Bel Aurora segue se transformando e sobrevivendo em seu primeiro álbum de estúdio, A Metanoia. A cantora, instrumentista e poeta lança seu primeiro disco expandindo a sonoridade e personalidade que apresentou no EP Mulher ao Mar (2021), repleto de poesia e forte influência do cancioneiro brasileiro.

Em A Metanoia, Bel reforça sua identidade enquanto poeta e compositora, tecendo canções sobre um processo delicado de transformação e sobrevivência. A própria palavra que dá nome ao álbum, “metanoia” é uma palavra grega que significa “mudar de ideia ou pensamento”. 

Produzido por Guilherme Kastrup (que trabalhou em A Mulher do Fim do Mundo, de Elza Soares), A Metanoia dá um salto em relação ao EP Mulher ao Mar e transforma o som de Bel Aurora em algo muito mais rico e consistente. O EP teve produção da própria cantora e seu amigo Ariel Aricas, trazendo uma característica mais crua e vulnerável, com poucos instrumentos. Já o álbum foi produzido com a presença de uma banda completa e contou também com as participações especiais de Maria Beraldo (clarinete em “Paranoia”), Cris Cunha (vozes em “Incêndios”), o próprio Ariel Aricas (eletrônicos em “A Viva”) e Fernando Mota (sax barítono em “Paranoia”).

O melhor exemplo dessa transição entre projetos talvez seja a nova versão da canção “Deriva”, presente também no EP Mulher Ao Mar. Os novos arranjos são mais completos, introduzindo as temáticas do disco com uma profunda reflexão de Bel sobre as próprias reproduções de violência. Sobrevivente, a cantora expõe uma série de feridas e vivências pessoais em outras canções como “A Viva”, sobre violência sexual, “Sila”, que fala sobre gaslighting, e “Onde não quero estar”, que descreve uma relação tóxica. Além delas, a forte e impactante “Comportamento Antipredatório”, que descreve o medo e cautela que acompanha as mulheres que saem às ruas e sentem que estão sempre na mira do assédio masculino.

Com muita vulnerabilidade e força, Bel Aurora faz uma estreia potente com seu primeiro álbum, transformando suas vivências em munição e oferecendo um poderoso relato de peito aberto sobre suas lutas e conflitos internos e externos – tudo potencializado pela força da poesia em suas composições, que transforma em arte tudo que é dor, mas também tudo que é esperança.

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