Desde sua primeira aparição na grande mídia com o álbum de estreia Born To Die (2012), Lana Del Rey tem sido um dos grandes nomes da música moderna que não se deixa cair no esquecimento.

Há mais de uma década a cantora vem lançando discos de maneira constante e impressionou recentemente ao disponibilizar não menos que três deles em um curto período de tempo, sendo dois no mesmo ano – Chemtrails Over The Country Club (2021) e Blue Bannisters (2021).

Agora, Lana retorna com seu nono disco de estúdio (a contar com a Paradise Edition do Born To Die), Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd (2023), longo como o título sugere. A obra também é carregada da informalidade quase poética das letras altamente pessoais e confessionais, soando muitas vezes como um monólogo de pensamentos internos que a artista precisava colocar para fora.

O disco é a terceira parceria entre Lana Del Rey e o produtor Jack Antonoff, que também trabalhou nos álbuns Norman Fucking Rockwell (2018) e Chemtrails Over The Country Club (2021). A produção minimalista e old-school, contribuindo para a característica sonhadora e atemporal dos vocais de Lana, é assinatura de Antonoff durante todo o disco e ele deixa sua marca também em “Margaret”, onde empresta seus vocais sob o nome de seu projeto solo, Bleachers.

Em Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd, Lana Del Rey reflete sobre espiritualidade, solidão e, principalmente, sobre o medo do esquecimento. Enquanto uma mulher de 37 anos, Lana iniciou sua carreira relativamente tarde e já vem sentindo o peso da crueldade que a indústria mostra às mulheres que envelhecem há alguns anos. Talvez por isso a necessidade constante de continuar entregando trabalhos de qualidade. Ela torna impossível ser ignorada e se recusa a deixar que a mídia a jogue para escanteio.

Na faixa de abertura, “The Grants”, Lana se apresenta como alguém que quer levar todas as memórias de entes queridos e pessoas amadas para o além-vida. Ela demonstra se importar muito com o apego às memórias e as pessoas, o que acaba revelando seu próprio medo desesperador de ser esquecida pelas mesmas pessoas que estão tão vivas em sua memória.

Na faixa-título do álbum, Del Rey evoca a imagem de um túnel que existe embaixo do Ocean Boulevard, nos Estados Unidos, e que foi desativado para uso há mais de 50 anos, caindo em esquecimento e sendo completamente apagado da realidade atual dos cidadãos estadunidenses. Ela teme ser esquecida assim como esse lugar, que fez parte da história local durante anos e depois teve sua existência apagada e escondida das gerações futuras.

Assim como em seus trabalhos anteriores, Lana despeja todos os seus medos e suas reflexões em seu nono disco de estúdio, mostrando que ela fica mais consciente de si mesma e de sua vida a cada ano, porém não necessariamente mais feliz. Ela acena para heróis do passado como Harry Nilson e Leonard Cohen nas faixas “The Grants” e “Kintsugi”, mas também se une a nomes atuais em colaborações com SYML, Father John Misty, RIOPY e Tommy Genesis, mais uma vez mostrando sua flexibilidade enquanto artista.

Mesmo que Lana se afaste cada vez mais do tipo de música que seria consumida amplamente pelo mainstream, faixas como “A&W” e “Let The Light In” afirmam a genialidade da cantora e de seus produtores ao montarem trabalhos impossíveis de serem ignorados, tanto por sua criatividade quanto por sua fluidez. 

Com músicas que ultrapassam os 4 minutos de duração e por vezes se estendem além dos 6 ou 7, Did you know that there’s a tunnel under Ocean Blvd é uma obra completa – apesar de atravessada por alguns interlúdios mais longos que o necessário – e nos fornece mais um olhar detalhado sobre a vida de Lana Del Rey e seus questionamentos mais profundos.