O som do amadurecimento musical e pessoal tem nome, cores e arrisco dizer que até cheiro: trata-se de Inteiro Metade, primeiro disco do Tagua Tagua, que tem o compositor e produtor Felipe Puperi a frente do projeto. No álbum, lançado em parceria com a Casa Natura Musical na última sexta, 16, o artista proporciona uma viagem dançante e colorida digna de vidros abertos em uma estrada no verão, mas com espaço para reflexões e recaídas em uma sonoridade que flui do neo soul ao psicodélico sem esforços.
O caledoscópio de gêneros e referências que deram fruto ao disco foram partes fundamentais do projeto, mas Puperi esclarece e garante em entrevista ao Mad Sound que as inspirações são apenas para ajudá-lo a encontrar e consolidar seu próprio som, “Eu escuto muitas coisas diferentes, é até difícil pontuar algo específico. Gosto muito de soul anos 70, tipo Al Green, Marvin Gaye, Tim Maia, até coisas mais atuais como Kali Uchis, Daniel Caesar, Lady Wray. Talvez o ponto mais importante é que não tenho interesse nenhum de soar como nada que escuto por aí, minha vontade é criar a minha própria sonoridade e ir brincando com isso conforme cada música pede.”
A particularidade de cada faixa é sentida no decorrer do disco, que segundo o artista, se trata de uma cronologia, começando em um tom otimista com “Mesmo Lugar”, mas vagarosamente encontra na ótima faixa-título o momento chave entre a leveza da aceitação, e o pesar da saudade, reforçado pela melancolia que na faixa que encerra o disco, “Do Mundo”. “Aconteceu meio que naturalmente [a construção da narrativa]. Eu vinha escrevendo bastante sobre essas coisas e, quando me dei conta, o disco era todo sobre isso. Aceitei ele assim”, conta Felipe. “Foi interessante ver depois de pronto uma coisa junta da outra porque as músicas mais eufóricas foram compostas num estado de euforia também, já as mais introspectivas vieram de um lugar mais solitário, quieto e contemplativo.”
“Respeitar as canções como vieram acho que foi o grande segredo do disco. Claro que teve toda uma preocupação na produção, dos timbres, das buscas. Por último, o passo final foi organizar elas na ordem certa pra terem sentido nessa linha de tempo”, ele complementa.
O gentil processo de aprendizado e crescimento presente na história contada pelo disco complementa uma outra vital faceta do trabalho: o crescimento do Tagua Tagua como projeto musical perante aos seus dois primeiros EPs, Pedaço Vivo, de 2018, e Tombamento Inevitável, de 2017. “O que mudou é que entendi melhor como quero me manifestar”, ele revela. “O Tombamento foi uma espécie de experimento pra mim, não sabia exatamente pra que lado a coisa podia ir, é um EP cheio de percussão e bastante naipe de sopro. Já no Pedaço Vivo eu juntei coisas novas, beats eletrônicos, coisas que trouxessem outra cara pra tudo.”
“Agora, no Inteiro Metade, apareceu mais esse lado soul em alguns momentos, misturado com tantas outras coisas que nem dá pra categorizar muito bem. É experimental, alternativo, neo soul, indie, pop, psicodélico. Acredito que um disco completo também dá essa permissão pra flutuar mais entre estilos e gêneros, tem mais espaço.”