feitas para as edições futuras, a organização do evento se saiu melhor que muitos outros festivais grandes e populares em quesitos importantes como qualidade dos banheiros e distribuição de comida e bebida.

Problemas com pulseiras, mobilidade e acesso ao festival

As semanas pré-evento foram as que mais assustaram os consumidores. Antes dos dois dias principais de shows, internautas relataram atrasos na entrega das pulseiras, erros na hora de realizar a carga online, e impossibilidade de resgatar ingressos para os shows que aconteceram durante o Primavera na Cidade (opção disponível para quem comprou o ingresso do tipo Passaporte). 

Na semana anterior aos dias 05 e 06, casas de show espalhadas por São Paulo receberam diversas atrações com line-ups que eram por si só um mini festival, contendo artistas exclusivos que não tocariam no fim de semana. Nós do Mad Sound acompanhamos uma parte desses shows e contamos um pouco para vocês em resenhas no nosso site. 

Na internet, algumas pessoas reclamaram que casas de show como o Cine Joia se encontravam relativamente vazias enquanto os ingressos de resgate gratuito para quem tinha o Passaporte PS esgotou em pouquíssimo tempo. A ação foi vista como um modo de tentar obrigar mais pessoas a comprar ingressos para o Primavera na Cidade e causou certo descontentamento online.

Outro motivo de preocupação era o local que receberia o festival nos dias 05 e 06. O Distrito Anhembi não é de fácil acesso ao metrô e tinha causado certa apreensão no público após problemas com a produção e organização do show de Dua Lipa. 

Para facilitar a mobilidade, a equipe do Primavera Sound disponibilizou uma linha de ônibus exclusiva para percorrer o trajeto entre a entrada principal do evento e a estação Portuguesa-Tietê pelo valor da tarifa vigente na capital (R$4,40). Durante o dia, a ação funcionou muito bem. Uma grande quantidade de ônibus foi disponibilizada para uso exclusivo do festival, permitindo um fluxo ininterrupto de transporte para o público geral. Mesmo as filas que se formavam durante o dia para esperar o transporte na Portuguesa-Tietê ou no Portão 01 eram rapidamente dispersadas, sem superlotação de veículos. 

A exceção foi a fila quilométrica que se formou na saída do show do Arctic Monkeys, no sábado à noite. Como é comum em eventos desse porte, a maior parte do público escoou para as saídas assim que o show dos headliners terminou, às 23h30. Mesmo acabando antes do horário de fechamento do metrô, era impossível chegar à Portuguesa-Tietê a tempo, por qualquer via disponível. A fila para pegar os ônibus até a estação se estendia a perder de vista e o sinal de internet dificultava que a multidão conseguisse pedir carros por aplicativo – a alta demanda também dificultava a localização de motoristas por perto.

A melhor saída era andar um pouco em direção a uma das extremidades do Distrito Anhembi e chamar um carro de algum ponto mais afastado do local do festival, onde as vias não estivessem bloqueadas. Nesse aspecto, os ônibus podiam ajudar com o transporte até o metrô, que estaria fechado mas se localiza fora da área de acesso principal ao festival, o que deveria facilitar o acesso a táxis e motoristas de aplicativo.

Quem era da imprensa encontrou mais dificuldades no primeiro dia, enfrentando a falta de sinalização e de informações. Os jornalistas precisavam entrar pelo portão 10, que fica bastante afastado da entrada principal e não receberam orientações de como chegar lá. Entre desencontros e caminhadas de uma ponta a outra, nossa equipe e outros colegas caminharam durante quase uma hora até encontrar a entrada correta, que fica em um trecho bastante escondido. Funcionários do festival também enfrentaram longas filas de credenciamento e quem iria entrar pela lista de convidados precisou esperar durante horas do lado de fora do festival no sábado, perdendo várias atrações. Ao longo do dia, outros profissionais também relataram filas longas e desorganizadas para conseguir acesso ao festival.

Banheiros limpos, barracas bem distribuídas e falta de lixeiras

Quanto ao festival em si, os pontos positivos e negativos têm mais ou menos o mesmo peso. O Distrito Anhembi foi equipado com lockers sujeitos à disponibilidade e bebedouros gratuitos espalhados por algumas ativações, como a da Beefeater. Uma das reclamações recorrentes foi a falta de sinalização, tanto para a área de PCD quanto para os estacionamentos e os próprios bebedouros espalhados pelo festival. Uma garrafa de água custava 7 reais e nem todos sabiam dos lugares de abastecimento gratuito. 

Outro ponto a ser melhorado foi a falta de lixeiras nas áreas onde se localizavam os palcos, possibilitando que uma boa quantidade de lixo fosse se acumulando no chão ao longo do dia, concentrada especialmente nos locais onde havia plateia. Algumas poucas lixeiras se encontravam no caminho entre um palco e outro, mas não foram suficientes ao longo do fim de semana. O evento ainda distribuiu copos de plástico personalizados para evitar o uso de copos descartáveis, mas latas e embalagens de comida ainda podiam ser encontradas pelo chão.

Um grande acerto da organização foram os banheiros bem distribuídos. A maioria destes já fazia parte da instalação do Distrito – com encanamento e grande número de boxes e pias -, mas alguns banheiros químicos foram adicionados para atuar como reforço. A maioria dos relatos é de banheiros bem higienizados, com presença de papel higiênico ao longo de todo o dia, com algumas exceções. Eles estavam disponíveis nas áreas próximas a todos os palcos e a organização priorizou a inclusão ao disponibilizar banheiros unissex em pontos específicos.

Ao longo do Distrito Anhembi também estavam espalhadas uma vasta quantidade de barracas de bebidas e com comidas das mais variadas opções, além dos vendedores de bebidas que transitavam pelo local, evitando a formação de filas longas ou com longos tempos de espera. Apesar dos preços mais altos de consumação (mas ainda dentro do que é considerado comum em festivais) e uma possível decepção com a qualidade de algumas das comidas oferecidas, a maioria das pessoas encontrou facilidade na hora de fazer seus pedidos e recebê-los. 

Distância entre os palcos, ativações e árvores atrapalhando

O maior problema na questão logística foi a distância entre os palcos principais, Primavera e Beck’s. Localizados em extremidades opostas do Distrito Anhembi, os palcos guardavam uma distância entre si que só podia ser percorrida em, no mínimo, 15 minutos. Isso atrapalhou especialmente quem tinha interesse em nomes grandes que se apresentariam no mesmo dia nos lugares opostos, como Mitski e Arctic Monkeys ou Lorde e Travis ScottA ótima qualidade da line-up foi apontada em um texto específico da nossa redação.

Na maioria dos shows, uma parte do público dispersava antes do fim da setlist para garantir que chegaria na próxima atração a tempo, o que proporcionou uma experiência um pouco desconfortável – além de não conseguir ver alguns shows por completo, o público precisava se locomover com certa velocidade para conseguir um bom lugar na outra plateia. A maioria das reclamações surgiu principalmente sobre o palco Beck’s, que recebeu os maiores headliners das duas noites, mas era localizado em um local arborizado que prejudicava a visão do palco.

As ativações do evento também eram bem interessantes, localizadas próximas ao Palco Beck’s, mas contavam com grandes filas. A maior era sem dúvida a da Vans, que presenteava o público com brindes exclusivos da marca. Os stands da Schweppes e Beefeater também estavam distribuindo brindes para quem participasse das atividades, enquanto a Becks fornecia um dia de beleza, onde era possível agendar um horário para fazer unhas, cabelo ou maquiagem. A Ice Breakers distribuiu pastilhas com sabor ao longo de todo o evento e também tinha sua própria ativação próxima ao Palco Elo.

Organização e boas atrações em horários desfavoráveis

Acompanhar tudo que está rolando no Primavera Sound exige certa organização pessoal, mas o evento tenta ajudar no que for possível. A movimentação pelo Distrito Anhembi foi tranquila e sem aglomerações durante a maior parte do festival e a equipe de segurança fez um bom trabalho em orientar o público a tomar entradas e saídas alternativas entre palcos. Eles também estavam atentos à capacidade de locais como o Palco Elo, que teve superlotação durante o show de Arca, e mais pessoas foram impedidas de entrar.

Apesar dos medos e apreensões, o público embarcou no modelo de festival que o Primavera Sound importou da Europa. Mesmo os horários de shows mais tardios – como o de Charli XCX, que acabou às 2h de um domingo – tiveram públicos razoavelmente grandes e animados, apesar da dificuldade em voltar para casa. A indisponibilidade de transporte público que atenda a madrugada inteira na capital, porém, acaba atrapalhando quem gostaria de ficar até o final. 

Os artistas que são relegados a horários mais tardios também correm o risco de não chamarem público além de seus fãs fiéis. É uma pena porque grandes nomes da música independente, como Father John Misty e Caroline Polachek perdem a chance de tocar para o público geral, mas a escolha acaba sendo justa com artistas menores que provavelmente não teriam plateia na madrugada e, portanto, receberam lugares de destaque ao longo do dia.

No geral, a organização do Primavera Sound São Paulo proporcionou uma boa experiência para quem atendeu ao festival e fez o que estava a seu alcance para resolver os problemas mais gritantes e que são fonte de reclamação em outros grandes eventos, como a mobilidade, a manutenção dos banheiros e a presença de filas demoradas. Com pontos positivos que pesam mais que os negativos, a primeira edição do Primavera Sound passou com louvores no teste dos festivais principiantes.

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