Paramore tem muitos motivos para não sair de casa: a opinião não-solicitada dos internautas, o cenário apocalíptico mostrado no noticiário, homens indignos que executam façanhas e saem ilesos. Esses são alguns dos temas abordados em This Is Why (2023).

O sexto álbum de estúdio do grupo repete a formação do After Laughter (2017), trazendo Hayley Williams nos vocais, Taylor York na guitarra e Zac Farro na bateria. Durante os últimos seis anos, a amizade do trio parece ter se fortalecido ainda mais, especialmente com o início de um relacionamento romântico entre Williams e York (para a alegria dos fãs de longa data).

Se a visão de mundo do Paramore era pessimista em 2017, a chegada de uma pandemia devastadora e o início de uma guerra no Leste Europeu não ajudou a levantar os ânimos. Os dois anos de isolamento tiveram seus efeitos em Hayley Williams, que despejou suas angústias em dois álbuns solo antes de tentar um novo esforço conjunto com seus colegas de banda. Quando o trio se reuniu, as feridas a serem compartilhadas eram outras – mas sangravam do mesmo jeito.

This Is Why representa mais um trabalho do Paramore no terreno do rock alternativo, buscando influências do indie rock e art rock sem explorar muito a fundo as possibilidades destes gêneros. Hoje mais velhos e mais maduros, os integrantes expressam suas frustrações não através do arranhado barulhento das guitarras, mas dentro de uma sonoridade mais contida e elaborada. Como bem exemplificou Hayley Williams na faixa solo “Simmer”: “A raiva é uma coisa silenciosa”.

Tematicamente, o álbum explora o caos encontrado no mundo atual mesclado à bagunça interna dos próprios integrantes e suas dúvidas, incertezas e questionamentos. Os motivos oferecidos por Williams para não sair de casa se referem tanto à vida porta afora quanto à desordem interior de cada indivíduo – é difícil socializar quando as coisas não estão muito bem do lado de dentro. Ironicamente, é com esse projeto que a banda retorna aos palcos e sai novamente em turnê mundial. E o mundo estava sedento por eles.

Alternando entre momentos de agitação e introspecção reflexiva, This Is Why traz baladas como “Big Man, Little Dignity” e a excelente “Liar”, mas também acena para feitos do passado. Os que sentem falta da rebeldia agressiva de sucessos como “Ignorance” podem encontrar ecos dessa revolta e inconformidade em “The News”. “You First” e “Figure 8” também trazem referências que remetem aos tempos do Riot!, ainda que sem a mesma energia explosiva.

Nas novas composições, Hayley Williams expõe mais da vulnerabilidade que foi explorada em seus álbuns solo e se tornou seu ponto forte enquanto artista. A já mencionada “Liar” é uma confissão sensível de seus sentimentos por Taylor York, que foi um amigo durante muitos anos antes de se tornar parceiro. “Running Out Of Time” e “Crave” permitem uma espiada no cotidiano da cantora e no que se passa em sua mente, detalhando a dificuldade em cumprir compromissos e aproveitar o momento presente.

“Thick Skull” é um encerramento que acena diretamente para a última faixa do Flowers for Vases / descansos (2021). Assim como em “Just A Lover”, a canção se inicia de maneira quieta, com vocais quase sussurrados de Hayley Williams, para depois crescer e ganhar um tipo de força contida, encerrando apenas com a voz da cantora e o silêncio. É mais uma reflexão de Hayley sobre seu passado e as lições não aprendidas que parecem sempre se repetir.

Distanciando-se das experimentações do After Laughter (2017), This Is Why entrega o simples, mas não o esperado do Paramore. Surpreendente em sua estrutura e no tom mais brando do instrumental, o álbum mostra uma faceta não exatamente nova da banda, porém mais madura e diferente da rebeldia juvenil dos primeiros discos. Não é o comeback que muitos esperavam e nem o mais empolgante, mas para Hayley Williams isso não faz diferença. Como ela mesma deixou bastante claro em “This Is Why”: “Ou você está com a gente ou pode ficar na sua.”