Em Na Natureza Selvagem, obra de Jon Krakauer, e do filme do mesmo nome, o destemido viajante Alex Supertramp chega em uma conclusão: “A felicidade só é verdadeira quando é compartilhada.” Há quem discorde com a descoberta, mas no caso de Eddu Porto, dividir sua jornada de autoconhecimento e permissão com o público através da arte, pode não ter deixado a experiência mais verdadeira, mas com certeza se tornou mais especial ainda.

O baterista da ATR e sócio-fundador da agência Let’s Gig, pode até ter 15 anos de carreira na estrada, vivendo e respirando a música, mas foi neste ano que através de uma verdadeira viagem em busca de si mesmo que o mundo (e o próprio Eddu) tiveram a oportunidade de conhecer a obra do músico como artista solo através dos singles “Estamos Vivos” e “Calma”. Viagem esta que, com sorte, não possui data de retorno, e que Porto compartilha um pouco de seu itinerário em entrevista com o Mad Sound, leia abaixo.

Mad Sound: Tanto “Estamos Vivos” como “Calma” possuem uma composição digna de ser uma voz da consciência aconselhando alguém. Como essas composições aconteceram, e de quais cenários elas nasceram?

Eddu Porto: Percebo que tanto as duas músicas, quanto lançar esse projeto, estão mais ligados ao inconsciente na verdade. A partir de sensações de anos, essa vontade de me abrir só aconteceu por escutar esse inconsciente, claro que tendo mais consciência a partir do autoconhecimento. Mas foi ele que guiou e fortaleceu essa coragem que me faltava para expor isso tudo. A primeira, “Estamos Vivos” nasceu há mais de 4 anos, impulsionado por exercícios diários que coloquei como meta para destravar na composição e conseguir me expressar através da palavra musicada. Ela também foi impulsionada pelos textos de Aline Bei, escritora que acompanho e que na época a gente conversava bastante.

A segunda, “Calma” nasceu durante a quarentena, como um pedido pra mim mesmo para ter calma durante esse processo difícil em paralelo a um aprofundamento sobre questões internas e autoconhecimento. Além disso, ela foi a última que compus, então em 1 semana já tinha letra e todo arranjo, por conta do acúmulo do exercício de compor, de me expressar.

MS: Como a música e o autocuidado se encontraram para você durante o isolamento?

EP: Foi durante o isolamento que me aprofundei em processos que buscavam um maior autocuidado como meditação, yoga e terapia. Isso fez eu me conhecer muito melhor e ainda faz, para assim me apresentar, me expor. Como estava em quarentena, sem ter que viajar toda semana com minha banda ou algum projeto da Let’s GIG, agência que sou sócio, tive mais tempo para colocar as ideias no papel, gravar finalmente algumas músicas como experiência e fazer uma pré produção. Assim fui lapidando a estética com o que eu buscava das músicas e entendendo também o momento de apresentar cada uma, com mais coragem para me abrir.

MS: Ao escolher um ano apocalíptico para causar um apocalipse em sua própria vida lançando a carreira solo, o que te fez perceber que este era o momento certo para compartilhar com mundo sua arte?

EP: Acho que ouvindo melhor essa voz do inconsciente, me conhecendo melhor. Quando fui em uma taróloga, o tarot só afirmou o que eu pensava. Era preciso me destravar, me abrir, me expor sem medos. Isso se confirmou ainda mais quando busquei o mapa numerológico e tudo se conectava. De acordo com esse mapa, eu estava exatamente no meu ano 1. Um ano para criar, realizar, colocar projetos em prática e desenvolver a individualidade. A somatória disso tudo foi o que me motivou ainda mais a entender que era a hora certa.

MS: Ao passar esse tempo na estrada com o ATR, quais ensinamentos e experiências você acredita que mais estão reverberando agora com o projeto solo?

EP: Com certeza a estrada ensina muito. Tanto a convivência com outras pessoas, quanto a entender melhor as produções musicais, como soa nos próprios shows, assistir diversas apresentações e ter contato com outros artistas. Acredito que essa bagagem de repertório foi essencial para dar esse passo. Também destaco a pesquisa na música eletrônica, a partir de sintetizadores, que estão presentes em todas minhas músicas.

MS: O próximo single tem previsão para fevereiro de 2021, o que você pode nos adiantar sobre ele?

EP: O próximo single será o terceiro desse começo de trabalho. Posso adiantar que ele já está um passo bem firme à frente dos outros dois, porque dessa vez juntei uma banda incrível para gravar, ao invés de gravar tudo sozinho em casa. Ainda gravei com melhor estrutura, no estúdio Trampolim em SP, junto com a produção de Habacuque Lima. A novidade é que será meu primeiro feat com uma cantora que também é baterista! A banda é formada por Michele Cordeiro (guitarrista – Emicida), Lua Bernardo (baixista – Luedji [Luna]), Donatinho (sintetizadores), Daniel Pinheiro (bateria – Xênia França) e Estela Paixão (backings e direção vocal – Aláfia).

Categorias: Descubra Notícias