Com a promessa de que em 2021 tudo iria mudar, o povo brasileiro retornou para março de 2020 ao bater recorde atrás de recorde com casos e mortes por Covid-19. “Sangue”, de Chico Salem, foi feita antes da pandemia e lançada no início de fevereiro desse ano. Com grande impacto e gritos de protestos, a letra atemporal tocou muitos.

Com participação de Zeca Baleiro nos vocais e a letra de Arnaldo Antunes, a canção é do terceiro disco de Chico, Canções de guerra, gritos de amor, com previsão de lançamento para o início do segundo semestre.

O cantor conta que a música era, inicialmente, uma melodia feita para a Pitty. Depois de mais de dez anos na gaveta, Chico deixou nas mãos de Antunes. Em uma semana, a letra de “Sangue” estava pronta.  

“Essa canção reflete nossa indignação, com todo o descaso que nosso país tem com questões que nos perseguem desde a colonização. Infelizmente, no Brasil as canções de protesto seguem sempre atuais e pertinentes ao momento em que vivemos. Parece que foi escrita para a pandemia”, reflete Salem em uma entrevista exclusiva ao Mad Sound. De acordo com ele, a letra poderia ter sido feita hoje, mesmo um ano depois. 

“Sangue” vem depois do lançamento do primeiro single do álbum, “Só que não”, que vem de um projeto extenso com mais de 130 pessoas na produção do clipe. Chico Salem afirmou que com toda a movimentação, houve uma grande expectativa sobre a estreia e a recepção da música. Mas, com “Sangue”, não havia expectativas. Ao se livrar desse sentimento, foi como se a recepção muito positiva da música fosse inesperada.

Já em relação ao próximo álbum, o planejamento está um pouco caótico. O artista é conhecido por fazer várias parcerias interessantes e por conta da pandemia, muito deve ser acertado antes de ficar tudo pronto. Ele também acredita que não é momento de “ficar fazendo festa” e está procurando uma data de lançamento que seja empática.

O compositor ainda falou que seu novo álbum tem mais canções de protesto, mas não faltarão baladas e letras românticas. “É um disco esquizofrênico”, disse dando uma risada, depois de explicar que a tracklist é como um “morde e assopra”. Idealmente, dois ou três singles serão lançados até o segundo semestre.

Chico conta que no primeiro semestre de 2020, ficou muito recluso e não tinha inspiração para produzir, mas logo sentiu o impulso criativo voltar, a vontade de gritar e se expressar. De acordo com ele, fez shows não presenciais e gravou suas músicas remotamente. 

“Acho um momento propício para criação, porque os artistas têm tempo. Estão descobrindo que dá para gravar um disco de casa. Por outro lado, existe uma falta de perspectiva muito grande recaindo sobre o Brasil”, afirmou.

Ele sente que há uma falta de propósito, “os artistas vivem muito de palco, da relação com as pessoas”. Entretanto, mesmo sem a pandemia, ele acredita que o país vem sofrendo golpe atrás de golpe na cultura.

“É um cenário trágico. Não existem editais abertos, não existe fomento, apoio. Artistas passando fome, vendendo seus instrumentos. Alguns tentando dar aula”, diz. “Acredito que a cultura vai voltar a viver de guerrilha”. Na opinião de Chico Salem, isso também é positivo, por trazer um impacto visceral maior. 

Quando questionado sobre a perspectiva para o resto de 2021, não teve jeito. “Eu sou um dos caras mais otimistas que eu conheço, mas é impossível ter uma perspectiva otimista para esse ano”, declarou, por fim.