Existem canções que, por mais que façam parte de um gênero específico, parecem se misturar e se tornar algo totalmente desconhecido. O novo EP de Bernardo, Wasn’t There, Someone Told Me, se inclui nessa definição.

A artista traz uma coletânea de quatro faixas misturando jazz alternativo e indie, atravessando o dream pop, o característico pós-punk dub londrino e o soul psicodélico. Ela produziu junto com Dave Maclean, do Django Django e compôs com a participação de Skinny Pelembe.

Mostrando profundo amor pelo poder da melodia, Wasn’t There, Someone Told Me é inspirado na bossa nova e explora temas de pertencimento, identidade e auto-avaliação. Em conversa exclusiva com a Mad Sound, Bernardo conta sobre essas temáticas e seu processo produtivo.

“O EP foi um exercício de autoconhecimento brutal numa fase em que eu precisava mesmo disso. Ele nasceu do meu maior ‘problema’ na vida, que é que eu me sinto sempre de fora e sou sempre ‘a outra’”, contou. “Então eu sempre ouço histórias, mas sinto como se eu nunca fizesse parte”. 

Bernardo explica, entretanto, que reconhece que em algum momento precisa deixar de lado essa sensação e realmente fazer parte das histórias e vivências que busca.

“Essa insegurança talvez venha por eu ser portuguesa, mas nascida em Londres. Sempre me achei fora do lugar”. A cantora ainda disse que há uma distância entre o narrador e o som, e por isso ela decidiu batizá-lo de Wasn’t There, Someone Told Me (Não estava lá, alguém me contou, em tradução livre). 

Nascida em Londres e criada em uma pequena aldeia no interior de Portugal, Sonia Bernardo compunha suas próprias músicas aos 10 anos de idade, inspiradas no gênero tradicional do país, o fado. 

Ela diz também que acha o EP um pouco estranho. Nas quatro canções, os gêneros explorados abrem um caminho para algo novo e incomum. Talvez a perspectiva de encontrar algo autêntico e não ver de fora seja, de fato, estranha. 

Sobre seu processo criativo e como começou as gravações do disco, ela disse que escreve tudo em casa e ao chegar no estúdio, grava por cima das demos que já tinha. Ela também contou com a ajuda de amigos e parceiros da cena musical de West London.

“Tive muita sorte que os meus amigos do Django Django tinham acabado de gravar o seu disco, então eu pude usar o estúdio deles para gravar o meu EP”. Além de Dave Maclean, Sonia trabalhou com Phil Manzanera (guitarrista dos Roxy Music): “Ele é meu mentor e me guia nesse percurso de achar o meu próprio som”, afirmou.

Entre suas influências, ela cita os Fadistas, que abrangem uma cor musical mais melancólica. “Também muito influenciada por artistas MPB, como a Maria Bethânia (minha rainha) e jazz, como a Nina Simone e no soul, Erykah Badu”, explica. Além disso, contou que ama a cena inglesa dos anos 80 e 90, como o Beta Band e Broadcast.

Quando a onda indie atingiu o Reino Unido, Sonia ainda era uma rebelde adolescente quando decidiu voltar para Londres. Lá, ela começou a aprimorar seu ofício como produtora e guitarrista, foi quando se deu conta que tinha uma incrível voz e habilidade para escrever canções.

Seu primeiro EP, Panic Prayers, lançado em fita cassete e digitalmente em 2019, foi uma joia pop sensual da música de guitarra underground e confirmou o lugar de Bernardo como um dos novos talentos mais emocionantes de Londres.

Ouça Wasn’t There, Someone Told Me:

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