A última vez que Louis Tomlinson pisou em solo brasileiro foi há oito anos para um show da One Direction. Na época, aquela era também sua primeira visita, e tanto ele quanto seu grupo foram recebidos de primeira como poucos — lotando shows em estádios.

Agora, como muitos de seus colegas de banda, Louis se encontra fazendo shows solo e precisa retornar ao Brasil fazendo o caminho reverso e dando um passo para trás ao invés de adiante. Assim como os amigos Harry e Niall, ele fez sua primeira visita a São Paulo como artista individual se apresentando no Espaço Unimed (antigo Espaço das Américas), com capacidade para 8 mil pessoas. Um número bem inferior às 60 mil que foram vê-lo em 2014 no Estádio do Morumbi.

A diminuição gritante de uma plateia que costumava ser monumental não passa despercebida, mas uma coisa não mudou em todos esses anos: o público apaixonado. Estar em meio aos gritos ensurdecedores e às fãs que sabem cada letra de cada música é como entrar em uma cápsula do tempo. Nada é capaz de reviver a One Direction tão bem como as pessoas que, muito provavelmente, viveram essa fase cerca de dez anos atrás.

O show de sábado, 28, no Espaço Unimed foi aquecido inicialmente pela banda californiana Sun Room, que abriu a noite com suas músicas praianas de surf rock. Parte da plateia já se mostrava familiarizada com algumas canções, mas mesmo aqueles que não sabiam cantar foram acolhedores e participativos, batendo palmas e iluminando o Espaço com as luzes do celular.

Tomlinson entrou no palco com 20 minutos de atraso e em meio a um estardalhaço. Qualquer pequeno movimento no palco antes de sua entrada – um piscar das luzes ou um aviso no telão – já era o suficiente para fazer as fãs gritarem e erguerem os celulares. Para quem se encontrava em locais com bastante gente, ficou impossível ver qualquer coisa além de braços levantados e telas gravando o início do show com “We Made It”. 

Louis entregou um set com todas as músicas de seu primeiro – e até então único – álbum, Walls (2020). Entre os destaques estão a faixa-título, “Habit” e “Don’t Let It Break Your Heart”, que levantaram a voz da galera com ainda mais força. A casa de shows também se encheu de bandeiras LGBTQIA+ em miniatura durante “Only The Brave”, uma canção que os fãs tomaram como um símbolo de coragem, autenticidade e acolhimento por passar a mensagem de que o amor é “apenas para os corajosos”.

Além das faixas de Walls, Louis Tomlinson cantou algumas músicas ainda não-lançadas, mas deixou de fora duas favoritas: “Miss You” e “No Control”, que não foram apresentadas mesmo com a plateia cantando os refrões durante o intervalo do encore. Ele também relembrou seus tempos de One Direction e deu um verdadeiro presente às fãs mais antigas cantando “Through The Dark” e “Little Black Dress”, que fizeram parte da Where We Are Tour em 2014, e “Drag Me Down”, que as fãs brasileiras nunca tiveram a chance de ver ao vivo.

Ser transportada para a memória de uma boyband que arrebatou o mundo e deixou de existir – tudo em um período avassaladoramente curto de tempo – também nos permite enxergar o crescimento de um artista como Louis em sua trajetória solo. Hoje sem seus colegas de palco, ele ainda não toca instrumentos ao vivo, mas aprendeu a ocupar todo o espaço disponível e interagir com a plateia com confiança. As interações ainda são mínimas e coreografadas – pequenos discursos decorados com antecedência e cronometrados – mas ele anda de um lado para o outro do palco e incentiva a plateia a cantar as notas que ele não consegue atingir, mostrando consciência também de suas limitações enquanto profissional e ser humano.

É gratificante poder dizer que, apesar da evidente similaridade sonora de seu projeto solo com sua antiga banda, Louis não está tentando replicar as fórmulas da One Direction ou ultrapassar seus limites para dar aos fãs o que eles queriam anos atrás. Ao menos no ao vivo, ele está descobrindo seu caminho individual, ainda que se utilize de muitos modelos que aprendeu durante seus 12 anos como cantor e performer. Ele conhece suas fraquezas, mas também aprendeu quais são suas maiores forças, e é esse conhecimento e o carinho dos fãs que permitiu que ele se apresentasse duas noites seguidas em São Paulo.

Em seu show de sábado à noite, Louis Tomlinson uniu o presente ao passado e provocou lágrimas, gritos e grandes sorrisos de alegria. Seja pela nostalgia ou pelo carinho adormecido que sempre volta à tona nesses momentos, é sempre uma grande honra e um grande privilégio relembrar nossos artistas favoritos de um passado que parece tão distante e compartilhar com eles o presente.

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