Rafa Castro lançou seu álbum mais recente, Teletransportar, em abril de 2020, no início da quarentena. Um ano e um pouco mais depois, ele lança o curta-metragem de mesmo nome. A abordagem cinematográfica do disco traz três canções do trabalho (“Teletransportar”, “Cacos de Vitral” e “Cicratriz”), com registro inédito para a faixa título, feito especialmente para o filme.

O cantor, compositor e pianista já está em São Paulo há cinco anos, onde mora e cria para si um ambiente musical. Com referências e inspirações vindas de Adélia Prado, João Guimarães Rosa e de cancioneiros mineiros, Rafa Castro carrega sua história na ponta dos dedos ao contá-la pelo piano e também pela voz.

Em Teletransportar, o compositor decide desenvolver o dom da escrita e a autoria de suas letras. Assim, ele apresenta questionamentos sobre política, meio ambiente, o poder da natureza e sua busca espiritual.

Com apenas seis minutos, o filme foi gravado analogicamente em São Paulo e revelado em Nova Iorque. A adaptação mostra um professor, Juliano, que se tornou entregador de aplicativo para sobreviver a crise vivida pela sociedade hoje. O personagem é interpretado pelo celebrado bailarino Diogo Granato.

O poeta Cachal escreveu em seu poema “rápido e rasteiro” versos que sobressaltam frente a poética do filme Teletransportar: vai ter uma festa / que eu vou dançar / até o sapato pedir pra parar / aí eu paro / tiro o sapato / e danço o resto da vida.

No enredo, a vida não é uma festa para o personagem principal. Entretanto, ela permanece acesa, com a dança e tudo que ela simboliza: movimento, energia, expressividade. Tudo isso, apesar de ofuscado pelo Brasil pandêmico. Juliano, que foi da sala de aula para o lombo de uma bicicleta de entregas, se ilumina quando é livremente coreografado para expressar as dores da nova realidade.

Teletransportar mostra que através dos passos coreografados que alguém pode levar para a vida inteira, a história pessoal de cada um muda, se reinventa e leva lições consigo apesar das dificuldades que são passadas diariamente.

O ambicioso curta-metragem para o disco, cujo lançamento aconteceu oficialmente no dia 22 de junho, aposta em imagens cinematográficas que se desenrolam poeticamente, construídas para traduzir a perda de ambições do personagem central. 

A trama reúne também Ana Elisa Melo e Sofia Granato num enredo entre pai, mãe e filha. Após um curto e melancólico amanhecer junto à família, o personagem de Diogo Granato chega à rua, mas nem ela nem ele são mais os mesmos. O professor se converte em entregador de aplicativo. As ruas, por sua vez, não são mais movimentadas como antes. 

A vista é a de uma São Paulo esvaziada e mascarada, com ruas quase desertas, senão pela presença dos chamados trabalhadores essenciais. Um vazio que toma, também, o dia de Juliano, construído por muitos esbarrões, mas nenhum encontro. 

A persistência da beleza, no entanto, não brota no caminho de sua bicicleta. Ele a faz surgir quando se despe da rua para retornar para sua família. Aos pés do edifício onde mora, o então entregador de aplicativo coreógrafa a vida, o sonho, a leveza, as perdas. Põe no corpo, e no movimento dele, aquilo que estamos buscando pôr nos nossos dias: um jeito de continuar.

Assista ao curta-metragem de Rafa Castro logo abaixo.

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