O trio escocês Chvrches vem ao Brasil pela primeira vez em março e com agenda bem cheia. A banda que mescla synthpop, eletrônica e música alternativa irá abrir os shows do Coldplay em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, começando no dia 10 de março e se despedindo só no dia 26.

Além desses compromissos, o trio também faz uma apresentação solo em São Paulo, no dia 16 de março e no Rio de Janeiro, dia 24 – ingressos estão à venda com promoção 2×1

Em entrevista ao Mad Sound, a vocalista Lauren Mayberry fala sobre o que podemos esperar da passagem do CHVRCHES pelo Brasil, o novo single “Over” e os planos para o aniversário de 10 anos do álbum The Bones Of What You Believe (2013). Confira na íntegra:

Mad Sound: Vocês têm uma porção de shows para fazer no Brasil, tanto solo quanto abrindo para o Coldplay. Como vocês se sentem vindo para a América do Sul?

Lauren Mayberry: Estamos muito animados. Faz muito tempo que estamos tentando fazer uma turnê funcionar. Nós fechávamos uma data e o festival era cancelado, coisas assim. Nós continuávamos tentando e não estava dando certo, então obrigada ao Coldplay por tornar isso possível! Eles foram muito legais em deixar que nós também fizéssemos shows separados porque às vezes as pessoas não permitem isso. 

Então estamos felizes em fazer alguns shows solo porque nós vemos muitos fãs brasileiros online, mas é difícil saber como isso se traduz para a vida real. Então estamos animados para ir até aí e ver as pessoas e tocar alguns shows.

MS: Qual é a maior diferença entre ser headliner e abrir para uma banda como o Coldplay?

LM: Bom, muito mais pessoas vão em um show do Coldplay do que em um show do CHVRCHES [risos]. Acho que toda a escala da coisa é diferente do que estamos acostumados em termos de… Na minha função, particularmente, eu preciso ocupar muito mais espaço no show e descobrir como me conectar com as pessoas em um espaço muito maior. Os fãs deles parecem ser muito generosos, mas sempre existe um elemento em ser uma banda de abertura para uma plateia que não é sua. As pessoas podem não conhecer suas músicas e podem não saber nada sobre você. 

No meu caso, eu tento ver isso como um tipo divertido de desafio – me comunicar e me conectar com as pessoas. Me passa um sentimento meio old school porque me lembra de um momento em que ninguém conhecia nossas músicas em lugar nenhum e todos os shows eram sobre tentar convencer as pessoas. Eu gosto desse desafio. Não sei se todo mundo concorda comigo [risos], mas eu gosto.

MS: Deve ser um sentimento engraçado, sair desses shows gigantescos e depois tocar para uma plateia que é só sua, onde as pessoas te conhecem e te apreciam.

LM: Eu acho que sempre gostei desse equilíbrio. Festivais têm um sentimento diferente dos shows solo, e shows de abertura também. Acho que fazer essa variedade de coisas ajuda a manter tudo novo para a banda. Para mim, enquanto performer, é tudo sobre comunicação e eu acho que fazer isso em diferentes cenários é bastante revigorante ao invés de confuso. 

A escala completa desses shows [com o Coldplay] é algo que não experimentamos há algum tempo. Nós não abrimos para uma banda desse tamanho desde que abrimos para o Depeche Mode, mas isso foi bem no comecinho do CHVRCHES, uns 10 anos atrás. Fico feliz que éramos meio ingênuos. Nós amamos o Depeche Mode, mas acho que não sabíamos direito onde estávamos nos metendo. Acho que agora nós sabemos demais para entrar em algo desprevenidos. Então estou animada. Também estou animada para assistir o show. Nunca vi o Coldplay em um show solo, só em festivais. Acho que vai ser um espetáculo divertido ver como eles aproveitam o espaço.

MS: Você gostaria de ver o CHVRCHES se tornando tão grande quanto uma banda como o Coldplay um dia? Acho que a resposta óbvia seria ‘sim’, mas às vezes algumas bandas não almejam algo nessa escala.

LM: Acho que tem muitas coisas boas e ruins que devem vir com ser uma banda daquele tamanho. Eles parecem lidar bem com isso. A esse ponto eles têm uma fã-base super dedicada e são muito focados em fazer um bom show e na sustentabilidade que isso envolve. Acho que muitas bandas desse tamanho não fazem isso. 

Não sei, eu sempre gosto de pensar na música primeiro e no ponto de chegada depois. Seria fácil dizer ‘sim, eu adoraria ser parte da maior banda do mundo’, mas pra mim, no fim do dia, se você estivesse na maior banda do mundo e não gostasse da música [que você faz], não sei o quão satisfatório seria. Mas ao mesmo tempo, acho que você também pode fazer músicas que sejam as mais satisfatórias do mundo e ninguém viria ouví-las ao vivo. Acho que cada indivíduo tem que descobrir o equilíbrio disso.

MS: Para aqueles que ainda não conhecem vocês, o que as pessoas podem esperar de um show do CHVRCHES?

LM: Muitos sintetizadores, muito baixo… Acho que nesse momento enquanto banda nós estamos na nossa melhor versão ao vivo. Eu trabalhei muito na construção do show e no design do palco, especialmente para os nossos shows solo. Acho que as pessoas vão conseguir uma boa representação de quem a banda é e sobre o que falamos. Nós crescemos indo a muitos shows e sair em turnê sempre foi uma grande parte de todas as bandas em que estivemos antes do CHVRCHES. Acho que somos feitos para a estrada, nesse sentido. Então estamos prontos, nos aprimoramos e já faz alguns anos que estamos promovendo o álbum [Screen Violence], então o set está bem ensaiado [risos]. 

MS: O CHVRCHES lançou uma nova música, “Over”. Gostei muito da vibe throwback – acho que essa parte foi trabalho do Oscar Holter – mas, para mim, a letra soa bastante triste e isso causa um contraste interessante. O que você tinha em mente quando escreveu essa canção?

LM: Acho que na música do CHVRCHES, o equilíbrio entre luz e sombra sempre foi importante. Nós nunca queremos que algo seja deprimente, mas também não queremos que a canção não tenha profundidade ou peso. Acho que “Over” resume isso super bem. 

Foi muito interessante trabalhar com Oscar Holter e Matthew Koma, que co-escreveu a letra com a gente, porque esses caras trazem coisas muito interessantes para o projeto. Nós amamos o trabalho deles, mas não é um espaço no qual circulamos pela maior parte do tempo. Eu gosto que nossa banda consiga fazer um álbum que seja tão sombrio e pesado quanto o Screen Violence e em seguida fazer algo mais pop. Acho que ter esses dois lados é o que torna a banda o que ela é. 

E os shows ao vivo são muito divertidos porque é como fazer uma fita cassete. Você não quer todo o material pesado em um lugar só, você precisa descobrir o fluxo das coisas. Esperamos conseguir tocar “Over” em alguns shows no Brasil, então dedos cruzados. Se conseguirmos ensaiar, fazer um soundcheck e fazer funcionar, nós tocaremos.

MS: Além de “Over”, vocês têm trabalhado em algo novo? Músicas novas, possivelmente um álbum?

LM: No momento, não. Nós passamos muito tempo em turnê e estamos cientes de que esse ano marca o aniversário de 10 anos do primeiro álbum do CHVRCHES, The Bones Of What You Believe. Tem sido um bom momento para refletir e sabemos que seja o que for que a gente queira fazer a partir de agora será olhando para frente. Ainda não fizemos nenhum trabalho relacionado a seja lá o que for que venha a ser nosso próximo álbum. Tenho certeza de que faremos um [álbum] novo, só não sei o que vai ser e nem quando vai ser. 

Normalmente nós guardamos músicas durante meses e anos e depois as colocamos no álbum, mas “Over” estava pronta, então pensamos: “Será que guardamos isso por tempo indeterminado para colocar em um álbum ou será que lançamos agora?”. E decidimos lançar! O que é algo que não fazemos normalmente [risos].

MS: Vocês planejaram algo para o aniversário do álbum?

LM: Estamos vasculhando nossos arquivos para tentar encontrar coisas que não foram lançadas, fotos, vídeos… Tudo que foi arquivado daquela época. Percebemos que não éramos muito bons em manter a organização naquele tempo [risos]. Nós temos clicado em muitos arquivos sem nome e tentado descobrir de qual música aquele som era uma versão original. Esperamos conseguir montar algo bem legal para os fãs.