Foi debaixo de muito sol e sem qualquer ameaça de chuva que aconteceu a primeira edição do Nômade Apresenta neste domingo, 22, em São Paulo. O evento serve como um tipo de “esquenta” para o Nômade Festival, que acontece nos dias 20 e 21 de maio trazendo atrações como Seu Jorge, Alcione, BaianaSystem e muito mais.

Com Erykah Badu como grande headliner, o Nômade Apresenta teve um dia completamente dedicado à música preta, tendo como outros artistas Majur, Gilsons e Larissa Luz convidando Anelis Assumpção, além dos DJs Tamy e Nyack que agitaram a galera nos intervalos tocando o melhor da música black.

A curadoria inicial do festival, entretanto, não trazia essa proposta. Em um primeiro momento, foram anunciados como atrações, além de Erykah e os Gilsons, a cantora Céu e o quarteto Bala Desejo. A escolha de line-up levantou uma enxurrada de críticas na internet; a maioria descontente com a baixa representatividade de artistas pretos em um festival que teria uma das vozes mais poderosas e emblemáticas do soul e da música negra como headliner.

Depois da repercussão, tanto o Nômade Apresenta quanto os artistas Céu e Bala Desejo publicaram comunicados levando em consideração os apontamentos do público. As duas atrações anunciaram sua decisão de se retirar da line-up e o festival anunciou a presença de Majur e Larissa Luz com Anelis Assumpção pouco tempo depois.

Para todos os efeitos, o cenário final foi o melhor possível. Foi um dia de celebração à arte preta e, em especial, às mulheres pretas, com público bastante diversificado e sedento pela chegada de Erykah Badu. O sol escaldante do verão ainda queimava com bastante intensidade quando Larissa Luz subiu ao palco às 15h15, entregando uma performance tão quente e calorosa quanto o domingo no Memorial da América Latina.

Toda vestida de rosa – a combinar com sua banda – Larissa Luz abriu o festival entregando uma das melhores performances do dia, repleta de beleza, energia e carisma. Com balé coreografado e muito alto astral, Larissa colocou toda a plateia para dançar e ferver como se já fosse Carnaval, além de dedicar seu show à celebração das grandes vozes de mulheres pretas, fazendo covers de Nina Simone e Elza Soares

Anelis Assumpção subiu ao palco para dividir o holofote com Larissa mais ou menos na metade do show e trouxe um tipo diferente de poder, mais contido, com sua presença hipnotizante e canções menos explosivas. As duas artistas dividiram o palco de maneira brilhante e magnetizante, completamente confortáveis em seu espaço e incluindo a plateia no espetáculo. Ao fim da performance, Larissa Luz ensinou o público a dançar a coreografia de “Cupido Erê” e fez referência à mudança na line-up que possibilitou sua participação no festival. “Muito obrigada por cada voz que fez tudo ser diferente,” disse em meio a largos sorrisos. “As vozes de vocês sempre vão fazer a diferença.”

Em contraponto com o calor fervente de Larissa Luz, os Gilsons trouxeram uma brisa refrescante para o fim de tarde com seu som delicado, relaxante e apaixonado. O trio de MPB traz em sua música referências do funk americano, reggae e muito samba para honrar suas origens cariocas, incluindo alguns covers como “Eu e Você Sempre”, de Jorge Aragão. O grupo encerrou sua participação com uma performance deliciosa de “Várias Queixas”, que fez todo mundo cantar e dançar.

Depois do sol se pôr, Majur subiu ao palco para entregar um espetáculo de muita cor e brilho. Com figurino cintilante e bailarinos vestindo cores neon, a cantora fez um show com muita presença de palco e sensualidade, sem falar no incrível alcance vocal, mandando ocasionalmente vários falsetes no estilo “whistle”, popularizado por artistas como Mariah Carey e Ariana Grande. Majur fez um show performático, com troca de figurino e objetos cenográficos para compor as coreografias, demonstrou muito carinho pelo público e desejou um 2023 de muita alegria, energias boas e prosperidade para todos. A cantora fez covers animados de “I Got You (I Feel Good)”, de James Brown, e “Crazy In Love”, de Beyoncé, sempre abrindo espaço para seus dançarinos brilharem no palco junto a ela.

À noite, o Memorial da América Latina já estava lotado de pessoas esperando por Erykah Badu. A cantora entrou no palco com 40 minutos de atraso e causou um grande alvoroço, recebendo a maior ovação do dia da plateia. Badu está em turnê celebrando os 25 anos de seu disco de estreia, Baduizm (1997), que foi um grande pioneiro do neo-soul. A cantora entrou no palco em silêncio, envolta em uma aura de mistério, usando uma grande cartola. Ela permaneceu parada com as luzes ainda apagadas, recebendo os gritos do público, e causando um enorme impacto com sua presença até então silenciosa.

Ao abrir a boca para cantar, sua voz dominou a plateia completamente. Com unhas grandes, calças vermelhas, botas extravagantes e cabelos caindo soltos até os joelhos, Erykah Badu é uma força da natureza e um ícone. O público foi completamente absorvido por sua energia e a felicidade era refletida em sorrisos e olhos marejados de fãs e admiradores. Com canções de neo-soul, R&B e hip-hop, Badu se conectou com a plateia brasileira e disse que esse é um de seus lugares favoritos no mundo. “Sempre que venho aqui eu me sinto em um ritual,” comentou.

O show da cantora tem uma característica completamente sideral, com imagens no telão que remetem a galáxias e naves espaciais, além de feixes de luz que lembram atividades alienígenas. Badu se entrega completamente na experiência musical, trazendo um número solo de dança, conversando com a plateia e construindo sons e canções de improviso, tecendo o show à sua vontade e se comunicando com sua banda quando quer que os instrumentos parem para poder cantar sozinha ou ouvir o público cantando. À pedido da plateia ela cantou “Bag Lady” e sentou-se na grade em meio aos fãs para cantar com eles, tomando o cuidado de pedir para que ninguém se empurrasse.

O set foi finalizado às 22h10, pouco depois do horário oficial de encerramento do festival, e provavelmente com alguma redução no número de músicas devido ao atraso inicial. Para se despedir, ela pediu para que todos acendessem as luzes do celular e cantou um curto trecho de “Next Lifetime” antes de dizer adeus à São Paulo, causando saudades imediatas ao encerrar o show em um momento um pouco inesperado.

Em relação à line-up, o Nômade Apresenta foi um sucesso. Todas as atrações conversavam entre si musicalmente e entregaram performances impecáveis e memoráveis, cada uma dentro de seu estilo musical. Financeiramente, o festival vendeu ingressos a preços bastante acessíveis, mas o valor de consumo estava um pouco elevado, com água à R$9, cachorro-quente à R$18 e opções veganas entre R$23 e R$30.

O Memorial da América Latina também não possui banheiros com encanamento e nem muitas opções para se proteger do sol forte – algumas ativações do festival ofereciam espaços de descanso, mas o principal local de respiro era a Praça de Alimentação, localizada em um trecho arborizado onde era possível se proteger do calor – infelizmente sem visão do palco.

O evento ajuda a aumentar as expectativas para o Nômade Festival que acontece em maio, provavelmente em um clima mais ameno em meio ao outono. Os ingressos da pista se encontram à venda a partir de R$80 por dia e R$128 o passaporte com os dois dias. Acesse o site da Ticket360 para mais informações.

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