Não é pouca coisa que o Imagine Dragons consiga lotar estádios em 2023. Na noite de terça-feira, 23, a banda se apresentou para um Allianz Parque completamente preenchido de fãs, das arquibancadas até a pista, e o público era dos mais diversos – fãs na faixa dos 20 e poucos anos que acompanharam o crescimento da banda, casais de adultos, famílias completas, um mar de crianças sorridentes dançando no colo dos pais.

O cenário parece quase inimaginável quando paramos para pensar no Imagine Dragons de 10 anos atrás e seu álbum de estreia Night Visions (2013). Sucessos como “Radioactive”, “It’s Time” e “Demons” arrebataram o público indie e colocaram a banda na line-up do Lollapalooza Brasil no ano seguinte para um show que permanece na memória até os dias de hoje. Desde então, o grupo marca presença frequentemente em solo brasileiro.

“Vocês sabem o tanto que o Brasil significa pra mim,” disse um Dan Reynolds emocionado segurando a bandeira brasileira. “Eu amo esse lugar, amo essas pessoas. Muito obrigado por serem o primeiro lugar que verdadeiramente celebrou o Imagine Dragons. Sempre que chegamos aqui nos sentimos em casa. Vocês têm nos recebido durante uma década e não subestimamos isso.”

Se o trabalho de estúdio não impressiona tanto, no ao vivo o Imagine Dragons justifica o motivo de estar fazendo sucesso há 10 anos e faz uma viagem pela discografia cheia de hits que dominaram as rádios, como “Thunder” e “Believer”. Até mesmo aqueles que deixaram de acompanhá-los conseguem reconhecer a maioria das músicas e se deixar arrebatar pela presença de palco energizante de Dan Reynolds em contraponto com a postura mais introspectiva de Daniel Wayne (guitarra), Daniel Platzman (bateria) e Ben McKee (baixo). 

O show da Mercury Tour é uma experiência imersiva da qual é impossível tirar os olhos. Dividido em vários atos, o espetáculo usa e abusa de jogos de luz, fumaça e chuva de papel picado, chamando a atenção do público diretamente para o palco sem distrair da mensagem da música. Cada ato é introduzido por um vídeo no telão que narra diferentes partes da jornada humana, começando pelo despertar, passando pelo poder das emoções e sensações, encarando a dor e o luto e terminando em um momento de encontro consigo mesmo e de seu lugar no mundo.

A setlist do Imagine Dragons segue o tema de cada ato, se iniciando com uma série de sucessos conhecidos para deixar a energia lá em cima, passando por faixas com energia mais branda e atingindo um ponto de forte carga emocional com o trio “Next To Me”, “Amsterdam” e “Wrecked”, que é uma das composições mais fortes do grupo sobre a dor do luto. Antes de cantá-la, Dan Reynolds incentivou a todos que sentissem suas emoções naquela noite e falou sobre o poder catártico da canção e das lembranças que ela trás, ainda que seja difícil performá-la frequentemente.

A jornada pela discografia da banda ressalta o principal ponto das composições do Imagine Dragons, que há uma década vêm sendo bem sucedidos em cantar sobre a experiência humana e a profundidade dos sentimentos. Seja cantando sobre amor, solidão, desespero, alegria ou esperança, Dan Reynolds captura os elementos mais profundos de suas emoções individuais e os derrama em suas composições de forma que abrange o coletivo em um grande abraço reconfortante. 

Depois de passar por uma verdadeira montanha-russa emocional com a setlist da Mercury Tour, tudo termina em clima de alegria e otimismo com a sequência “On Top Of The World”, “Bones”, “Radioactive” e “Walking The Wire”. O show se encerra com um breve bônus de “My Life”, que também é a canção de abertura, mas diferente do tom de dúvida e questionamento no primeiro ato, essa última versão assume um tom de celebração e otimismo para fechar a noite com a sensação de “final feliz”.

Ver o Imagine Dragons ao vivo uma década depois de sua estreia no mainstream é uma experiência surpreendente. A banda entrega um espetáculo de qualidade, cuidadosamente pensado para ser uma experiência sensorial e imersiva, prendendo completamente a atenção do público durante a setlist de quase 2h que nunca se torna tediosa. Mesmo com mais apelo comercial hoje do que teve no início, o grupo se manteve fiel à sua identidade e à mensagem de suas canções, e mantém sua relevância com excelência, independente das críticas de parte do público e de alguns narizes torcidos.

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