É difícil admitir, mas 2021 foi um ano complicado para os girl groups de K-pop. Pouca coisa se sobressaiu, inovou ou deixou gostinho de quero mais. O ano foi marcado pela dissolução de grupos predominantes da terceira geração do gênero, o que levou a um eventual buraco de lançamentos. GFRIEND, Lovelyz, CLC e gugudan nunca mais trarão novidades. Por outro lado, a quarta geração floresce, com debuts por todos os lados. Billlie, IVE, Purple Kiss, e Lightsum foram alguns dos grupos que agitaram o ano, mas ainda não o suficiente para estourar nos charts coreanos.
O ano também trouxe a volta dos programas de sobrevivência entre as trainees, no caso, Girl’s Planet 999. Apesar do fracasso de audiência, a proposta inicial de juntar diversas meninas da Coreia do Sul, Japão e China para – teoricamente – conquistar um espaço no K-pop foi interessante. Uma das mais votadas e agora integrante do grupo (chamado Kep1er), Choi Yujin, era umas das lead vocalists de CLC, pois se recusou a aceitar o destino da separação de seu antigo grupo. O debut de Kep1er foi adiado para janeiro de 2022.
Além disso, 2021 foi o ano dos escândalos de bullying escolar. Diversos grupos foram afetados com notícias falsas, como Apink e LOONA, enquanto outros se viram obrigados a demitir integrantes por acusações graves e verificadas pela polícia coreana, como April e (G)-IDLE.
Com todo esse contexto sobre o que o primeiro ano da nova década nos trouxe, confira o top 5 álbuns lançados por girl groups de K-pop em 2021:
05. StayC – STAYDOM
StayC capturou o coração do público geral da Coreia do Sul, se tornando rapidamente um dos maiores rookie groups da quarta geração, vindas de uma empresa de porte pequeno. A dupla de produtores, chamados de Black Eyed Pilseung, decidiram criar um grupo próprio e foi aí que a High Up Entertainment nasceu. Após um debut muito bem sucedido, StayC lançou seu segundo álbum, STAYDOM.
A title track “ASAP” é discreta, mas poderosa de seu próprio jeito. O instrumental que chega após o refrão é mais descontraído, com sua melodia de toque inspirada em 8 bits. De uma maneira geral, a canção é um chiclete de color pop, algo que BEP já fez centenas de vezes nos primeiros anos da carreira de TWICE.
A b-side “Love Fool” é um exemplo de como cada membro do StayC se complementa. O grupo não força nenhum tipo de estereótipo para a música, e não precisa alcançar notas fora da zona de conforto de cada uma. A canção deixa a personalidade de cada uma transparecer, ainda que isso esteja se desenvolvendo, uma vez que o grupo tem pouco tempo de experiência.
04. LOONA – &
LOONA retornou aos palcos com “PTT (Paint The Town)”, a title track do quarto mini álbum do grupo, [&] ‘[AND]’. Agora com Haseul, que havia se ausentado por quase 18 meses, o ciclo se completa com sete músicas inéditas, nas quais as garotas do mês mudam de direção e decidem, como sempre, inovar.
Mais uma vez, agora já ocorrência normal para o grupo, recordes foram alcançados, como a aparição das meninas na lista da Billboard 200, no 112º lugar, pela primeira vez. E ainda, o tremendo sucesso de “Star”, faixa em inglês do grupo, nas rádios dos Estados Unidos, ficando no 40º lugar da Mediabase US Pop Radio, alcançando uma audiência de 1,35 milhões.
Nos dois últimos álbuns, a direção musical foi feita por um dos grandes nomes da indústria, o fundador e CEO da SM Entertainment, Lee SooMan. Agora, em 2021, a direção volta para as mãos da empresa de LOONA, a BlockBerry Creative. A companhia incumbiu o produtor Ryan S. Jhun, orbit (nome do fandom) declarado, de compor, escrever e mixar o álbum novo.
O disco deixa qualquer um com a sensação de estar com o coração quentinho, relaxado e com a sensação de ter passado por uma experiência explosiva para a melancolia etérea em poucos segundos. Como sempre, LOONA se apresenta como um grupo que faz álbuns redondos e completos. As faixas, cuidadosamente curadas, saciam qualquer fã faminto por só ter ganhado comeback de LOONA no final de junho.
03. aespa – Savage
O mais recente grupo feminino da SM Entertainment, aespa, teve um debut formidável na indústria há pouco menos de um ano. Como esperado dos grupos da SM, aespa chegou desafiando parâmetros, com uma mão firme na hora de reivindicar seu espaço em meio aos outros grupos. Definitivamente deu certo. Ao se posicionar como “vanguarda” da quarta geração com músicas experimentais, a mistura de gêneros e fusão de tecnologia de IA no conceito, as meninas de aespa não saem do holofote.
Savage é um daqueles álbuns que se gosta, ama, e se não gosta, detesta. São seis faixas, que vão de batidas de hip-hop com sintetizadores futuristas (o que muitos aqui no Brasil passaram a referenciar como “bate panela”), um popzinho básico, até um R&B romântico e até nostálgico com 90s inspired.
Apesar de ainda ser um grupo novo, aespa tem cartas marcadas nos vocais, com amplo alcance, tanto no estúdio como ao vivo. “Savage” está repleto de ganchos viciantes e refrões que se apoiam na produção em camadas magistralmente, aperfeiçoando ainda mais o conceito em que o quarteto já havia se estabelecido.
02. TWICE – Formula of Love: O+T=<3
TWICE (Nayeon, Jeongyeon, Momo, Sana, Jihyo, Mina, Dahyun, Chaeyoung e Tzuyu), um dos grupos femininos de K-pop mais conhecidos do mundo, entregou seu terceiro full album, Formula of Love: O+T=<3. Além de extremamente populares e consideradas o carro chefe da terceira geração do gênero, elas são atualmente o girl group mais antigo da JYP Entertainment, casa também de ITZY e Stray Kids.
Desde 2019, TWICE experimentou diversas vezes com tipos diferentes de conceitos para achar algo que se tornasse a nova assinatura. “Fancy” e “Feel Special” introduziram o novo gosto pela transformação musical das artistas, “Can’t Stop Me” voltou synthwave 80s inspired clássico da empresa de entretenimento, a vibe retrô queridinha e no começo de 2021, “Alcohol Free”, no conceito verão mais tranquilão e adulto.
Com a nova title track, “Scientist”, retorna ao nome do álbum e afirma com certeza: não há fórmula para o amor, e por mais que pareça contraintuitivo, se apoiar nos próprios sentimentos é a única resposta certa. A fundação da canção é feita com a linha de baixo consistente, mas se apoia muito mais nos vocais, na habilidade e talento do grupo, para trazer uma cor e ânimo para a música. Se fosse qualquer outro grupo de K-pop cantando, a faixa seria uma b-side e não seria nem metade do que ela é com TWICE. A falta de aspectos interessantes torna “Scientist” uma title morna.
Formula of Love: O+T=<3 é uma caixinha de surpresas para fãs antigos e novos, com diversos gêneros musicais para serem apreciados. Com o talento das nove integrantes, o álbum alcançou novos patamares para o que será esperado no sétimo ano de TWICE. Enquanto alguns fãs podem se preocupar com o que vai ser daqui pra frente, TWICE encoraja seus ouvintes a aproveitar o momento e apreciar todos os tipos de histórias de amor que elas podem oferecer.
01. Bibi – Life is a Bi…
Como qualquer outro fã de K-pop, às vezes a sensação de “ninguém está fazendo que nem os meus favoritos” prevalece, mesmo que não seja verdade. Por sorte, a solista Bibi e todos seus fãs podem dizer essa frase de efeito sem culpa. A princípio, eu considerei não colocar o EP na lista. Até mesmo porque, teoricamente, uma solista não é um grupo e ainda mais, ela não é uma “idol”. Mas é impossível dizer que Life is a Bi… não é o melhor lançamento do ano.
Composto de cinco músicas, o disco descreve a perspectiva de simplesmente estar apanhando da vida em geral. “A vida é um ciclo interminável de felicidade, tristeza, tempos difíceis e muito mais. Quando a vida bate forte em você, às vezes você só quer culpar outra pessoa por tudo”, disse a cantora em entrevista ao Hypebae.
Musicalmente falando, os ritmos típicos do R&B estão presentes, com elementos surpresa como instrumentos de cordas em “Life is a Bi…” e o leve som de triângulo no início de “Umm… Life”, assim como o som de cachorros latindo em “PIRI the dog”. Bibi surpreende o público com canções majoritariamente em inglês, com expressões clássicas americanas, e jogos de palavras que não teriam tanto impacto em coreano.
Em geral, Bibi faz o que muitos grupos femininos gostariam de fazer e não podem. Além de um conceito audiovisual complexo e extremamente interessante, com três mini vídeos, o privilégio da expressão própria pode ser difícil de se encontrar entre artistas de K-pop. Bibi fala sobre depressão, a relação abusiva e tóxica com a vida em si e saber aceitar que não há muito o que pode se fazer para mudar, mas que ela se recusa a se deixar abater.