Existe um tipo de revelação que pode ser encontrada em álbuns curtos. Seja em um EP ou em um disco com menos músicas, é nesse formato que um bom artista revela a extensão de seu talento e suas habilidades; seu poder de condensação, sua imaginação, como fazer o menos se tornar mais. E é nesse cenário, equilibrando a síntese e o transbordar, que se encontra o disco III de Giovanna Moraes.

Em apenas seis faixas, Giovanna criou um microcosmo que se expande e se destrói no pequeno espaço que o contém. A artista explora um universo de sonoridades, trazendo para a sua música um pouco do jazz, do MPB, do R&B, do rock e do pop, deixando transparecer suas referências em Elis Regina, Fiona Apple e Amy Winehouse.

III ganha esse nome por equalizar as pontas entre voz, letra e melodia. Após o lançamento do álbum de estreia em inglês, Àchromatics (2018), e o sucessor em português, Direto da Gringa (2020), Giovanna uniu as características de seus dois primeiros discos e as condensou no terceiro, encontrando o caminho do meio e o fator comum nos elementos de sua arte. As músicas de III transitam entre o português e o inglês, às vezes passando por ambos na mesma faixa, conduzindo a mesclagem sempre de forma suave e agradável aos ouvidos.

É dentro de uma caixinha de joias que se encontra uma mina de ouro. Em seu novo álbum, Giovanna Moraes fala de solidão, sanidade, amadurecimento, amor, perda e saudades. O disco começa com um cumprimento cauteloso, cheio de cuidado no nome da primeira faixa, “Tudo Bem?”. Daí em diante, Giovanna abre as portas e nos permite viajar por seus sentimentos mais profundos e sinceros, guiando a dança entre a riqueza do instrumental, das letras autorais e do controle de sua voz marcante.

Na estonteante “Baile de Máscaras”, a cantora responde seu próprio questionamento no verso “tá tudo bem, só não tô legal”, enquanto divaga sobre as complexidades de uma relação que é sempre um mistério e a vontade de “re-engatar aquela história que nem chegou a começar”. Daí, o álbum nos conduz para a introspectiva “Rosalía”, de letra forte e influência do reggae, onde Giovanna abre o peito e busca um fio de esperança ao qual se agarrar, enquanto admite a apatia ao dizer que “parece que tudo que vem já vivi”.

Em seu mundo particular, III vai crescendo em sonoridade de modo tão gradual que quase não se sente. Giovanna apresenta sua própria versão da faixa “Are You Crazy, Julian?” da banda Boogarins, com letra autoral e releitura própria dos instrumentos, para logo depois falar sobre o gosto amargo de crescer em “Gente Grande”. O disco se encerra com uma surpresa boa: uma faixa de pop eletrônico, acenando para Billie Eilish, na intensa e raivosa “Betray”, onde Giovanna se joga completamente no inglês e arrisca alguns versos ritmados, finalizando seu projeto em uma explosão.

A habilidade de dizer muito com pouco é uma dádiva rara. Se anteriormente Giovanna lutou para encontrar as palavras e revirou idiomas em sua busca, é em III que ela descobre que sempre as teve na ponta da língua. Com segurança e acalento, a artista faz sua voz de farol, nos conduzindo a uma viagem por suas palavras e composições, navegando a enorme variedade de sons que preenche o espaço de tal forma que é quase improvável acreditar que se passou por tantos lugares em apenas vinte minutos. Em seu álbum de número 3, Giovanna Moraes realmente encontrou o equilíbrio perfeito.