LOVA responde a todas as minhas perguntas com muita empolgação e um grande sorriso no rosto. A cantora sueca está experimentando um boost na carreira desde que sua canção “Lonely Ones” foi incluída na trilha sonora da série adolescente da Netflix, Young Royals. Para agradecer a recepção, foram lançados lyric videos da faixa em cinco línguas diferentes, inclusive português.

Assim como as outras canções de seu excelente álbum de estreia Grown-ish (2021), “Lonely Ones” fala com sensibilidade e delicadeza sobre se sentir de fora de certas situações e não participar de grandes momentos memoráveis com seus amigos. Para os fãs de Taylor Swift e Olivia Rodrigo, Grown-ish é um álbum essencial na discografia, navegando sentimentos de solidão, inadequação, aceitação e descoberta.

Em entrevista ao Mad Sound, LOVA conta como aprendeu a lidar com sua introversão e como fez as pazes com os momentos que acabou perdendo na juventude por não ser tão sociável quanto o restante de seus colegas. Confira a entrevista na íntegra:

Mad Sound: Olá, LOVA! Como você está?

LOVA: Estou muito bem, obrigada! E você?

MS: Tudo certo! Estou muito feliz de falar com você. Minha primeira pergunta é pra te conhecer um pouco melhor. Gostaria de saber como você se interessou por música e como soube que era algo que gostaria de fazer.

L: Comecei a escrever músicas quando tinha 6 ou 7 anos. Comecei bem cedo e vou dar os créditos ao meu pai por ter me apresentado o que era música porque ele costumava cantar. Tenho fotos de quando eu era mais nova sentada ao piano ao lado dele. Ele costumava cantar muita ópera, mas nunca seguiu isso como uma profissão. Era mais um hobby. Mas música era algo que minha família inteira tinha em comum, inclusive meus avós. Muitos deles gostavam de música, então me pareceu natural começar a escrever canções.

Eu também era definitivamente uma criança introvertida, então eu precisava de algum canal para expressar como eu me sentia, meus sentimentos e opiniões, porque eu não era aquela criança na escola que era falante ou que gritava sobre o que estava sentido ou contava para as pessoas sobre minhas inseguranças. Então eu precisava de um meio de fazer isso e, pra mim, foi escrever músicas. Eu não pretendia que outras pessoas as ouvissem ou pensava que queria ser artista. Acho que isso foi crescendo em mim durante 8 anos e também foi um combo de descobrir quem são seus próprios ídolos e ouvir minhas próprias músicas e ir a shows.

Eu lembro que um dos primeiros shows que fui foi o da Robyn [DJ, produtora e cantora sueca] e deu pra ver claramente como é possível fazer isso como uma profissão também. Acho que quando você é jovem, você não percebe que quer ganhar a vida com isso. E quando eu percebi que era isso que eu queria, eu entrei de cabeça nisso. Eu frequentei escolas de música desde os meus 10, 11 anos e desde o dia que eu decidi que queria fazer isso eu nunca tive um plano B. Então espero poder fazer isso pelo resto da minha vida.

MS: Você disse algo muito interessante sobre ser introvertida e ter um pouco de dificuldade em expressar seus sentimentos. Ouvindo seu álbum Grownish eu senti bastante disso. Eu amei as composições desse álbum e o storytelling. Você contou algumas histórias muito bonitas que parecem ser muito pessoais para você. Elas são?

L: 100%. Eu não consigo escrever ficção, sou terrível com isso. Eu sofri bastante durante a pandemia porque, obviamente, não tinha muita coisa acontecendo, e mesmo depois de lançar o álbum eu venho escrevendo bastante, então eu me senti muito vazia e meio oca, de certa forma, porque isso tinha me dado vazão por tantos anos. Eu compartilhei cada pensamento, sentimento e opinião que eu tinha e o meu foco em 2020 deveria ser viajar, conhecer pessoas novas, só para adquirir mais inspiração na minha vida, mas aí eu não podia fazer essas coisas.

Então eu tentei olhar para dentro e escrever, mas não tinha nada acontecendo e nem algo sobre o qual eu quisesse escrever. Então foi muito difícil escrever algo que parecesse genuíno e honesto porque, pra mim, não precisa ser 100% algo que eu tenha vivenciado de A a Z eu mesma, mas eu preciso ter algo ali com o qual eu possa me conectar. Do mesmo jeito que outras pessoas com certeza fazem com a minha música e outras músicas. O modo como elas podem interpretar uma canção de um jeito e aí pra outra pessoa vai ser uma história completamente diferente. Você pode pegar uma música e somar a ela sua própria vida e suas próprias experiências. Então eu penso que se eu pelo menos tenho minha conexão pessoal com as músicas, eu estou bem.

MS: Eu notei que você fala bastante sobre o medo de perder oportunidades ou não ser parte de algo que todo o resto parece fazer parte. Acho que muitas pessoas podem se identificar. Como você lida com esses sentimentos de insegurança ou dúvida ou de talvez pensar que a vida parece ser mais interessante para as outras pessoas?

L: Eu definitivamente melhorei muito em relação a isso. Eu vi um vídeo esses dias que fala sobre o medo de perder oportunidades que agora se transformou na alegria de perder oportunidades. Eu amo passar uns dias em casa, ficar sozinha um tempo, eu definitivamente me apeguei mais a isso. Mas acho que, pra mim, o que mais ajudou foi, em primeiro lugar, escrever sobre os meus sentimentos. E mesmo que você não escreva, talvez falar sobre o que você está sentindo.

Eu entendo que muitas pessoas sofrem com isso porque elas não têm um ambiente em casa em que possam conversar com os pais. Eu tenho muita sorte de ter crescido em um lar muito aberto onde nós basicamente falamos sobre nossas emoções, o que pode ser meio desgastante, por um lado [risos]. Mas não precisa ser um parente ou até mesmo um amigo. Às vezes, quando eu era mais nova, eu gostava de falar comigo mesma na frente do espelho.

Existe algo especial em dizer as coisas em voz alta ou colocar no papel. Desse jeito você consegue ver tudo sob um outro ponto de vista e consegue desvendar seus sentimentos de outra forma. Se não for assim, essas coisas podem ficar emperradas na sua cabeça rodando em círculos e ciclos ruins e cavando um buraco para você mesmo que é muito grande e muito fundo.

Acho que é legal conversar sobre isso porque quando você começa, você percebe que muitas outras pessoas estão passando pelas mesmas coisas e isso te traz uma sensação de conforto e segurança. É um sentimento muito bom saber que você não está sozinho no modo como se sente e nas suas inseguranças e nas coisas pelas quais está passando. 

Minha maior sugestão seria essa; ser sincero consigo mesmo e com as pessoas ao seu redor. Expressar como você se sente. Talvez você seja introvertido. Eu não era alguém que gostava de ir a muitas festas. Eu sentia que estava pisando nos calos das pessoas, tipo, “Ah, se eles não me convidaram é porque não me querem lá”, mas eventualmente eu notei que era só um ciclo ruim de repetição porque eu cancelava esses convites muitas vezes, então as pessoas pararam de me chamar porque assumiam que eu só não queria ir.

Foi uma grande falta de comunicação então eu acho que é muito bom expressar como você se sente para que as pessoas possam se ajustar a isso e saber como elas pudem mudar certos padrões ou maneiras. Comunicação sempre é a chave.

MS: Acho importante que pessoas como você falem sobre isso e fico feliz que você tenha feito as pazes com isso de certa forma. É muito legal chegar a essa lugar de aceitação em que você percebe que talvez não seja tão extrovertida quanto o resto das pessoas.

L: Com certeza. Acho tudo muito doido porque eu sou introvertida, mas eu faço música e me apresento em palcos e converso com as pessoas o que são, se você pensar clinicamente, coisas bem extrovertidas. Acho que todo mundo tem essas diferentes personalidades dentro de si e você só precisa encontrar sua plataforma ou um hobby ou algo espaço que te faça sentir confortável e em paz o suficiente para conseguir expressar todos esses lados. Sou muito sortuda por ter encontrado isso.

MS: Quero falar um pouco sobre sua música “Lonely Ones”, que está na trilha sonora de Young Royals, na Netflix. Isso é algo muito grande pra você, então como você se sente?

L: É incrível, eu estou muito feliz por essa música. É quase uma experiência fora do corpo. Estou absorvendo tudo e leio cada comentário e eu aprecio muito todo o amor que recebo, mas sinto que a música está se tornando maior que eu e eu espero que essa canção possa viver pra sempre.

Acho que as pessoas sempre vão precisar ouvir essas palavras e coisas sobre as quais a música fala. Nós sempre vamos ter esses sentimentos de insegurança e solidão, sempre vai ser uma experiência geral. Então estou muito feliz. É muito legal ver como a canção foi lançada há dois anos e ela ganhou uma vida completamente nova e novos fãs e tudo o mais. É muito incrível. Eu leio todos os comentários e histórias sobre o quanto ela representa para eles e é muito legal.

MS: Vocês fez vários lyric videos para essa canção em várias línguas diferentes, incluindo português, o que é muito legal. O que significa pra você, saber que as pessoas do mundo inteiro estão ouvindo sua música?

L: Loucura. Essa é uma das coisas que você não consegue realmente absorver, eu acho, até o momento em que você vai até lá e faz um show e conhece as pessoas. Porque agora o sentimento é de que, é claro, estou falando com muita gente nas redes, mas também muito disso é só ver os números subindo e muitas coisas giram ao redor de estatísticas e dados e tudo mais.

Acho que assim que você começa a conhecer essas pessoas e passa a ouvir as histórias delas é quando tudo se torna real e você realmente compreende. Mas é muito insano com uma música que eu escrevi aqui em Estocolmo pode se espalhar para todos os lugares. É algo com o qual eu tenho sonhado minha vida inteira. Sou muito, muito sortuda em poder fazer isso.

MS: Você recebe muitas mensagens dos seus fãs no Brasil?

L: Sim! Eles são tão amáveis e muito dedicados. Os fãs brasileiros são os melhores em fazer fanarts e colaborações. Eles são tão criativos e empenham muito esforço e muito tempo para fazer as coisas serem um pouco mais especial. Todos são tão doces e estão sempre mostrando o amor deles com fanarts ou imagens. 

Eles fizeram um vídeo caseiro com uma das minhas músicas e era tão ambicioso, o que eu adoro! É muito legal ver todas as diferentes criações onde eles usam minhas músicas. Eles são muito, muito amáveis e muito generosos com as palavras, o que é adorável.

MS: Podemos esperar uma visita sua em breve?

L: Eu espero que sim! Se dependesse de mim eu iria amanhã mesmo [risos]. Seria tão legal. Eu estive no Brasil quando tinha 7 anos durante um mês inteiro e até hoje é uma das melhores viagens que já fiz. Tenho muitas memórias dessa viagem, então adoraria voltar.

MS: Você conhece um pouco da música brasileira?

L: Eu sou muito ruim em conhecer música brasileira, na verdade. Eu vi a Anitta no Lollapalooza em Estocolmo e foi incrível. Acabei de ver que ela foi nomeada ao Grammy e isso é muito legal. Aceito as melhores dicas de vocês porque eu quero muito conhecer melhor seus artistas.

MS: Vamos pedir pros seus fãs te indicarem alguns! Eu só tenho um minuto restante, então minha última pergunta é sobre seus projetos futuros. Quero saber se você está trabalhando em algo novo agora e o que podemos esperar de você.

L: Estou trabalhando em músicas novas! Já sei qual vai ser meu próximo single, ele será lançado no início do ano que vem. Provavelmente também sei a música que vem depois dessa.

No momento tenho trabalhado para montar meio que um plano de lançamento e se quero fazer outro álbum completo ou um EP ou se são só músicas a serem lançadas no próximo ano. Ainda estou descobrindo toda essa estrutura, mas com certeza eu sei cada vez mais o tipo de som que eu quero, então eu já testei um pouco disso. 

Agora estou explorando um pouco mais das referências pop e também mais punk, mais energético, mas também estou fazendo baladas agora [risos]. Nesse momento estou meio que dividida no meio de algo. Acho que ter duas coisas diferentes com dois tipos de sons seria muito legal. Não tenho certeza. Ainda estou na fase criativa, mas sei que vou lançar músicas novas no começo do ano.

MS: Isso é ótimo! Eu adoraria conversar mais sobre isso, mas não tenho mais tempo. Espero poder falar com você novamente. Obrigada pela conversa, espero te ver no Brasil em breve.

L: Seria incrível. Muito obrigada!