Still caminha pelos detalhes da vulnerabilidade dos sentimentos de Erika de Casier. O terceiro álbum de estúdio da portuguesa aprofunda-se na era pós-anos 2000, o pop experimental, sem esquecer é claro, da forte influência do R&B. O sucessor de Sensational foi lançado no final de fevereiro e conta os altos e baixos do ponto de vista das experiências amorosas e momentos de solidão da artista.

O trabalho da compositora disseca quase que por completo suas emoções. Erika, além de cantar, produz e compõe suas obras. A artista possui uma postura introspectiva e tímida em apresentações, já em suas produções explora todos os recursos criativos da sua mente.

“Bem-vindo, vai ser muito divertido” – É no escapismo de “Right This Way”, que a cantora aposta se envolver em uma aventura, a fim de explorar seus desejos e a excitação de estar longe das preocupações que assolam a sua mente. De Casier traz elementos sonoros envolventes, assim como era feito nas canções de Ashanti, com o característico som de brilho caindo de “Foolish”, e a base rítmica de “Didn’t Cha Know” de Badu.

“Lucky” fala sobre a sorte de encontrar alguém que torna fácil amar. É uma canção com instrumental acelerado, sampleando “Can’t Let Go”, da Kiraly Linda. “É errado da minha parte querer todas as coisas que me foram mostradas durante toda a minha vida? Porque eu quero tudo”. A base minimalista de “The Princess”,  dá força a voz e a composição, a artista dialoga acerca das suas vontades, daquilo que à foi prometido socialmente: ser mãe e ainda ter uma carreira, mantendo dentro de si os seus sonhos. 

Erika encara muitos dilemas em Still e expõe como se sente em seus pensamentos acelerados. A artista parece buscar compreender a si mesma e as suas relações, expressando a dificuldade em alinhar todas essas coisas. Esteticamente, a europeia de 34 anos entrega um visual futurista e confiante na capa do disco, vestindo um trench coat de couro e óculos escuros em meio a um fundo infinito espelhado. 

“Está tudo bem, é só drama, amor. Escrevi uma música sobre isso (foi sensacional)”. A intensa “ooh” libera sensualidade e brinca com a voz em toques sintetizados, além de fazer referência a um dos grandes sucessos da artista, a faixa “Drama”, do álbum Sensational. “Believe It”, “Toxic” e “My Day Off” seguem na camada de músicas envolventes e cheias de texturas sonoras que lembram os clássicos da inesquecível Aaliyah. Enquanto “Anxious” traduz a complexidade de seus sentimentos em um arranjo melancólico e sólido. 

Shygirl, Blood Orange e They Hate Change em Still

A multitalentosa De Casier, realizou feats especiais no álbum. A dupla norte-americana de rappers, They Hate Change entrou na faixa “ice” com um fervoroso drum & bass. O músico Dev Hynes, artisticamente conhecido como Blood Orange, participou da música “Twice”, em um monólogo vulnerabilizado, “Você sabe que minhas paredes estão contaminadas” / “Eu estava ansioso para correr para casa. Mas você me faz sentir bem-vindo” – Dev recita uma ode aos seus traumas. A canção é um grande destaque, um claro retrato ao medo do que ficou para trás e da esperança de novas promessas. Shygirl, que esteve em 2022 no Brasil, na primeira edição do Primavera Sound São Paulo, embalou um pop experimental em “Ex-Girlfriend”. 

O projeto traz nuances sonoras com composições profundas, nostálgicas e íntimas. Inicialmente é um álbum complexo, e apesar de não ser longo, possui camadas de frescor da produção genial de Erika. 

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