“Toda a minha vida, um oceano / E as canções que fiz são trailers de cinema”. É o que canta Alê Sater em “Trailers”, penúltima faixa de Gêmeos. O verso resume bastante a atmosfera do novo álbum do Terno Rei. As canções pintam cenas e cenários em nossa mente como um filme caseiro rodado em um projetor.

Saudade, nostalgia, juventude e amadurecimento são alguns dos temas que circulam pelo quarto disco de estúdio do quarteto paulista. O uso já conhecido de sintetizadores, uma presença mais marcante da bateria e a introdução de novos instrumentos como o sax e o trio de cordas, fazem de Gêmeos um álbum mais leve e aerado que seu aclamado antecessor, Violeta

Apesar da recorrente melancolia do indie estar presente em faixas como a dilacerante “Brutal”, muitas vezes ela aparece mesclada a outros sentimentos, como a raiva contida no pós-punk de “Difícil” e o otimismo singelo do pop rock de “Só Eu Sei”. Apostando pela primeira vez em um lado mais pop, o Terno Rei traz uma tonalidade diferente para suas composições bastante auto reflexivas – é como se, através de uma paisagem com neblina, fosse possível ver também o brilho opaco de um sol matinal. Uma memória com cores borradas.

Grande parte das canções acena para uma nostalgia inocente dos anos 2000, seja em sonoridade ou em composições como “Dias da Juventude”, que enumera com saudades as alegrias da adolescência. O próprio nome do álbum, Gêmeos, remete, segundo a banda, àquele amigo que se tem quando é mais novo e que se torna quase um gêmeo ou um irmão de outra mãe. Eles próprios seriam gêmeos uns dos outros, já que estão juntos há 12 anos.

Fugindo um pouco da linearidade de álbuns anteriores, o Terno Rei traz para Gêmeos uma mescla incrivelmente rica de sons, cores e temas, nos guiando por canções de amor, perda e poesia, como é o caso da profunda “Isabella” e seus traços delineados na MPB. A maioria das faixas traz em si um toque solar mesmo quando navega por temas complexos, como o isolamento social referenciado em “Aviões”. Do outro lado da tragédia, ainda há espaço para a esperança.

Mas e quanto à grande tragédia que é crescer? Depois de prestar homenagem aos “tempos de rua” e admitir ter “feito as pazes consigo mesmo”, Alê Sater também se pergunta em “Olha Só”, faixa de encerramento do Gêmeos: “Será que eu cresci mais que minhas roupas? Mais que minhas coisas?”. Com a inteligência e a minuciosidade que dedicaram a este que consideram ser “o trabalho de suas vidas”, o Terno Rei prova que cresceu além de suas roupas, suas coisas e suas próprias demarcações de gênero musical. Com presença marcada no Lollapalooza Brasil 2022, é fácil imaginar que, apesar do peso das grandes responsabilidades, para eles, o céu ainda é o limite.

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