Cinco anos se passaram desde a última vez que a 5 Seconds of Summer esteve no Brasil. Na ocasião, eles tinham apenas dois álbuns de estúdio e uma coleção de B-sides que se tornaram favoritas do público.

Nesse meio tempo, a banda adicionou mais três álbuns em sua discografia, sendo o mais recente, 5SOS5 (2022), um projeto ambicioso com nada menos que 19 faixas. Com um catálogo extenso e três álbuns nunca tocados na América Latina, a solução arranjada pela banda foi a criação do The 5 Seconds of Summer Show – um espetáculo que homenageia e relembra momentos de toda a sua carreira, tocando músicas de cada um dos cinco discos, B-sides e singles avulsos.

A noite em São Paulo começou às 20h30 com show de abertura de Day Limns. A cantora se tornou uma das vozes mais conhecidas do pop rock nacional e tocou lançamentos mais recentes como “Vermelho Farol” e “Castelo de Areia”. A surpresa ficou por conta de uma versão da romântica e delicada “Little Things”, sucesso da One Direction, que foi cantada a plenos pulmões pelo público do Espaço Unimed. Em seguida, Day emendou uma versão rock de “Penhasco”, música que ajudou a compor e que foi lançada na voz de Luisa Sonza. A nova roupagem trouxe uma camada diferente de emoção para a canção e foi um dos pontos fortes da performance.

A 5 Seconds of Summer subiu ao palco com pouquíssimos minutos de atraso. Pouco antes do horário da performance, a banda exibiu uma esquete divertida no telão, gravada por eles mesmos, para dar alguns avisos de segurança para a plateia. O show inteiro conta com pequenas intervenções de esquetes bem-humoradas que dividem a setlist e contam histórias curtas que interagem e se conectam com o espetáculo. 

A setlist montada pela 5SOS nos proporciona uma verdadeira viagem no tempo pelos principais pontos de sua discografia. O show começa com as faixas mais recentes “Bad Omens”, “2011” e uma versão acelerada de “Caramel”, seguindo para “Easier” e versões encurtadas de “Babylon” e “If Walls Could Talk”. 

Para conseguir encaixar mais músicas durante o show, a banda tocou algumas músicas pela metade. A decisão é compreensível, mas, pelo menos no início da performance, passou a sensação de que eles estavam “correndo” com a setlist. As músicas foram tocadas sem pausa entre si, desaguando imediatamente na próxima faixa, e o grupo fez pausas pontuais ao longo do show para descansar um pouco e conversar com a plateia.

Agora mais velhos e mais maduros, a 5 Seconds of Summer se preocupa mais com a execução técnica de seus shows e dedica um foco maior aos instrumentos e à qualidade sonora. O vocalista Luke Hemmings, por exemplo, abandonou quase por completo seu papel de frontman e agora se junta ao guitarrista Michael Clifford e baixista Calum Hood, sempre tocando violão ou guitarra e fazendo uma troca constante de instrumentos. 

A falta de uma figura dedicada a entreter o público e ocupar o espaço do palco foi bastante sentida na noite de São Paulo. Relativamente presos a seus instrumentos e preocupados em executar bem as 28 músicas cronometradas, a banda demonstrou pouca dinâmica de palco, não interagiram muito entre si e conduziram o show com semblantes sérios, mostrando menos entusiasmo e carisma do que seria esperado após tantos anos. Em alguns momentos eles pareciam estar enfrentando problemas técnicos com o retorno do som, o que pode ter minado um pouco sua energia. Da pista premium, a acústica do Espaço Unimed também não parecia tão boa. Por vezes, os vocais soavam baixos e os instrumentos não tão nítidos.

Apesar das aparentes dificuldades técnicas e da baixa energia, a escolha de pérolas para a setlist emocionou os fãs mais antigos da 5 Seconds of Summer. Faixas como “Amnesia”, “Jet Black Heart” e “Outer Space” foram celebradas e cantadas com grande paixão pelo público. Um dos momentos mais aguardados do show é quando a banda joga um gigante dado inflável na plateia e escolhe uma música surpresa entre seis opções para tocar naquela noite. São Paulo ganhou a nostálgica “Heartache On The Big Screen”, do EP de B-sides de 2014.

Durantes seus monólogos entre pausas, a banda elogiou os fãs brasileiros e prometeu voltar em breve, reconhecendo que tinham feito essa mesma promessa cinco anos atrás sem concretizá-la. O integrante que mais se destacou ao longo de todo o show e também em suas interações com os fãs foi o baterista Ashton Irwin, que se dedica completamente ao instrumento e demonstrou estar mais presente e entusiasmado que seus colegas de banda, admitindo até um vício em guaraná. 

Outro destaque foi o momento solo de Michael Clifford cantando “Jet Black Heart”. Michael passou o show inteiro vestindo uma camisa do Brasil e pareceu feliz ao ouvir um coro de “Michael, eu te amo”, prontamente assegurando que também amava os fãs. As poucas vezes em que assumiu o microfone para cantar, ele o fez com empolgação e buscou se conectar com a plateia.

No geral, é fato conhecido e inegável que a melhor versão da 5 Seconds of Summer é ao vivo. No The 5 Seconds of Summers Show a banda comprovou mais uma vez que seu forte é fazer arranjos criativos para músicas conhecidas, tornando a experiência ao vivo diferente da de estúdio e criando um ambiente musical completamente novo para os fãs. Até mesmo as transições entre músicas, como a de “Carousel” para “Who Do You Love”, soaram completamente naturais e inteligentes. 

Até o momento, a 5SOS possui três álbuns ao vivo e não é besteira ansiar por um quarto com a setlist atual. O perfeccionismo com a qualidade sonora, porém, veio às custas de uma banda que se mostrasse mais presente fisicamente, o que tornou o The 5 Seconds of Summer Show uma experiência empolgante de se escutar, mas nem tanto de se assistir. Seja essa característica uma ocorrência constante ou apenas um problema pontual da noite de terça-feira, foi bastante conflitante ver uma banda parecer parcialmente desconectada, tanto da empolgação da plateia, quanto de um show cuidadosamente montado por eles mesmos para celebrar sua trajetória com alegria.

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