O Pedrinho precisava acordar para o campeonato e o Brasil inteiro acordou para o talento da Jovem Dionísio. A banda curitibana de indie pop virou o maior assunto das redes nas últimas semanas depois da viralização do single “ACORDA PEDRINHO”. Como já se tornou comum, o maior impulso veio do TikTok e a faixa agora ocupa o topo do Spotify Brasil há mais de uma semana, tendo alcançado a posição em 21 de maio.
A Jovem Dionísio é uma banda relativamente nova, tendo surgido lá em 2019, e Acorda, Pedrinho é seu primeiro álbum. Quem foi contagiado pelo ritmo dançante do hit viral pode se surpreender ao notar que não são todas as músicas da banda que têm essa pegada mais pop, mas o álbum de estreia do grupo é bastante rico em influências, referências e dá pra encontrar faixas similares nele, sim.
Muito das novas músicas da Jovem Dionísio têm sua base no lo-fi, indie pop e bedroom pop, mas a banda trouxe para seu disco inúmeros elementos de música eletrônica, funk americano e bailes dos anos 80. Todas as faixas são acompanhadas de uma suavidade sonora, guiada principalmente pelos vocais discretos e em tom de conversa de Bernardo Pasquali. Acorda, Pedrinho não é um álbum barulhento e nem explosivo, mas a banda deu um show de produção ao lado de Gustavo Schirmer e Lucas Sukow.
Logo no início do disco, conseguimos perceber que esse chamado para acordar não se refere só ao tal Pedrinho, mas também ao próprio eu-lírico. As faixas vão contando uma história de um amor meio confuso, aparentemente não tão recíproco e claramente indisponível emocionalmente, pelo menos de um dos dois lados da relação.
A faixa de abertura é a breve e sonhadora “Pastel”, que começa com sintetizadores bem suaves e passa para acordes delicados de guitarra, enquanto o cantor repete algumas vezes um único convite: “Vamo sair, comer um pastel / Já que você mora do lado do Juvevê”. Parece o início inofensivo de uma história que está prestes a se desenrolar. Afinal, que mal teria apenas convidar alguém para comer um pastel?
Logo em seguida, em “Cê me viu ontem”, já conseguimos perceber que o conto de fadas não chegou e que uma das partes não parece tão interessada assim em levar as coisas a sério. Flertando um pouquinho com o R&B e o dream pop, o eu-lírico tem uma base sonora bem descontraída onde depositar suas reclamações sobre a falta de comprometimento da outra parte: “Não quer vir aqui em casa / Nem se encontrar por essas praças / Mas faz graça quando sente a vontade de viver no seu bem bom”.
Quem gostou de “ACORDA PEDRINHO” vai adorar faixas como “Risco”, “Invisível” e “Não dá mais”. Apesar de ser visto como uma faixa pop, o hit viral tem um pouco de funk americano e de baile, e isso pode ser encontrado várias outras vezes ao longo do álbum.
“Risco” traz um dance pop levinho e divertido para ajudar a distrair a cabeça daquele amor inconsistente, enquanto “Invisível” é uma faixa dançante com sintetizadores e um toque de bailinho anos 80 que é repetido em “Não dá mais”. A suavidade do bedroom pop está presente em “Mas de preferência não”, mas a faixa também traz um toque sutil de música eletrônica ambiente ao fundo para levar o ouvinte em uma viagem.
Os que gostam de um violãozinho que remete a clássicos da MPB podem juntar os cacos de um coração partido ao som da sentida “Ai de mim” ou chorar as mágoas em uma mesa de bar na praia ao pôr-do-sol. A dor do amor perdido continua na triste e solitária “Não vou dançar sozinho”, que oferece um ponto de vista resignado depois da perda: “Não vou dançar sozinho / Fingindo que eu não quero dançar / Contigo”. Para encerrar em uma nota mais otimista, “Tu tem jeito de quem gosta” tem elementos do funk carioca e também faz um aceno para a famosa “ACORDA PEDRINHO” em sua parte final.
Quem curtiu “ACORDA PEDRINHO”, então, ainda tem muito o que gostar no álbum de estreia da Jovem Dionísio, seja nos momentos de festa ou nos momentos de fossa. Logo em seu primeiro disco, eles já conseguiram o feito de ser a única banda figurando no Top 50 Brasil do Spotify atualmente, o que coloca o indie pop brasileiro no radar de mais pessoas e possibilita uma possível abertura no mainstream dominado pelo funk e sertanejo. Esse campeonato é mais difícil de ganhar, mas com certeza a Jovem Dionísio já saiu vitoriosa.
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