Em abril, Seafret lançou seu novo álbum de estúdio, Wonderland (2023). Feito parcialmente durante a pandemia, o disco foi produzido em sua maioria pelo integrante Harry Draper, que aproveitou o tempo livre para se dedicar a essa área da música.

Em setembro, a dupla preparou uma playlist exclusiva para o Mad Sound com as referências de seu EP Anywhere From Here (2022). Agora, depois do álbum, nós conversamos com Harry Draper e Jack Sedman sobre Wonderland, o carinho dos fãs brasileiros e um possível retorno ao Brasil.

Confira a entrevista na íntegra:

Mad Sound: Quero começar falando um pouco sobre o álbum. Gostaria de saber mais sobre a história por trás do nome, Wonderland, e a faixa-título que está no álbum.

Jack: Muitas das músicas foram escritas quando não podíamos nos encontrar, então começamos em um lugar mais sombrio e acabou com a gente se reunindo depois de um longo tempo e voltando ao estúdio para trabalhar. Então algumas músicas tinham essa nostalgia de tempos em que nós podíamos fazer as coisas e isso era subestimado na maior parte do tempo. Então é meio que um álbum de olhar para trás, e “wonderland” [“país das maravilhas”] parecia ser o tema certo para a coisa toda e para unir tudo.

MS: Também me passou o sentimento de crescer e deixar algumas coisas para trás que não voltam mais.

Jack: Sim, tem muito disso também. É uma dessas músicas que podem ser interpretada de várias formas, mas acho que o sentimento principal é aquela liberdade infantil que todos nós temos quando somos jovens. Aí você cresce e adquire responsabilidades, monta uma família, e tudo muda. Mas existe uma beleza nesse tipo de inocência no início da vida, não é? E é sobre isso.

MS: Vocês também relacionam isso com o início do Seafret comparado a onde vocês estão agora?

Harry: 100%. Quando começamos [o Seafret], nós só amávamos ser parte daquilo. Nos conectamos logo de cara e não estávamos fazendo aquilo por ninguém além de nós mesmos. E quando conseguíamos fazer shows, era algo só nos pubs e bares locais, tocando em troca de cerveja grátis. Não havia amarras e nem responsabilidades, sabe? Mas agora isso está se transformando em algo incrível e nós nos apresentamos ao redor do mundo. Existe mais pressão para continuar nesse ritmo, mas nós amamos. Nos sentimos muito sortudos.

MS: Vocês trabalharam nesse álbum durante dois anos e no meio de tudo veio a pandemia. Eu sinto que muitas das suas experiências pessoais e emoções estão refletidas nesse álbum e na sua música como um todo. Quais experiências ajudaram vocês a moldar o Wonderland para se tornar o álbum que ele se tornou?

Jack: O principal foi a pandemia. Foi um grande choque de realidade. Às vezes, as pessoas que você mais amava estavam morando do seu lado e você não podia visitá-las, sabe? E de repente, quando você não podia vê-las, você queria vê-las. Isso foi um choque pra mim. Mas nós nos unimos de maneiras diferentes no meio disso. Nós também escrevemos muitas das músicas de maneira diferente durante aquele período porque, obviamente, não podíamos nos ver. Então mandávamos ideias um pro outro no WhatsApp e coisas assim.

Foi interessante trabalhar desse jeito porque, normalmente, nós nos juntamos e o Harry começa a escrever ou a trazer ideias e eu escrevo com base nisso. Mas isso nos permitiu um pouco mais de espaço para realmente pensar no conceito da música e no significado, antes de eu interromper o Harry, basicamente [risos]

Harry: Eu me empolguei um pouco [risos]

Jack: O Harry aprendeu a produzir sozinho durante a quarentena, o que obviamente foi um ponto positivo. 

Harry: Bom, algo de positivo tinha que ter [risos]. Mas, é, eu basicamente produzi o álbum e não teria feito isso se não tivesse tido o tempo e o espaço necessários para me dedicar a esse modo de fazer as coisas. Estou muito orgulhoso disso. Definitivamente foi um ponto positivo em meio a tudo. Mas acho que o álbum inteiro tem esse sentimento de… “Wonderland” resume tudo pra mim. “Me leve de volta ao País das Maravilhas” é só porque estávamos sentindo saudades de todo mundo.

MS: Eu gostaria de saber mais sobre o processo de produção porque sei que o Harry foi uma grande parte disso, mas vocês também trabalham com Cam Blackwood e Alex Oldroyd. Como foi?

Harry: Foi incrível. Eu amo o Cam há anos. Sou meio fã dele porque amo as coisas que ele fez com o George Ezra e tudo mais. Ele finalizou [o álbum] e foi tão legal tê-lo trabalhando nisso, sabe? Ele meio que trabalhou nos últimos 5% e isso realmente transformou o disco naquilo que ouvimos agora. 

Eu estava definitivamente sendo um fanboy, mas agora ele é um fã das minhas coisas também, então nós agimos igual fanboys um do outro quando nos vemos.

MS: E quando você decidiu que queria produzir esse álbum, Harry? Houve algum momento especial ou foi algo natural?

Harry: Acho que sempre tive essa vontade dentro de mim. Sempre pensei no assunto, eu só não tinha tempo. Então, literalmente, nós terminamos a turnê, estávamos em lockdown, e eu comprei um novo computador e soube que precisava fazer isso. Eu tinha muito tempo livre, acho que teria ficado louco. Mas eu sempre tive esse interesse, sempre observei o trabalho dos produtores que fizeram os discos anteriores. Pensei: “Esse é o meu momento” e coloquei tudo o que eu tinha nisso. 

Eu ficava acordado até altas horas da madrugada vendo vídeos no YouTube e assistindo vários tutoriais e aprendendo maneiras diferentes de fazer as coisas. Estou muito orgulhoso do resultado. Foi um grande momento de orgulho quando o álbum saiu e eu pude segurar o CD. Tem tanto trabalho que vai em cada suspiro e em tudo que envolve [um álbum]. É incrível.

MS: De que maneira vocês acham que o Wonderland se destaca das coisas que vocês fizeram antes?

Jack: Eu diria que é ainda mais a nossa cara porque [Harry] trabalhou na produção. Existe um elemento diferente na maneira como escrevemos as músicas e como elas são feitas. Acho que isso leva as coisas a outro nível porque, enquanto compositores, você escreve uma música e o produtor está fazendo a mágica dele e você escreve ideias e versos diferentes, mas ele também tem ideias próprias sobre a produção.

Então, no fim do dia, você tem cinco ou seis elementos na faixa que foram inseridos de maneira gentil e que soam bem, mas, talvez, se você estivesse fazendo aquilo, aquele não seria seu processo de pensamento. Por outro lado, cada pequeno som, cada batida, cada lacuna que existe ali é algo que você pensou e que você elaborou. Eu sempre soube que você [Harry] ia acabar produzindo.

Harry: Foi divertido. E, é claro, o Jack continua escrevendo as músicas, então acho que isso une as coisas.

MS: Esse álbum também parece mais otimista. Vocês tiveram esse sentimento enquanto trabalhavam nele?

Jack: Eu me senti bem.

Harry: Eu também. Ninguém estava nos pressionando. Nós não tínhamos nenhum tipo de pressão porque todo mundo estava meio que no mesmo barco com a quarentena e tudo mais. Acho que a falta de pressão, a inocência de aprender algo novo que você ainda não domina… Sabe quando você conhece algo de trás pra frente e sabe como fazer e conhece o sistema e todas as fórmulas? Mas quando você está aprendendo conforme se aprofunda, é algo muito inspirador. Foi assim que foi divertido.

MS: Achei muito divertida a ação que vocês fizeram com os fãs para o vídeo de “See, I’m Sorry”. Como foi pra vocês ver o resultado do que eles mandaram?

Jack: Nós não fazíamos ideia de qual seria a reação deles. Nós falamos com a nossa equipe sobre essa ideia de fazer um vídeo em que as pessoas mandariam vídeos delas segurando plaquinhas e tudo o mais. Mas acho que o prazo final era meio apertado. Normalmente é assim com a gente, geralmente nós temos duas semanas pra deixar tudo pronto [risos]. Não sei por quê. Mas a resposta foi incrível. Tivemos muitas e muitas pessoas mandando vídeos. E foi muito difícil escolher entre todos os vídeos porque eles tinham emoção e eram honestos e genuínos. Eram fãs genuínos que genuinamente amaram a música. E ver todos os países diferentes é surpreendente.

Harry: Nós realmente não estávamos esperando isso. Nós temos uma ótima conexão com nossos fãs e eles sempre estiveram prontos para nos ajudar e tudo mais, mas nós não sabíamos que receberíamos tantos [vídeos]. Jack e eu passamos um dia inteiro filmando, só pro caso de não recebermos o suficiente. 

Jack: Nós tínhamos o vídeo inteiro. Fomos até nossa cidade natal, onde começamos tudo. Literalmente cantamos na praia, um monte de gente estava olhando pra nós, foi super constrangedor. E no fim não usamos nada disso porque as imagens dos fãs estavam ótimas.

Harry: O que foi o melhor resultado.

MS: Vocês podiam ter feito dois vídeos.

Jack: Nós poderíamos ter feito um filme [risos]

MS: Quero falar um pouco sobre “Atlantis” porque é uma canção que viralizou no TikTok e ela não é tão recente, o que deve ter sido inesperado pra vocês. Como vocês se sentiram quando essa canção estourou?

Harry: Nós não sabíamos o tamanho do impacto porque não tínhamos TikTok. Então não sabíamos o quão grande estava se tornando. E aí todo mundo falou que precisávamos fazer um TikTok porque a música estava estourando. Então nós fizemos um perfil e um a cada dois vídeos tinha uma versão acelerada dessa música que nós lançamos 6 anos atrás. Foi incrível. E as pessoas estavam se conectando com ela e indo até o Spotify pra ouvir a versão original. Ficamos muito impressionados.

MS: Depois que isso aconteceu, vocês sentiram algum tipo de pressão, seja de vocês mesmos ou da gravadora, pra tentar repetir essa fórmula?

Harry: Acho que não dá pra planejar algo assim. Acho que você pode tentar fazer coisas tipo o vídeo de “See, I’m Sorry”, com a participação dos fãs, para tentar fazer com que as pessoas se engajem nessa ideia. E eles fazem isso, as pessoas se envolvem. Mas acho que não dá pra planejar esse tipo de coisa. Foi muito especial fazer parte disso.

Jack: É incrível também o tanto de gente que veio daí e foi atrás do nosso catálogo de músicas. Eles não ficaram só em “Atlantis”. Eles ouviram outras músicas e isso aparece nos streamings e tudo o mais. Foi um efeito que durou um tempo.

Harry: Nos shows ao vivo, nós sempre soubemos que “Oceans” era a favorita dos fãs, então tocávamos essa no bônus. Mas dessa vez tocamos “Atlantis” e era sempre um grande momento em todas as noites. Todo mundo sabe cantar tudo e eles gritam cada palavra. As pessoas se conectaram, o que é muito especial. Não é uma música tão antiga, mas é para nós.

MS: E “Oceans” tem o vídeo com a Maisie Williams, então era de se esperar que essa seria a canção a viralizar.

Jack: Quando nós começamos, “Oceans” sempre estava no topo. Teve quase 100 milhões de views ou algo assim. Isso é gigante, foi algo enorme. Sempre foi nossa faixa “líder”. E aí do nada [o TikTok] aconteceu e “Oceans” afundou [risos]. E “Atlantis” surgiu. E depois disso teve “Atlantis” acelerada, extra acelerada, desacelerada, “Atlantis” acústica… [risos]. Agora nossa Spotify só tem “Atlantis”.

MS: Queria saber como vocês estão se sentindo com a recepção do Wonderland pelos fãs.

Jack: Impressionados. Quando estávamos em turnê, nós tínhamos acabado de lançar o álbum. Às vezes isso acontece: você lança o álbum e na próxima semana sai em turnê. As pessoas não ouviram as músicas e você vai tocá-las ao vivo. Mas quando tocamos as músicas novas ao vivo, as pessoas cantaram junto conosco. Isso é tudo que precisamos, sabe?

MS: Vocês vieram ao Brasil algumas vezes e seus fãs sempre amaram te receber. Podemos esperar uma visita em breve? 

Harry: Estamos trabalhando em algo.

Jack: Vamos voltar.

Harry: Sempre vamos voltar.

Jack: Amamos o Brasil.

MS: Mas vocês sabem se podemos esperar algo esse ano, ano que vem…? Existe alguma previsão de data?

Jack: Eu gostaria que fosse esse ano.

Harry: Estamos torcendo pra isso. Se não der certo, vai acontecer no ano que vem.

MS: Vocês têm alguma mensagem para os seus fãs brasileiros?

Jack: Nós amamos vocês. Muito obrigada por todo o apoio. Enquanto vocês nos ouvirem nós continuaremos escrevendo músicas.

Harry: Estamos ansiosos para voltar. São os melhores shows do mundo.

Jack: Eles são mesmo, né? Quando fomos ao Brasil pela primeira vez ficamos completamente encantados. 

Harry: Nós fomos só para São Paulo e Rio de Janeiro, acho.

Jack: Quando nós chegamos, alguém tinha feito camisetas do Seafret, todo um merchandising próprio e pendurado ao longo da fila do show. E tinha uma fila enorme de pessoas e nós nunca tínhamos estado ali antes, então não sabíamos o que esperar. E todo mundo cercou a van e foi insano.

MS: Foi o primeiro contato de vocês com uma multidão calorosa assim?

Jack: Acho que sim. Nós não conseguíamos sair da casa de shows.

Harry: Os fãs estavam entusiasmados e muito felizes e acho que foi isso que surpreendeu a gente. Porque nós sentíamos o mesmo por estar lá, então foi uma experiência mútua. Eles estavam chorando, nós estávamos chorando, foi algo bem emotivo.