Por: Joana Söt

Após o lançamento de seu último álbum, Stumpwork, em outubro de 2022, e o álbum de remixes com duas faixas inéditas em março de 2023, está claro para os fãs que Dry Cleaning não é um fenômeno passageiro. 

Acompanhamos a banda britânica em sua breve – mas marcante – passagem pelo Brasil durante o primeiro dia de C6 Fest na última sexta-feira, 19, e por entre risadas amigáveis e referências absurdas do mundo da música, uma entrevista (e talvez uma amizade) belíssimas nasceram. Confira os momentos mais icônicos dessa conversa abaixo – e não perca os vídeos que gravamos desse momento no Instagram do @madsoundbr.   

Mad Sound: Como uma banda que abraça a aleatoriedade das coisas, como vocês se sentem em estar no Brasil pela primeira vez? Vocês imaginavam isso em algum momento?

Florence: Acho que eu esperava que algo extremamente brasileiro acontecesse comigo (risos), mas nós literalmente chegamos e fomos direto para o hotel. Quando se viaja tanto em pouco período de tempo, às vezes é difícil conhecer direito o lugar em que estamos. Mas isso aqui é bem Brasil (Florence olha em volta, estamos ao lado do museu Afrobrasil no parque do Ibirapuera), todas essas árvores e essa arquitetura.

MS: Como aconteceu esse processo de vocais mais falados? Os instrumentais são criados em cima disso ou ao contrário?

Florence: Eu basicamente improviso ao lado de toda a banda e descobrimos a música juntos, de uma forma bem orgânica,  então não é um processo onde a banda toca antes e eu gravo em cima ou vice-versa. Inclusive, gostamos de gravar todos na mesma sala quando estamos fazendo o álbum – com os vocais e os instrumentos todos no mesmo ambiente.

MS: Sobre as letras, tudo é enxertos de outras pessoas ou você coloca frases suas? Se sim, elas contém um fator surreal quanto a de outras frases de autorias de outras pessoas?

Florence: As letras são bem pessoais na verdade. Eu tento projetar alguma ideia minha em algum personagem diferente para ganhar uma variação de tom, sabe? Desse jeito, parece mesmo que é bem aleatório, quando na verdade há todo um processo e complexidade por trás das letras. A maioria dos versos costuma ser meu ponto de vista vestido de outras personagens, é difícil de explicar. Eu tenho a tendência de não pensar sobre isso enquanto não escrevo e quando eu escrevo eu só deixo ali, sem pensar muito (risos). Não gosto de racionalizar muito o processo criativo. 

Mad Sound para Tom (guitarrista): Existe alguma origem dessas composições? São improvisos ou existe algo previamente estabelecido como base?

Tom: Eu normalmente apenas sinto e toco, mas não posso dizer que vem do nada. Já passei por várias bandas e existem acordes que grudaram comigo e me acompanham desde então, mesmo nos improvisos. Após 20 anos fazendo isso, acaba saindo muito naturalmente. A verdade é que eu toco muito no meu quarto, para relaxar e para me divertir, então muito vem daí.

MS: O que não pode faltar na playlist de vocês?

Florence: Eu diria que Aphex Twin é um artista que ouço com bastante frequência. 

Nick: Para mim a resposta é sempre techno. Sou viciado em música eletrônica, ela sempre volta pra mim de alguma forma.

Tom: Eu gosto muito de Zorn (aponta para a camiseta da banda que está usando e todos dão risada). Tendo a ouvir de tudo na verdade, mas diria que em turnê, prefiro sempre ouvir música ambiente, mas quando estou em casa normalmente ouço sons mais pesados. Atualmente diria que os mais ouvidos são The Smashing Pumpkins, Siamese Dream.

Lewis: Se eu estou em casa, prefiro ouvir algo mais calmo, mas quando estou em turnê, é sempre um som mais pesado. Mas se fosse para falar uma banda, eu diria B-52.

MS: O spoken word tem crescido na Inglaterra com bandas como Squid, Black Midi e vocês, claro. O que vocês acham da cena pós-punk atualmente na Inglaterra e no mundo? Vocês se consideram pós-punks?

Florence: Acho que não, mas pode ajudar muito se colocar em um gênero musical quando se está na indústria. Muita gente encontrou o Dry Cleaning por termos essa denominação no mercado e fazermos parte de um selo. Mas entre nós, não costumamos nos colocar em caixinhas.

Nick: E se você perguntar para outras bandas como eles se sentem sobre gêneros, é possível que a resposta seja a mesma. Por exemplo, muitas bandas que você citou estão agora fazendo o segundo álbum ou terceiro, e tem sons completamente diferentes do primeiro álbum.

Tom: E isso é muito legal, porque significa que elas cresceram e agora podem explorar novos campos. Um exemplo disso é o show do Black Midi – não é nada punk! Na verdade tem muitas referências de musicais; eu sinto que estou vendo um musical.

MS: Após as músicas mais experimentais do Swampy (último EP), como “Sombre Two “(mais reverb, instrumental, experimental) E” hot penny day REMIX” (instrumentais diferentes, mais sintetizados), vocês planejam experimentar mais com novos estilos musicais, como a eletrônica?

Tom: A verdade é que não planejamos nada. Uma coisa que resume bem o Dry Cleaning é que todos nós gostamos muito de diferentes tipos de música, então mesmo se tocamos algo que eu não costumo ouvir, acho que todos nós vamos seguir naquela direção e vice-versa.

Florence: Mas não descartamos nada, na verdade. Acho que somos muito curiosos.

Nick: E sempre há espaço para novos experimentos. Na verdade, quando lançamos New Long Leg, tínhamos a mesma ideia de lançar um EP de remixes, mas acabou não acontecendo. Com Swampy, sentimos algo muito legal em poder ‘ceder’ nossas músicas e ver o que artistas que admiramos muito faziam com elas. É uma troca incrível poder fazer isso.