Conhecido por ser um dos mais notáveis cantores-compositores da atualidade, Dermot Kennedy fez uma rápida passagem pelo Brasil no segundo fim de semana de outubro para promover seu próximo álbum de estúdio, Sonder

O artista irlandês é conhecido principalmente pela mistura de suas canções acústicas com influências do hip-hop, mas conseguiu furar essa bolha em 2020 com o single “Paradise”, em parceria com o grupo de produção eletrônica Meduza. A faixa é a mais ouvida de Kennedy nas plataformas digitais com folga, ultrapassando os 500 milhões de streamings no Spotify, mas não traduz muito da verdadeira essência da música sensível e vulnerável do cantor.

Em sua primeira visita ao Brasil, Dermot Kennedy se viu em uma tarde ensolarada de domingo fazendo um pequeno show no meio da Avenida Paulista, um dos principais pontos turísticos de São Paulo. Fechada aos domingos para lazer, a avenida costuma estar sempre cheia de performances artísticas e quem passou pelo local no dia 09 de outubro pôde prestigiar Kennedy e seu violão atraindo uma pequena multidão de fãs e curiosos.

Para o artista, a performance foi como uma viagem ao passado, quando ele costumava tocar nas ruas de Dublin aos 17 anos, ainda no início de um sonho que o levaria muito longe. Em entrevista ao Mad Sound, ele fala sobre a sensação de vir ao Brasil pela primeira vez e tocar suas músicas nesse formato minimalista:

“O sentimento foi o mesmo de quando eu tocava na rua quando era mais novo,” reflete. “Algumas pessoas estavam ali porque me conheciam, mas outras estavam de passagem e pararam para prestar atenção. Era assim que costumava ser para mim. É muito legal fazer algo assim nesse momento da minha carreira porque agora nós fazemos muitos shows que são grandes produções, com muitas pessoas e luzes, e etc. É muito legal voltar a fazer algo básico em que eu só precise plugar meu violão.”

Lançando singles e EPs ao longo dos anos, Dermot Kennedy tocou em uma variedade de festivais nos Estados Unidos, Austrália e Europa, participou do quadro Tiny Desk em um set de 14 minutos e foi votado como “Melhor Novo Artista do Ano” na premiação Slingshot, da NPR, antes mesmo de lançar seu primeiro álbum. O disco de estreia Without Fear chegou em 2019 com uma compilação de faixas novas e antigas, com algumas datando até oito anos antes do lançamento.

Nos anos que sucederam sua estreia, Kennedy foi nomeado como “Artista Masculino do Ano” no Brit Awards 2020 e apareceu no álbum de versões reimaginadas do Metallica, The Metallica Blacklist (2021), com um cover do clássico “Nothing Else Matters”. Atualmente, ele se prepara para lançar seu segundo álbum de estúdio, Sonder, que deve chegar às lojas e plataformas digitais em 04 de novembro.

Sonder é essencialmente uma palavra inventada,” explica ele sobre o conceito do disco. “Ela não existe no dicionário, mas representa a consciência de que todas as pessoas pelas quais passamos na rua estão vivendo uma vida tão vívida e complexa quanto a sua própria. E eu penso muito que, especialmente hoje em dia, somos ensinados a pensar muito nas nossas vidas individuais – como eu me sinto e o que está acontecendo comigo. É como se devêssemos pensar que somos a pessoa mais importante do mundo. E na música isso é elevado a 10 vezes porque você está no centro dessa carreira e passa muito tempo pensando só em si mesmo. E eu não gosto muito disso porque não sou esse tipo de pessoa. O que eu amo sobre essa ideia é poder colocar o foco em nós ao invés de em mim”.

Quando perguntado sobre qual tipo de música ele gostaria de fazer, Dermot Kennedy diz que gostaria que sua música fosse apenas “honesta”. Essa é, na verdade, uma característica vital de suas composições, como é possível notar na sensível “Dreamer”, uma balada ao piano lançada recentemente como prévia do novo álbum. “Desde que eu era um menininho correndo pela grama / Eu era um sonhador, escrevendo histórias no fundo da classe / Agora eu sento a esse piano com meu coração nas mãos / Pego meu amor e todas as minhas perdas e faço a escuridão dançar”, canta nos versos de abertura.

Essa é uma descrição bastante certeira do que o cantor faz em suas músicas. O single “Better Days”, primeiro lançamento dessa nova fase, traz uma mensagem de força e esperança para alguém que parece ser próximo do cantor, enquanto sua voz potente conduz o refrão poderoso ao piano. Já a sensível “Innocence and Sadness” ganhou uma camada a mais de transparência ao ser lançada em uma versão ao vivo, sem alterações ou melhorias.

Apesar de manter sua honestidade e vulnerabilidade características, Dermot Kennedy também diz ter experimentado com novos gêneros e maiores arranjos em seu novo álbum Sonder. Um pouco disso pode ser ouvido na nova faixa “Kiss Me”, que traz uma virada mais animada para o pop, e “Something To Someone”, que apesar da melancolia lírica traz um ritmo acelerado e otimista no instrumental.

“[Experimentar com a própria música] é algo assustador,” reflete Kennedy. “Porque quando você tem uma carreira, você sabe que as pessoas esperam uma determinada coisa de você. Para ser sincero, eu não concordo com a ideia de que o artista tem que ser uma coisa só. Seria muito tedioso, certo? Acho que todo grande artista que amamos se tornou experimental em algum ponto. Não acho que você tenha que ser definido por nada, apenas faça. Especialmente hoje em dia. Você tenta algo novo e provavelmente terá outra música saindo em breve. Isso nunca para, então é divertido testar coisas novas.”

“Para mim, eu ter pensado um dia que já sabia o que queria antes mesmo de iniciar essa jornada [com a música] é loucura porque eu aprendo o tempo inteiro conforme vou seguindo. A esse ponto, estou aberto a tudo. Pensar que terei singles e arranjos maiores e depois tocar em um show onde 20 mil pessoas estão animadas para ouvir a mesma música é um sentimento muito legal. É por isso que amo fazer música. Ela une as pessoas, independente de qual seja o som,” conclui.

Como alguém que cresceu em uma cidade pequena, Dermot Kennedy revela que o sentimento de poder viajar pelo mundo levando sua música às pessoas parece “certo”. Ele ressalta a importância de estar em casa para recarregar as energias e se conectar com a família e amigos, mas demonstra estar muito grato por ser levado a diversas partes do mundo graças à sua música. Quando perguntado se teria algum conselho para outros jovens de cidades pequenas com sonhos ambiciosos, ele revela sempre pensar no assunto e entender que a maior questão é “Como faço isso acontecer?”

Kennedy reconhece que morar a certa proximidade de Dublin o ajudou bastante, mas diz acreditar que qualquer pessoa pode fazer sucesso estando em qualquer lugar. “A música vive dentro da sua cabeça, sabe? Por que você precisaria se mudar para outra cidade para fazer isso funcionar? Eu entendo que conexões são importantes e há várias oportunidades que podem surgir se você tiver sorte, mas eu estou aqui hoje por causa das músicas que escrevi e elas vieram de mim. Eu não ligava para onde eu estava quando isso aconteceu.”

“Meu conselho seria: não se preocupe com isso. Se você precisar ir a algum lugar com mais oportunidades, isso vai acontecer no momento necessário. Mas em termos de fazer música e ganhar reconhecimento, a internet é um lugar insano para isso. Foi assim que eu comecei. Então você pode fazer tudo de qualquer lugar,” aconselha.

Depois de sua primeira experiência no Brasil, Dermot Kennedy diz que adoraria retornar ao país com shows mais produzidos e planejados. A apresentação na Avenida Paulista serviu como um tipo de termômetro de público e ele brinca: “Depois do show de ontem eu pensei ‘Ok, talvez as pessoas venham me ver se eu fizer um show’.” Mesmo sem uma previsão de retorno, o cantor diz querer repetir a visita “o mais rápido possível”. E os fãs brasileiros com certeza o receberão de braços abertos.