O mundo ainda não tinha caído aos pedaços quando a VUKOVI lançou seu segundo álbum em 2020. Era fim de janeiro e o início de uma nova década, e a vocalista Janine Shilstone tinha realizado sua meta de lançar um disco “distópico” e “ambientado no futuro”, como ela mesma o descreveu. O nome não podia ser mais apropriado – e nem mais profético: Fall Better.

Se aventurar pelas músicas do Fall Better é como embarcar numa jornada imersiva por um mundo alternativo e futurista. Ao dar play no álbum, somos recebidos por uma voz robótica nos dando as boas-vindas e nos convidando a adicionar créditos antes de acessar o conteúdo. Antes de prosseguir, somos avisados que o material contém “linguagem forte, temas sombrios e alguns riffs sujos pra caralho”. Logo a seguir, somos pegos de supetão pela força e a potência da música de abertura, “Violent Minds”. Daí em diante, o único caminho a seguir é em frente.

Antes do apocalipse, a gênese; “vukovi” é a palavra sérvia/croata para “lobos” ou “wolves”, que era como a banda se chamava antes da chegada de Janine Shilstone nos vocais, em 2010. Apesar do longo tempo de formação, o primeiro álbum, autointitulado, só chegou em 2017.

Diretamente da Escócia, a VUKOVI se juntou à cena pop punk com criatividade, autenticidade e apostando todas as fichas em uma estética visual acentuada. Chegando com riffs de guitarra potentes e a voz marcante e melódica de Janine, a banda caiu naturalmente num espectro que fica entre os trabalhos mais antigos do Paramore e os mais recentes de Bring Me The Horizon. Adicione a tudo isso muita cor neon, pintura corporal conceitual e um apelo para os “weirdos” que não se encaixam, e temos um diamante bruto escocês.

O disco de estreia da VUKOVI (que começou como um quarteto e atualmente é formada por um duo) já mostra potencial de crescimento, mas é o segundo álbum que acaba se provando a melhor introdução para a banda. Experimentando com sons eletrônicos unidos ao noise pop e ao peso da guitarra, Janine Shilstone e Hamish Reilly criaram um disco “semi-conceitual” que viaja por temas de auto aceitação, acolhimento, perda, angústia e metáforas para ilustrar o diagnóstico que Janine recebeu de um Transtorno Obsessivo Compulsivo do tipo “fusão pensamento-ação”.

Em entrevista à NME, Janine falou sobre o estado mental causado por reflexos de sua condição. “Eu acho que alguém está me seguindo,” contou a artista. “Eu nunca me sinto sozinha em uma sala, eu sempre acho que aquela ‘coisa’ está ali comigo. Se eu faço algo ruim, ela vai me punir. Se eu faço algo bom, ela vai me recompensar.” Várias músicas no Fall Better podem ser encontradas fazendo referência à saúde mental da cantora, onde essa “coisa” ou “sombra” aparece às vezes sobre a forma de um “ele” e às vezes sobre a forma de uma “ela”.

Em meio a uma onda de novos nomes do pop punk, a VUKOVI se destaca pelo casamento bem-sucedido entre música e identidade visual, criando uma experiência imersiva onde um é tão importante quanto o outro. Sem o orçamento necessário para grandes produções ou diversidade de cenários, a banda decidiu explorar o simples a fim de que ele se torne inesquecível. A maioria de seus videoclipes é caracterizada apenas por imagens dos integrantes tocando seus instrumentos ou a câmera focada em Janine, mas a aposta em cores fortes, maquiagem criativa e figurino expressivo ajuda a fixar a imagem da banda na mente dos espectadores. É impossível separar a VUKOVI de uma paleta de cores neon, sempre presente nas roupas, na pintura corporal ou na estética geral de seus projetos.

Seja pelo som contagiante, a voz encantadora de Janine ou a estética visual impecável, existe algo de fascinante na VUKOVI que grita por atenção. A autenticidade da banda em meio ao comum e sua originalidade espalhada pelos lugares mais simples formam a imagem de uma gigante ainda desconhecida, mas no mesmo nível de muitos nomes relevantes na indústria. Felizmente, a VUKOVI não está esperando a chegada da fama para brilhar: dentro do próprio (quase) anonimato, ela ofusca.

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