O formato de experiências in concert tem se tornado popular entre aqueles que gostariam de fazer um programa alternativo aos fins de semana e ter a oportunidade de levar toda a família. Sediado no Teatro Bradesco, localizado no Shopping Bourbon, aconteceu em São Paulo no último sábado, 04, o espetáculo Abba Experience In Concert, contando com uma orquestra, balé coreografado e artistas ensaiados para reproduzir no palco os maiores sucessos do Abba.

A experiência, como é de se esperar, não carrega a mesma carga emocional de se assistir a um concerto dos artistas em pessoa e nem pretende tal feito, mas muitas famílias se reuniram no Teatro Bradesco para desfrutar de uma apresentação de suas músicas favoritas. A maior parte do público era composta por adultos ou pessoas de idade avançada que podiam curtir a performance com maior conforto que em um estádio ou casa de show, mas faltou à plateia certa vitalidade e disposição de participar mais ativamente do espetáculo, o que refletiu fortemente nos artistas no palco.

Caracterizadas para se parecerem minuciosamente como as integrantes originais Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad, as duas atrizes e cantoras principais demonstraram excelente habilidade vocal, mas, assim como o restante dos artistas, apresentaram baixa energia durante o show. Todas as coreografias foram prontamente executadas pelo balé e pelas duas lead singers, mas muitas vezes faltou intenção e intensidade durante as performances, assim como um contato mais profundo e sentimental com a obra que estava sendo apresentada. 

A grande preocupação do formato em trazer para o público o máximo de verossimilhança com técnica vocal e variedade de figurinos levou a certa inibição emocional por parte das performers. Como o foco desses modelos de performance está em tentar deslumbrar o público com uma montagem visualmente semelhante a um verdadeiro show do Abba, é natural que os artistas no palco priorizem mais a parte da atuação que a parte do contato sentimental com a música. Isso talvez passe despercebido pelo público geral de forma consciente, mas durante a primeira parte da apresentação foi uma parcela mínima da plateia que se mostrou disposta a cantar, dançar e interagir com o espetáculo.

O grupo também parecia estar enfrentando alguns problemas com a iluminação do teatro. Durante vários momentos, os dançarinos que estavam em segundo plano tinham como única iluminação apenas as luzes de fundo, o que dificultava uma boa visão das coreografias cuidadosamente montadas. Até mesmo as cantoras em primeiro plano enfrentaram problemas técnicos como o atraso de holofotes sendo ligados em suas marcas ou uma perceptível demora na troca de layout da iluminação principal. 

O público e os artistas pareceram sentir-se mais confortáveis uns com os outros depois da segunda metade do show, e as cantoras convidaram todos a se levantarem e dançarem “Dancing Queen” com eles, encerrando a noite em um clima mais divertido e descontraído. Os atores representando os integrantes Björn Ulvaeus e Benny Andersson tiveram pouquíssima participação ativa no espetáculo, mantendo-se sempre nas laterais do palco e tocando seus instrumentos, e não falando com a plateia a não ser para se despedir.

É difícil qualificar as experiências in concert no geral, devido a seus variados formatos e variados públicos. A noite seguinte realizou a Pink Floyd Experience, e o mês de julho trará duas datas dedicadas aos fãs de Queen. Ingressos estão à venda. É inegável que o formato traz a possibilidade de presenciar sucessos favoritos ao vivo e vibrar com a experiência, mas a vibração do teatro depende muito da conexão entre público e artista, e às vezes um tem dificuldades de apoiar ao outro, o que enfraquece a sintonia entre ambos. 

A primeira sessão de sábado da Abba Experience com certeza encantou os olhos com sua explosão de cores e figurinos detalhados, e teve suas músicas executadas com eficiência, mas deixou um pouco a desejar quanto a transformar o Teatro Bradesco em um espaço vivo de alegria mútua e conexão real. Para aqueles que se sentem satisfeitos em ouvir os grandes clássicos que foram a trilha sonora de sua vida, porém, e desejam se deixar levar de volta aos anos 70, a experiência pode ser proveitosa o suficiente.

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