Crescendo cada vez mais no Brasil e ao redor do mundo, Saturnina lançou em 15 de junho seu primeiro álbum de estúdio, Música Triste Para Chorar. O projeto musical de Mia Blun surgiu em meio a noites de insônia durante a pandemia e ganhou rápido reconhecimento nacional. Seu primeiro single, “Gato Preto”, foi lançado em outubro de 2021, no Dia das Bruxas. Desde então, ela tem sido só sucesso.
Quando conversamos, no início deste ano, Saturnina tinha acabado de lançar o EP Melancolia… Por Diversão?. No projeto, ela já se apresentava como uma artista focada na diversidade de sons e ritmos, bastante relutante a se reduzir a um único gênero ou rotular sua música. Em seu álbum de estreia, ela reforça esse conceito, mesclando diversos gêneros e referências ao longo das 12 faixas.
O disco abre com nada menos que um samba – a escolha perfeita para quem quer falar de amor e desilusão. “Chorei, Chorei” inicia a jornada de Saturnina já falando sobre o fim doído de uma relação e a dificuldade em superar o amor perdido. “Enfim, Abstinência” é um acústico sentimental que traz um refrão de pagode. O single “Meninas Más” começa como um rock lento, com foco no baixo, mas se transforma em um xote no pré-refrão e, de alguma forma, faz isso com bastante naturalidade.
Música Triste Para Chorar é um nome bem propício e autoexplicativo para esse projeto. As canções são, em sua maioria, reflexões de um coração partido, e tomadas pelos sentimentos de saudade, tristeza, realizações e desabafos. Como grande entusiasta do rock, porém, e especialmente do rock nacional, Saturnina revive o som contestador de Cazuza na desafiadora faixa “Circo de Loucos”, e deixa clara a referência de Charlie Brown Jr. em “Falsos Amigos”.
Dois grandes destaques do álbum são as colaborações com o cantor gaúcho Jéf. “Falando Sério” é um dueto delicado de fim de relação, buscando um ponto final com certa relutância e ar sonhador, enquanto “Sofrência e Rosas” encerra o disco com uma série de questionamentos sobre o futuro desse amor e resumindo bem a jornada das faixas anteriores no verso: “Tudo parecia mais fácil antes de eu me apegar a esse sofrência”.
O álbum de estreia de Saturnina apresenta a artista do modo como ela quer ser reconhecida: versátil e pouco disposta a seguir as regras do jogo – seja esse jogo o da indústria fonográfica ou o da sociedade moralista. Sua atitude carrega um pouco da inconformidade do rock mesmo para as faixas mais distantes desse elemento e mostra que sensibilidade e rebeldia podem, sim, andar lado a lado, e assim o fazem nas várias facetas que ela mostra em Música Triste Para Chorar.