Muito tem se falado nos últimos anos sobre o “retorno” de um emo que nunca realmente foi embora ou de um certo “revival” do pop punk com grandes nomes dos anos 2000 teoricamente voltando às origens em seus novos lançamentos. Poucos desses artistas, porém, entenderam a tarefa tão bem quanto o Simple Plan.

Enquanto artistas como Avril Lavigne surfaram na onda do saudosismo mesclando certa modernidade a seu som, o quarteto canadense mergulhou de verdade no som que conquistou a geração anos 2000 e prestou uma verdadeira homenagem a seu legado na música no novo álbum Harder Than It Looks.

Dar play no disco de 2022 é como relembrar os tempos de estreia do Simple Plan com o No Pads, No Helmets… Just Balls (2002) e o Still Not Getting Any (2004) que nos deram clássicos como “I’m Just A Kid”, “Perfect” e “Welcome To My Life”. Apesar da sonoridade ter sido recuperada com perfeição, a maior diferença entre os dois está nos temas abordados liricamente e na forma como isso é feito.

Há 20 anos, os integrantes do Simple Plan – e em especial o vocalista e compositor Pierre Bouvier – eram jovens tentando encontrar seu lugar no mundo e lidando com suas próprias angústias. Essas angústias eram refletidas no público de idade semelhante que abraçou o emo na época, e por isso o gênero se tornou um grande lugar de conforto para aquelas crianças e adolescentes. Hoje, como adultos, a banda não carrega mais as mesmas dores e preocupações que a nova geração, e seu acerto está justamente em não tentar adivinhar ou forjar essas questões em busca de um público novo.

Harder Than It Looks é um álbum feito para os fãs de Simple Plan que estão aqui desde o início e acompanharam a trajetória da banda. O disco retoma algumas das principais dores de Pierre Bouvier, como o divórcio dos pais na infância em “Two” e sua batalha com a saúde mental em “Anxiety”, mas também acena para algumas de suas maiores esperanças quando mais jovem, como o sonho de ser lendário em “Iconic”. A perspectiva de algumas músicas pode pertencer a um lugar do passado, mas é um lugar pessoal, que o compositor compreende profundamente.

Toda a atmosfera do novo álbum também traz o lado mais leve daquele Simple Plan que conhecemos há 20 anos. Mesmo as músicas que tocam em temas mais delicados possuem uma sonoridade mais divertida e aerada, virando as costas para aquele lugar de densidade e melancolia do passado. A faixa “Best Day Of My Life”, por exemplo, diz adeus à angústia que conhecemos em “Welcome To My Life” e traz um incentivo para aproveitar a vida; algo que demonstra a maturidade emocional de alguém que hoje se encontra em um lugar mais saudável que antes. “Estou começando a ver que minha felicidade sempre dependeu de mim”, reflete Pierre no pré-refrão.

Esse incentivo à busca pela felicidade e à melhora é um salto extremamente importante em relação ao lugar em que os jovens dos anos 2000 se encontravam. Hoje, tanto aquela geração quanto as mais recentes se preocupam mais com questões de saúde mental e têm maior acesso à informação sobre o tema. Muito se fala sobre buscar ajuda e fazer terapia, algo que afetou negativamente a geração de Pierre porque o tema na época ainda era considerado tabu. Incentivar a busca por uma qualidade de vida melhor também demonstra a maturidade do Simple Plan em sua própria jornada.

Para aqueles que sentiram falta do emo de 20 anos atrás, Harder Than It Looks traz um verdadeiro e autêntico resgate do som daquela época. Liricamente, as músicas mantêm sua qualidade e estrutura, e a banda não busca diluir o verdadeiro pop punk com influências pesadas de hip-hop ou parcerias com astros das redes sociais. É o pop punk como o conhecíamos há duas décadas, cheio de guitarras, bateria e refrões para serem gritados a plenos pulmões. É o Simple Plan em sua mais pura essência e honrando o que eles têm de mais importante: sua identidade.

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