100 mil seguidores da noite pro dia. Esse foi o saldo de Gab Ferreira após sua performance no Lollapalooza Brasil 2023.

A artista brasileira se apresentou no primeiro dia de festival, abrindo a line-up do Palco Adidas. O horário das 12h já seria desafiador por si só (início do evento, sol de rachar), mas um atraso na abertura dos portões fez com que Gab se apresentasse para um tamanho incomum de público: cerca de 40 pessoas.

Em entrevista para o Mad Sound, Gab Ferreira falou sobre o que sentiu ao subir no palco e perceber que a plateia estava essencialmente vazia: “A gente descobriu um tempinho antes, no backstage, que os portões ainda não tinham sido abertos. Então na hora que eu subi, eu já tava sacando a situação e o que tava acontecendo,” conta.

“Eu tenho uma equipe muito legal, os meninos são muito legais, me ajudam muito. Toda vez que a gente tem um show importante a gente tem uma oportunidade de testar algo de diferente. Eu acho que fiquei mais nesse sentimento de ‘Cara, a gente pensou esse show e tá massa. Vamos rodar com ele agora que a gente sabe que é possível e tá aqui, tá perfeito.’ Tentei ficar olhando por esse lado,” conclui.

A notícia da plateia escassa rapidamente se alastrou pelas redes sociais através de um tweet que dizia que Gab Ferreira estava se apresentando para 10 pessoas. O que podia ter virado meme logo se transformou em uma guinada positiva para a artista, que ganhou mais de 100 mil seguidores no Instagram em um dia. Para ela, o resultado foi satisfatório porque permite que outras pessoas se conectem com sua música e conheçam seu trabalho enquanto artista. Mas o que mudou nos dias seguintes ao Lollapalooza?

“Eu acho que mudou tudo e nada ao mesmo tempo,” explica Gab. “Uma das coisas mais doidas sobre o impacto da internet é que é um impacto muito invisível no seu cotidiano. É muito estranho porque no final eu ainda sou eu, estou no mesmo lugar, faço as mesmas coisas, mas agora tem esse shift quando eu abro meu celular eu vejo que tem bem mais pessoas do que tinha antes.”

Entender a melhor forma de se conectar com tanta gente nova também tem sido um desafio. Em um primeiro momento, a cantora admite ter se questionado sobre o que toda essa nova popularidade representaria. Seria necessário mudar tudo para adaptar sua arte ao público? Talvez começar algumas coisas do zero? Mas ao notar que o foco maior da repercussão foi naturalmente direcionado à sua música, ela se sentiu mais confiante em manter sua essência enquanto artista e mostrar tudo aquilo que ela sabe que pode entregar.

“Eu me conheço e acho que mesmo que eu falasse que vou fazer o álbum mais pop do mundo, eu provavelmente ainda faria algo meio bizarro, levaria para algum outro lugar. Porque isso é o que eu gosto e é com o que eu me conecto e eu sinto que existe muito espaço hoje no Brasil para novos formatos e para fazer as coisas de modo diferente,” explica.

“Eu queria muito que as pessoas tivessem uma curiosidade mais aguçada sobre o que está acontecendo [na cena independente]. Às vezes eu sinto que existe uma narrativa muito contínua da gente sempre autocriticar a nossa cultura, sabe? [De sempre pensar] ‘Ai, não tem música boa no Brasil’, mas ao mesmo tempo não parar e entrar mais a fundo e ver que tem muita gente fazendo muita coisa e que a gente tem uma cultura muito vasta. Tem gente muito talentosa trabalhando nesses espaços. Acho que quanto mais a gente começar a dar palco pra essas pessoas, aparecer no show, consumir… Acho que só ajuda todo mundo,” reflete.

Para Gab Ferreira, a arte que ela cria vai muito além da música. Enquanto artista independente, ela tem uma liberdade criativa maior para lidar com seus projetos e conta que gosta de pensar em tudo de uma forma “multimídia”, criando conceitos para seus álbuns e pensando também na parte visual (cores, texturas, figurinos, estética dos videoclipes). Sua mixtape mais recente, visions (2022), tem sonoridade baseada nas noites de São Paulo e ganhou uma performance ao vivo dividida em 3 atos (disponível no YouTube). A estética tecnicolor da gravação se divide entre tons noturnos de azul e roxo e alguns toques de laranja mais frio.

Citando Charli XCX, Lady Gaga, Caroline Polachek e OKLU como grandes referências para seu trabalho, Gab também admite ser muito fã de audiovisual – especialmente cinema de guerrilha e produções de baixo orçamento. Parte dessa paixão é utilizada na forma como ela aborda seus projetos enquanto artista independente. “Eu prefiro fazer algo simples, mas eficaz, que passe a mensagem que eu quero e que te toque em algum lugar, do que fazer algo mirabolante ou uma coisa muito grande que não vai te evocar o mesmo sentimento,” afirma.

Recentemente, ela lançou a faixa “Forbidden Fruit”, que surgiu de um “vórtex criativo” durante a pandemia e só foi finalizada e lançada agora. Ao invés de pensar em um novo álbum desde o início, Gab Ferreira conta que está se permitindo trabalhar em cada música nova separadamente e abrindo uma nova gama criativa onde ela pode se deixar influenciar de forma mais livre pelas coisas que tem ouvido no momento. “Pra mim tem sido muito legal pegar coisas pelas quais eu estou apaixonada agora, curtindo agora, e pensar que eu quero fazer uma música de tal jeito,” diz.

Até o momento Gab Ferreira tem duas mixtapes lançadas – Lemon Squeeze (2018) e visions (2022) -, além de vários outros singles. Acesse o perfil da artista do Spotify aqui.